O círculo

imagemJorge Cadima

ODIARIO.INFO

No 73º aniversário do criminoso bombardeio atômico a Hiroshima e Nagasaki pelo imperialismo norte-americano é oportuno desmascarar a persistente tentativa de inverter responsabilidades e ameaças. Os EUA, que há décadas usam armas químicas, biológicas, com urânio empobrecido e outras armas não convencionais contra quem não aceita submeter-se aos ditames imperialistas, acusam as suas vítimas de querer fazer o que eles próprios fazem.

Passam 73 anos de um dos maiores crimes da História: a obliteração nuclear das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki pelo imperialismo norte-americano. Perversamente, os mega serial killers atômicos dos EUA, que há décadas usam armas químicas, biológicas, com urânio empobrecido e outras armas não convencionais contra quem não aceita submeter-se aos ditames imperialistas, acusam as suas vítimas de querer fazer o que eles próprios fazem. A realidade é virada de pés para o ar e a propaganda é cada vez mais absurda, sem ponta de ligação com a realidade.

Segundo a propaganda do imperialismo e seus serventuários na comunicação social, o mundo estaria povoado de ‘ameaças’ e ‘ditadores sanguinários’. Mas todas as guerras do último quarto de século são obra dos EUA, da OTAN e o seu ‘pilar europeu’, a UE, ou do eterno aliado, Israel. As imagens de devastação nalgumas das cidades iraquianas ou sírias recordam as de Hiroshima, ou Pyongyang no final da Guerra da Coreia (1953). O Chefe de Estado Maior General dos EUA, Dunford, confessa que há hoje 300 000 soldados dos EUA em 177 países estrangeiros (www.jcs.mil, 23.7.18)! Mas há 193 países na ONU, logo resta trabalho por fazer. Rufam os tambores de guerra – e os gastos públicos, acompanhados dos lucros privados – contra a ‘recalcitrante’ quinzena de ‘novos Hitlers’ que não querem tropas dos EUA em sua casa.

Há muita histeria sobre a alegada ‘interferência russa’ nas eleições presidenciais dos EUA em 2016. Ironicamente, a revista norte-americana Time fez capa a 15 de Julho de 1996, logo após as eleições presidenciais russas, com um retrato de Boris Yeltsin de bandeirinha americana em punho, e o título: «Yankees ao resgate – A história secreta de como conselheiros americanos ajudaram Yeltsin a ganhar». Eram os tempos em que a História tinha acabado, e a vergonha também. Sem pudor, a Time falava de «várias sondagens falsas», de «publicidade negativa e todas as outras técnicas de campanha americanas». Não chegou a confessar a provável falsificação dos próprios resultados. O caso era sério: uns meses antes, «os resultados das eleições para a Duma, a Câmara Baixa do parlamento russo, foram um severo revés […]. Os comunistas e seus aliados estavam a caminho de controlar o órgão». E não é para isto que servem as eleições democrático-ocidentais. Se os povos insistem em afirmar a sua vontade, ignorando as «campanhas americanas», há outros mecanismos. Como a brutal violência fascista que assola hoje a Nicarágua – país que há menos de dois anos reelegeu o Presidente da Frente Sandinista com 72% dos votos – repetindo o método usado contra a Venezuela ‘recalcitrante’.

A barbárie tem escola. Segundo a agência Reuters (29.6.18), «os serviços secretos alemães reconheceram na passada sexta-feira que empregaram a filha do dirigente nazi Heinrich Himmler [chefe das SS e diretamente ligado aos campos de extermínio] nos anos 60, embora ela nunca tenha renegado o seu pai ou o nazismo, e tenha permanecido ativa no extremismo de direita». A CIA alemã (BND) teve como primeiro chefe, em 1956, o cabecilha da espionagem militar nazi na Europa de Leste, Reinhard Gehlen, que em 1945 – o ano de Hiroshima – prosseguiu a carreira trabalhando para os EUA. Tal como milhares de outros nazistas. O círculo fechou-se, para continuar a girar.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2332, 8.08.2018

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