A luta das mulheres negras na América Latina e no Caribe

Texto publicado na Agenda 2021 da Fundação Dinarco Reis

25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A data nasceu com o propósito de estimular a reflexão sobre o papel das mulheres negras da América Latina e do Caribe, em julho de 1992, no Primeiro Encontro de Mulheres Negras da América Latina e Caribe, em Santo Domingo, na República Dominicana, que contou com a presença de representantes de cerca de 70 países. A partir desse encontro, nasceu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas.

É uma data em que as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais refletem e fortalecem as organizações voltadas às mulheres negras e suas diversas lutas. No Brasil, em 2014, foi instituído, na mesma data, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando um símbolo da resistência, destacada liderança na luta contra a escravidão,

A população negra no Brasil corresponde a mais de 50% da população. São as pessoas que mais sofrem com a pobreza em nosso país. Além disso, é muito maior o impacto do machismo sobre as mulheres negras, que têm suas vidas e corpos mercantilizados, os salários mais rebaixados e suas vidas tornadas invisíveis ao longo dos processos históricos. É muito mais difícil ser mulher negra trabalhadora numa sociedade capitalista construída a partir do patriarcado, do racismo e da opressão da classe burguesa sobre o proletariado.

Apresentamos abaixo 10 figuras históricas de mulheres negras que se destacaram em revoltas populares, nas lutas políticas e na cultura de seus países.

Tereza de Benguela (Brasil)
Nascida no século XVIII, liderou o Quilombo Quariterê, nas proximidades de Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital de Mato Grosso. Conhecida como “Rainha Tereza”, ela chefiou a comunidade formada por cerca de cem pessoas, entre negros e indígenas, entre 1750 e 1770. Responsável pela estrutura administrativa, econômica e política da comunidade, a líder quilombola promoveu o crescimento militar e econômico do grupo após a morte de seu companheiro, José Piolho, morto por bandeirantes. Ainda hoje há divergências sobre sua morte: alguns historiadores falam que ela foi morta por soldados do governo local e outros defendem que ela se suicidou por rejeitar viver sob a escravidão.

María Remedios del Valle (Argentina)
Nascida em 1776, foi militar combatente na Guerra da Independência da Argentina. Considerada a “mãe da Pátria”, foi capitã em distintas batalhas históricas no exército do General Manuel Belgrano (considerado o “pai da Pátria”). Faleceu em 8 de novembro de 1847. Em memória à sua morte, estabeleceu-se em 2013 o dia 8 de novembro como “Dia dos Afro-argentinos”.

Sanité Bélair (Suzanne Bélair – Haiti)
Nascida livre em 1781, Suzanne Bélair é considerada uma das heroínas da Revolução Haitiana (1791 – 1804). Apelidada por amigos de “Sanité”, Bélair foi sargenta e depois tenente das tropas de Toussaint Louverture, que puseram fim ao regime escravista no Haiti, participou dos combates de 1802, na cadeia montanhosa Matheux, no centro do país, contra a expedição napoleônica composta por mais de 20 mil homens enviada para reestabelecer a escravidão na colônia. Foi fuzilada em outubro de 1802.

Martina Carrillo (Equador)
Martina Carrillo foi uma das líderes das revoltas de negros escravizados no Vale do rio Chota e do rio Mira, território marcado pelas comunidades afrodescendentes no Norte do Equador. Carrillo trabalhava na Fazenda Concepción, de onde fugiu com outros cinco escravizados, em 1778, e foi até Quito para denunciar abusos e maus tratos do administrador da fazenda, tais como quantidade insuficiente de comida, castigos físicos rigorosos e injustificados. As reivindicações foram atendidas, mas, antes disso, Martina Carillo recebeu 300 chicotadas quando voltou para a fazenda.

Solitude (Guadalupe)
Provavelmente nascida em 1772, Solitude foi uma das líderes da resistência ao regime escravista na ilha de Guadalupe. Nascida escravizada, conquistou a liberdade em 1794, na primeira abolição da escravidão nas colônias francesas. Passou a integrar uma comunidade maroon – africanos escravizados que conseguiam escapar dos captores espanhóis e formavam grupos autônomos. Grávida de alguns meses, integrou as tropas que combateram a tentativa reestabelecer a escravidão e envia batalhões para as colônias francesas no Caribe. Foi presa e condenada à morte, tendo sido enforcada em 29 de novembro de 1802, um dia depois do nascimento do filho.

María Elena Moyano (Peru)
Nascida em 1958, atuou contra a pobreza e pelos direitos das mulheres no Peru e foi opositora do Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro com inspiração maoísta surgido nos anos 1960. Conhecida como “Mãe Coragem”, participou de diferentes organizações de mulheres. Foi assassinada aos 33 anos de idade.

Argelia Laya (Venezuela)
Liderou o sindicato de professores nos anos 1950, integrou o Partido Comunista da Venezuela, dirigiu as Forças Armadas de Liberação Nacional (FALN) e esteve na guerrilha venezuelana nos anos 60 sob o nome de “Comandante Jacinta”. Ajudou a fundar o Movimento pelo Socialismo (MAS), em 1971, partido que presidiu posteriormente e pelo qual se tornou parlamentar pelo estado de Miranda, no norte do país.

Virginia Brindis de Salas (Uruguai)
Nascida em Montevidéu em 1908, é considerada a principal poeta afrouruguaia. Poeta autora de “Pregón de Marimorena” (1946) e “Cien cárceles de amor” (1949), foi a primeira mulher negra a publicar um livro na América Latina. Participou do Círculo de Intelectuais, Artistas, Jornalistas e Escritores Negros do Uruguai, associação que buscava valorizar a cultura afro-uruguaia.

Sara Gomez (Cuba)
Primeira mulher a dirigir um longa-metragem em Cuba (“De Cierta Manera”, de 1974), Gómez foi uma cineasta revolucionária, preocupada em representar a comunidade afro-cubana, as questões femininas e a realidade das camadas marginalizadas da sociedade. Sua obra destacou as desigualdades de classe, bem como a discriminação racial e de gênero. Ela usou as lentes de sua câmera e o conhecimento etnográfico para narrar histórias sobre a vida cotidiana na Cuba revolucionária.