Ana Montenegro, PRESENTE!
Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
Há 12 anos calava-se uma voz carregada historicamente de luta e perseguição política, morre por causas naturais Ana Montenegro, aos seus 90 anos – 30 de março de 2006 -.
Militante comunista, viveu no século XX uma história intensa de luta contra a sociedade de classes, a favor da Democracia, do direito das mulheres, do povo e das terras.
Co-fundadora do periódico “Movimento Feminino” participou da União Democrática de Mulheres da Bahia, Comitê Feminino pró Democracia, Liga Feminina da Guanabara e a Federação Brasileira de Mulheres.
Mesmo sendo a primeira mulher exilada, continuou sua trajetória política. Durante o exílio tornou-se membro da comissão da América Latina pela Federação Democrática Internacional de Mulheres, assim como trabalhou em organismos internacionais, como a UNO e a UNESCO.
Defensora árdua dos Direitos Humanos, Ana Montenegro foi também assessora da Ordem dos Advogados e em 2005 foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.
Já próximo a sua morte ainda se fazia presente na luta, afirmando: “Que sua luta continua, por pão, terra e trabalho, sendo que um país que tem isso tem liberdade”.
Em sua homenagem, reconhecendo a guerreira que Ana foi, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) fundam o *Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.*
Reproduzimos abaixo o texto sobre Ana Montenegro que foi publicado na Agenda da Mulheres, lançada no ano de 2016 pela Fundação Dinarco Reis/PCB:
Ana Montenegro colaborou para vários veículos da imprensa comunista, a exemplo do jornal Momento Feminino, para o qual, em janeiro de 1948, escreveu a poesia “O Milagre das Mãos”:
Minhas mãos estão escuras como as mãos dos caboclos
Dos caboclos que cortam a árvore da borracha
Dos bravos jangadeiros dos mares nordestinos
Dos que colhem algodão, dos que apanham café
Dos que entregam a colheita para o senhor que explora.
Minhas mãos estão morenas como as mãos dos caboclos
Que lidam com os saveiros, nas noites de tormenta
E levam flores, perfumes e enfeites
Para os longos cabelos da bela Iemanjá.Minhas mãos pequeninas e desamparadas
Floresceram no milagre do amor
Multiplicaram-se no milagre da luta.
Nascida em Quixeramobim (CE), aos 15 de abril de 1915, Ana Lima Carmo – seu nome verdadeiro – que dizia ser cearense de nascimento, carioca de coração e baiana por escolha, despediu-se da vida no dia 30 de março de 2006, em Salvador, deixando um legado que jamais será esquecido. Em sua homenagem, no mesmo ano, foi criado o Coletivo de Mulheres Ana Montenegro, do Partido Comunista Brasileiro, hoje conhecido como Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.
Ana Montenegro destacou-se pelo intenso trabalho jornalístico exercido, que fazia questão de demonstrar como de militância política. Sua atuação na luta contra a ditadura do Estado Novo a levou, em 1945, a entrar no PCB, após sua ficha de filiação ter sido assinada pelo histórico dirigente comunista Carlos Marighela, com o qual manteria fortes relações de amizade e confiança por toda a vida.
Entre os anos de 1945 e 1964, Ana Montenegro atuou na imprensa comunista, publicando artigos nos jornais O Momento, Classe Operária, Tribuna Popular, Correio da Manhã, Imprensa Popular, Novos Rumos, entre outros, ajudando a fundar o jornal Momento Feminino e participando da produção daquela que foi considerada uma das primeiras revistas comunistas do país, Seiva.
Destacou-se, também, na militância sobre a questão das mulheres, participando da União Democrática de Mulheres da Bahia, Comitê Feminino pró Democracia, Liga Feminina da Guanabara e Federação Brasileira de Mulheres e, posteriormente, devido ao exílio político que lhe foi imposto pela Ditadura Civil-Militar Brasileira, da seção para América Latina da Federação Democrática Internacional de Mulheres(FDIM), trabalhando na revista Mulheres do Mundo Inteiro, editado pela Federação.
Ainda sobre seu exílio político e militância internacionalista, Ana Montenegro foi a primeira mulher exilada pela ditadura brasileira, tendo sido abrigada pela Embaixada do México, seguindo, posteriormente, para tal país, passando por Cuba e dirigindo-se para Berlim, na Alemanha, onde, para além de seu trabalho na FDIM, atuou na ONU e na UNESCO nos espaços em que as questões da mulher, da luta de classes e da emancipação humana eram pautadas, sempre em consonância com as diretrizes do PCB.
Em 1979, quando foi aprovada a Anistia, Ana volta para o Brasil e, entre 1979 e 1985, ainda sob a égide da ditadura, intensifica sua militância política nas lutas feministas, populares, de defesa dos direitos humanos e contra o desmantelamento do Partidão, que vinha sendo dirigido por um grupo que, gradativamente, rompia com a tradição de luta de classes do Partido. Foi uma das principais lideranças do Movimento em Defesa do PCB, vitorioso no enfrentamento aos liquidacionistas.
Esta valorosa mulher aprofundou os estudos sobre a questão de gênero e publicou livros como Mulheres – participação nas lutas populares, Uma história de lutas, Ser ou não ser feminista e Tempos de Exílio.
Atuou, ainda, no Fórum de Mulheres de Salvador, no Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres (1985/1989) e na Comissão de Direitos Humanos da OAB, em Salvador. Recebeu homenagens em um congresso nacional da OAB e demais instituições nacionais, além de ter sido indicada ao prêmio Nobel da Paz.