A cara da burguesia
Afonso Costa*
No mesmo dia que os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovaram aumentar os seus próprios salários para R$ 39 mil mensais, são divulgados dados sobre as mortes violentas no país: 63.880 assassinatos em 2017, uma verdadeira guerra contra a população pobre, particularmente os jovens negros.
Ano passado também foram registrados mais de 60 mil casos de estupros e 82 mil desaparecimentos. A vida dos seres humanos não tem mais valor neste país.
É um escárnio um aumento desses do STF comparado com um salário mínimo de R$ 954, com previsão de reajuste em 2019 para R$ 998. Segundo o Diesse, em junho deste ano o salário mínimo deveria ser de R$ 3.804,06, isto é 3,9 vezes maior que o atual.
Enquanto isso, os quatro maiores bancos – Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander – lucraram R$ 16,8 bilhões no segundo trimestre deste ano, um aumento de 17% em relação ao mesmo período do ano passado.
O Brasil vive uma brutal concentração de renda, na qual apenas seis famílias têm o mesmo que 100 milhões de pessoas. Para isso serve o chamado ajuste fiscal, termo pomposo que em verdade significa apenas lucro para o capital em detrimento dos trabalhadores e do restante da população.
O aumento da concentração de capital também se dá no campo. Pesquisa recente do IBGE mostra que os estabelecimentos com mais de mil hectares controlam 47,5% das terras, enquanto os estabelecimentos com até 10 hectares – a maioria – ocupam somente 2,3% da terra. E são justamente os pequenos produtores que põem comida nas nossas mesas.
A concentração fundiária responde pelo maior consumo de agrotóxicos do mundo, ameaçando incrementar sua utilização através do Pacote do Veneno (PL 6299/2002), já aprovado em Comissão Especial da Câmara dos Deputados. A preocupação do agronegócio é apenas exportar mais, dane-se a população. O envenenamento é tão gritante, que descobriram no Piauí, um dos estados mais pobres ou o mais pobre da Federação, agrotóxicos no leite materno.
O mal que a burguesia vem fazendo no e ao Brasil, agravado no governo golpista, também ocorre em vários países. Argentina, Chile, Peru, Colômbia, México, Espanha, Itália, Grécia etc. adotaram e vem adotando medidas semelhantes, como a reforma trabalhista, as privatizações, isenções fiscais para o capital, aumento da repressão etc. O resultado é o mesmo: desemprego, perda de direitos, arrocho salarial, aumento da dívida pública, concentração de renda, maiores benesses para o capital.
O agravante, nesse quadro, é não existir saída de curto prazo. As eleições para presidente e governos estaduais, assim como os parlamentos, nos colocam mais do mesmo. Em debate em rede de televisão com oito candidatos à Presidência, sete são notoriamente conservadores, de direita, sendo um banqueiro, outro representante do partido que tradicionalmente representa o imperialismo e o mal maior, um fascista assumido.
Cabe ressaltar que o ex-presidente Lula não participou do debate devido a sua injusta e arbitrária prisão.
Infelizmente muitos ainda subestimam o fascismo. Esquecem de Hitler e Mussolini, ambos desprezados enquanto ameaça, mas que chegaram ao poder e fizeram o que fizeram, a maior mortandade da humanidade. O fascismo sempre é o principal inimigo, a arma mais cruel do imperialismo.
O imperialismo tem várias máscaras, não pode ser subestimado em hipótese nenhuma. Que o digam Hiroshima e Nagasaki, que na semana passada rememorou os 73 anos de centenas de milhares de assassinatos com as bombas atômicas.
A ofensiva do capital em nível internacional é fruto de uma crise sem precedentes, responsável por absurda concentração de renda e perdas consideráveis para os povos. Para manter esse status quo a burguesia fará de tudo, não importando os seres humanos, suas vidas, suas histórias, que o digam os palestinos, os mapuches, os etíopes e tantos povos massacrados.
Só há uma maneira de derrotar a burguesia: lutar e organizar, organizar e lutar.
Afonso Costa é jornalista e militante do PCB