118 anos de Gregório Bezerra, o homem “feito de ferro e flor”
Ele nasceu em 13 de março de 1900. Encantou-se em outubro de 1983. Continua até hoje nos esperançando, nos inspirando a luta e a construir o Poder Popular e o Socialismo. Como dizia o poeta Ferreira Gullar: “Feito de ferro e flor”.
Texto originalmente publicado em 2013 no Blog do camarada Roberto Arrais
Alguns escritores e poetas definiram a questão da morte relacionada com as pessoas que lideram e lutam por causas justas e coletivas de uma forma muito especial. O poeta e escritor Guimarães Rosa disse que pessoas assim, de fibra, “não morrem, elas se encantam”; para os índios, segundo Antônio Callado disse no Quarup, as pessoas que têm essas características “nunca morrem, pois o seu pensamento entra em outras cabeças”.
Gregório Bezerra nasceu no início do século XX, em 13 de março de 1900, no Município de Panelas. Sofreu todas as dificuldades para sobreviver na infância, começando a trabalhar com 4 anos de idade, ficou órfão aos 6 anos, trabalhou como doméstico aos 10 anos em Recife, carregou frete, foi vendedor de jornais, mesmo sendo analfabeto até os 25 anos. Foi preso quando era ajudante de pedreiro porque apoiava a luta dos trabalhadores da construção civil, quando tinha apenas 16 anos, e cumpriu quase cinco anos de prisão, na Casa de Detenção do Recife. Não desistiu diante de tudo que enfrentou e que sofreu.
Foi para o exército, viajou para o Rio de Janeiro, aprendeu a ler e a escrever, fez curso de sargento, foi um dos mais destacados do País, andou pelo Brasil e depois veio servir em Pernambuco, como sargento instrutor de educação física e de tiro ao alvo.
Nos anos de 1930 começou a ter contato com o Partido Comunista (PCB) através de trabalhadores que viajavam com ele de trem, pela literatura dos jornais e livros que destacavam a luta pelo socialismo no Brasil e no mundo.
Em 1935 participou do levante armado contra o fascismo que assolava o mundo e se espalhava pelo Brasil, participando da Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento liderado por Luiz Carlos Prestes, denominado de o Cavaleiro da Esperança. Ficou preso dez anos e só saiu com a Anistia em 1945. Foi eleito deputado federal constituinte, sendo o segundo mais votado de Pernambuco, se integrando a uma das mais expressivas e combativas bancadas da história do parlamento brasileiro, que foi a bancada comunista liderada pelo senador Luiz Carlos Prestes.
Teve cassado seu mandato com nova prisão em 1947. Foi solto, seguiu para a clandestinidade pelos diversos estados da federação, participando de lutas camponesas pela reforma agrária e nos comitês pela paz mundial.
Em 1957, nova prisão; solto, voltou para Pernambuco e participou das campanhas de Cid Sampaio para Governador, de Miguel Arraes para Prefeito e para Governador e de Pelópidas Silveira para Prefeito. Desenvolveu um grandioso trabalho de articulação e organização dos camponeses na fundação dos sindicatos de trabalhadores rurais da zona canavieira de Pernambuco e do Partido Comunista Brasileiro, o PCB.
Em 1964 Gregório foi arrastado com três cordas no pescoço, depois de ter sido submetido a todo tipo de violência e tortura, pelas ruas do Recife, numa das cenas mais hediondas do século XX. Mas não se deu por vencido e continuou lutando pelo soerguimento do PCB, mesmo dentro da prisão, novamente na Casa de Detenção do Recife, hoje transformada na Casa da Cultura. Foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador americano em 1969. Seguiu para o exílio na União Soviética e voltou em 1979, através de nova anistia.
Voltou com 79 anos, mas continuou sua luta, já trazendo na bagagem seu livro de memórias, publicado, à época, em dois volumes, e seguindo sua vida política, agora como membro do Comitê Central do PCB.
Acompanhou Prestes em sua Carta aos Comunistas, participando ativamente da luta pela “Reconstrução Revolucionária do Partido”, apoiando a convocação para “Tomar o Partido em suas mãos”, através das bases, andando pelo País, e especialmente pelo Nordeste, na organização dos “Comitês de Defesa do Partido”.
Gregório Bezerra foi sintetizado pelo poeta Ferreira Gullar, como um homem “Feito de Ferro e de Flor”, porque, mesmo diante de todos os problemas, da fome, do analfabetismo na juventude, das diversas prisões, da moradia nas ruas, da clandestinidade, em nenhum momento ele se lamentava, muito pelo contrário, estava sempre de bom humor, disposto a participar dos eventos, da reconstrução revolucionária do Partido, da conquista de novos quadros, corroborando com a força da luta por um ideal revolucionário e socialista, pelo fortalecimento das lutas do povo, pela defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes como prioridade absoluta, tendo a coragem de enfrentar sempre os desafios impostos pelo sistema capitalista, com ética, honestidade, firmeza, e, tudo isso, com muita ternura e carinho com todas as pessoas que estavam presentes em seus caminhos.
Por tudo isso, Gregório “não morreu, se encantou”, como dizia o poeta Guimarães Rosa, se encantou nas lutas dos trabalhadores rurais, dos movimentos sociais de luta pela terra, nas crianças abandonadas pelas ruas, nas pessoas que são exploradas e esmagadas em seus direitos. Como também, Gregório não morreu, como diziam os índios no Quarup de Antonio Callado, porque figuras da dimensão heroica dele, continuam povoando “as cabeças das pessoas com seus pensamentos” de esperança e luta de construir um outro mundo, um outro modo de vida onde as riquezas, a ciência e tudo que se produza possa ser compartilhado com todos.
Gregório Bezerra, Presente!
Divulgamos abaixo entrevista histórica realizada com Gregório Bezerra no ano de 1976, quando completava 76 anos, ainda no exílio. Trata-se de documentário produzido por Luiz Alberto Sanz, Lars Safstrom, Leonardo Cespedes e Staffan Lindqvist. Nesta parte da entrevista o bravo dirigente comunista, que foi um dos primeiros presos políticos do regime ditatorial instalado em 1964 e barbaramente torturado, lembra das lutas travadas pelos camponeses e trabalhadores rurais nos anos de 1960, muitos dos quais militantes comunistas, e do momento do golpe, em que, segundo ele, havia homens dispostos a resistir com armas ao assalto fascista em Pernambuco.
Assista a entrevista na íntegra: