O jornalista que nunca se curvou ao autoritarismo
por André Moreau*
José Louzeiro (São Luís do Maranhão, 19 de setembro de 1932 – Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 2017), criador do gênero literário “Romance Reportagem” no Brasil, partiu antes do combinado.
O repórter JL como preferia ser chamado, é autor de reportagens que mexeram com os interesses escusos de certos figurões que maltratavam os mais pobres, que o perseguiram e quiseram matá-lo.
Chegou ao Rio, em 1954 e trabalhou em “O Jornal” e “Diários Associados”, onde brilhavam Danton Jobim e Pompeu de Souza. Ingressou no Jornal “Última Hora”, pelas mãos do jornalista Pinheiro Júnior que após ler o livro de contos, “Depois da Luta” (1958), defendeu junto a Samuel Wainer a sua contratação, tendo se tornado um dos seus melhores amigos.
“(…) José Louzeiro foi um irmão que eu tive no jornalismo. Um companheiro de ideais. Fortes e sinceros ideais. Pena que tenha partido assim tão cedo porque Louzeiro é daqueles que não morrem nunca. Parece uma contradição. E é. Vamos tê-lo sempre presente onde quer que tenhamos que lutar por direitos” (Pinheiro JR).
JL é autor do livro “Araceli Meu Amor”, que revelou os contornos bárbaros da morte daquela menina de apenas 8 anos, retirado de circulação pela censura, por envolver pessoas poderosas.
JL morou na Casa do Estudante do Brasil, onde escreveu a novela: “Acusados de homicídio”, obra que originou três pequenos contos, todos premiados em um concurso realizado na “Tribuna da Imprensa”. Escreveu artigos e fez reportagens em defesa dos índios, negros e operários, alguns publicados em parceria com os jornalistas Arthur Poerner, Sylvan Paezzo, Luciano Alfredo Barcellos, Edson Braga, Agostinho Seixas e prefácio de Carlos Heitor Cony, no livro “Assim Marcha a Família” que lhe valeu um inquérito junto a Polícia Militar, o famigerado IPM. A obra foi lançada pelo Comunista Ênio Silveira pela Civilização Brasileira.
José Louzeiro foi preso, na ditadura empresarial militar iniciada em 1º de abril de 1964, em diferentes momentos. Um deles com originais do Jornal do PCB debaixo da camisa, com Carlos Heitor Cony. Se o policial não tivesse batido em sua barriga, quando ia liberá-los, não teria encontrado o material.
Em plena ditadura JL ousou revelar detalhes sobre o envolvimento de policiais no fornecimento de armas, para assaltos, fato denunciado no livro “Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia”.
Os diretos autorais desta obra foram doados para o Partido Comunista Brasileiro, visando ajudar o PCB na sobrevivência em momentos tão difíceis para todos.
JL levou a experiência do romance reportagem, ao cinema e à TV. Assinou a autoria de filmes e novelas sobre o trágico mundo em que vivemos nos anos de chumbo como, por exemplo: “Os Amores da Pantera”; “Pixote – a Lei dos mais Fracos”; “Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia”; “Fruto do Amor”; “Parceiros da Aventura”; “Amor Bandido”; “O Caso Cláudia”; “O Seqüestro” e; “O Homem da Capa Preta”.
Na TV escreveu os roteiros de “Corpo Santo” (prêmio de melhor novela e melhor autor, concedido pela Associação dos Críticos de Arte de São Paulo”) e “Olho por Olho”, dentre outras novelas e mini-séries.
JL se afastou da Rede Globo de Televisão, em função das advertências, para diminuir o tamanho de núcleos compostos por pessoas negras, o que atrapalhava, segundo José Bonifácio, a manutenção de anunciantes como os da Margarina Cleybom.
JL assumiu a presidência do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro depois da gestão do Comunista e Filólogo, Antônio Houaiss, com a idéia de lançar o “Jornal do Escritor”, com o qual deu corpo à proposta de mobilizar e tornar expressiva a classe dos escritores, inclusive autores da marginalizada literatura de cordel.
JL desencadeou em 2016 a marcha dos “Jornalistas contra o golpe”, através do IDEA, no qual Louzeiro foi o Coordenador de Roteiros (Programa de TV transmitido pela Unitevê, Canal Universitário de Niterói, com sede na UFF), visando contribuir com a restauração da democracia atingida pelo impeachment, sem mérito, da “(…) valente Presidenta Dilma Rousseff (…)”, como grafou em um dos seus últimos textos, ao lado dos companheiros Solange Rodrigues, Lygia Jobim, Hélio dos Santos, Mário Augusto Jakobskind, Rucdy Cabreira e de seu filho André Moreau.
José Louzeiro encabeçou com Mário Augusto Jakobskind, a Chapa Villa-Lobos que apesar de ter sido inscrita junto a ABI pelo Camarada Carlos Newton, então Presidente da Comissão Eleitoral da Associação Brasileira de Imprensa 2016/2019, foi impedida, arbitrariamente, pelo atual ocupante da presidência, de concorrer à diretoria.
Para o Historiador, General do Exército Brasileiro e Comunista, Nelson Werneck Sodré, autor da bíblia dos jornalistas “História da Imprensa no Brasil”, os trabalhos de José Louzeiro, “(…) alcançaram grande repercussão e encontraram grande público. O faro jornalístico e a sua maneira fácil de escrever encontraram um campo extenso e nele se exercitaram. A atividade jornalística deu ao autor tudo o que de melhor ela poderia proporcionar”.
José Louzeiro faleceu ao lado de sua filha Luciane Louzeiro, com quem passou a residir nos últimos anos, decepcionado com o covarde retrocesso social que vem levando o povo brasileiro à “miséria extrema”.
José Louzeiro, Presente!
*André Moreau, é filho de José Louzeiro. Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos “D” Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA), Diretor do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê – Canal Universitário de Niterói e Coordenador da Chapa Villa-Lobos – ABI – Associação Brasileira de imprensa, arbitrariamente impedida de concorrer à direção nas eleições de 2016/2019.