Futebol na Palestina: Gaza tem sua própria Copa do Mundo
Resumen Medio Oriente, 19 de junho de 2018
Um grupo de palestinos que lamentavelmente estão amputados tomaram a decisão de realizar sua própria Copa Mundial, para conscientizar o mundo sobre seus direitos reiteradamente violados por Israel.
Jogadores de futebol de Gaza com amputações, foto de Mohammed Asad.
Assim como no primeiro encontro da França com seu rival australiano na Copa do Mundo, o francês Antoine Griezmann marcou dois gols. Porém, não em algum estádio russo, mas sim a uns 750 metros da cerca de arame farpado entre Israel e Gaza.
O verdadeiro Rubzmann esteve representado por sua camisa azul número 7, vestida por Rami Jendia, de 25 anos, que jogou para um clube desportivo de Gaza numa partida que simulou a Copa do Mundo, celebrada em “Malaka”, base dos grandes protestos da Grande Marcha do Retorno em Gaza. Da simulação participaram 14 jogadores que perderam suas pernas por causa dos ataques de israel durante as marchas semanais que começaram em 31 de março ou por ocasião das três ofensivas militares em Gaza durante a última década.
Jendia, o anotador de gols. Foto de Mohammed Asad.
Jogadores de futebol com apenas uma perna em Gaza . Foto de Mohammed Asad.
Os jogadores da equipe da simulação usaram camisetas de vários países que participam dos Campeonatos do Mundo. Não puderam comprar camisetas francesas nem australianas porque não estavam disponíveis nas lojas de equipamento esportivo na bloqueada Faixa de Gaza.
O jogo durou apenas um sexto da duração de uma partida real, devido ao desgaste dos jogadores que se viram obrigados a saltar sobre um pé todo o tempo do jogo. Tudo começou 13 horas depois do jejum contínuo no último dia do mês sagrado do Ramadã.
Hamza Sersawi, de 23 anos, que simbolizou a estrela do Manchester City, Leroy Sane, preferiu jogar como goleiro, apesar de sofrer paralisia do lado esquerdo do corpo e ser incapaz de rechaçar as bolas de seu oponente.
“Há pessoas neste planeta que amam a vida e são amantes do esporte, e não estão temerosos de ser assassinados ou privados de sua liberdade”, comentou Sersawi, que representou a equipe nacional de atletismo palestino no ano de 2012, em Mondoweiss.
Hamza Sersawi no gol. Foto de Mohammed Asad.
Sersawi se lesionou duas vezes: uma por uma bala explosiva em seu pé esquerdo, e outra durante um bombardeio de artilharia em novembro de 2012 no bairro de Shejaiya, a um quilômetro do lugar da partida. Assinalou que os amputados “são seres humanos e gostam de assistir as partidos da Copa Mundial”.
O jogo, que terminou com um empate em dois gols, foi acompanhado pelos gritos dos jogadores exigindo passes de seus companheiros de equipe, assim como pelo choque de suas muletas de alumínio, que os jogadores utilizaram para chutar a bola, nos momentos em que não podiam mover seus pés.
Gaza tem três equipes especiais de futebol formadas por aqueles cujas pernas foram amputadas devido ao tiroteio israelense.
Jogadores de futebol de Gaza com amputações, foto de Mohammed Asad.
Dezenas de milhares de habitantes de Gaza geralmente se reúnem para ver as partidas da Copa do Mundo ou da Liga da Europa nos telões colocados nas praças públicas e cafés perto do mar. Os organizadores da partida reiteram que ninguém residente em Gaza poderia chegar aos estádios russos para a Copa do Mundo devido às restrições em suas viagens. Sair de Gaza até o Egito através da Passagem de Rafah é um processo inaudito, desgastante e laborioso para os palestinos. A passagem ao norte de Erez, a outra saída para os habitantes de Gaza, é administrada pelos israelenses, que impõem severas limitações à quantidade de pessoas que podem atravessá-la.
Durante a última Copa do Mundo, os jogadores de Gaza simularam uma partida entre Brasil e Croácia, propagando um lema que pedia o fim do cerco a Gaza.
Abdulsalam Haniya, membro do Conselho Superior para a Juventude e o Desporte em Gaza, explicou que este evento é uma pequena mensagem para todos os fanáticos por futebol de que há pessoas que estão isoladas no mundo, as quais também gostam de participar dos esportes e são parte de uma sociedade amante da vida.
“Esta partida representa a vontade dos jovens que buscam abordar os povos do mundo, que entenderam esta linguagem, o idioma do futebol, e assim promovem um impacto político capaz de mudar os mapas e as tendências das sociedades”, disse Haniya a Mondoweiss.
Antes da Copa, a Seleção Argentina cancelou uma partida amistosa contra a seleção de Israel em Jerusalém.
Em homenagem ao cancelamento, foi afixada uma imagem enorme de Lionel Messi na encruzilhada principal de Gaza, em que se podia ler: ”Gratidão a Argentina e Lionel Messi por cancelar o amistoso com Israel; vocês fizeram um gol pela liberdade”.
Sobre o autor: Ahmad Kabariti é um jornalista independente, com residência em Gaza.
Fonte: The World Cup on one leg on the Gaza border
Ahmad Kabariti, Mondoweiss
Tradução do espanhol: Partido Comunista Brasileiro (PCB)