Obama foi eleito para defender os interesses dos Estados Unidos
Nesse sentido, é natural que a eleição de um presidente negro num país racista desperte simpatia em todo o mundo. Nos Estados Unidos, com a possibilidade de derrotar o setor mais reacionário, belicista e parasitário do País, a eleição despertou enormes contingentes para a política e uma mobilização expressiva, especialmente dos jovens. O comparecimento às urnas, que variava desde a década de 70 até a última eleição entre 49% e 56%, desta vez aumentou para 64,1%, o maior índice de todos os tempos na história norte-americana. Era visível na população o desejo de mudança, mas também era claro que o sistema precisava de algo diferente para se legitimar, especialmente nestes tempos de crise.
Em todo o mundo, a grande maioria da opinião pública mundial, inclusive parte da esquerda, imagina que o novo presidente norte-americano representa uma mudança efetiva para os Estados Unidos e o mundo, fato que é estimulado pela euforia da mídia. Não está aqui em jogo a figura pessoal de Barack Obama ou suas convicções: o que as pessoas não devem se esquecer é que Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos para defender os interesses norte-americanos, é parte da institucionalidade bipartidária e do sistema imperial do grande capital e não terá liberdade para se contrapor aos interesses desse sistema.
Poderá realizar algumas mudanças tópicas internas; afinal, não é preciso fazer grande coisa para se diferenciar de um governo tão desastroso como o de Bush. Mas Obama manterá a essência do sistema imperialista. Vale lembrar que Obama fez a campanha mais cara da história dos EUA, gastando US$ 650 milhões, teve o apoio maciço das grandes corporações e da grande mídia norte-americana, sem o que não poderia ter arrecadado tanto dinheiro. Não terá liberdade para realizar um programa de mudanças e, com certeza, passada a euforia inicial, virá a decepção para o povo norte-americano e para todos os que hoje reproduzem a euforia da mídia.
É necessário enfatizar ainda que o staff da campanha do novo presidente é composto pela fina flor do sionismo e do capital financeiro, inclusive estes últimos responsáveis pela implantação das políticas monetaristas e neoliberais no passado, tais como Paul Volcker, ex-presidente do FED, nos anos Carter e Reagan; Jamie Dimon, presidente do Banco de Investimentos J. P. Morgan; Timothy Geithner, ex-gerente do FMI e presidente do FED de Nova York; Laurence Summers e Robert Rubin, ex-secretários do Tesouro de Clinton e, especialmente, Warren Buffett, o maior especulador do cassino financeiro mundial em bancarrota e Rahn Emanuel, futuro chefe da Casa Civil e sionista fundamentalista, que serviu no Exército e na Inteligência de Israel.
Só os ingênuos poderiam acreditar que com gente desse naipe haverá mudanças de fundo nos Estados e no mundo. Vale lembrar ainda que a cor da pessoa não quer dizer nada, em termos políticos. A principal figura do governo Bush é negra e ultradireitista, Condolezza Rice. Quem comandou a invasão ao Iraque e mentiu sobre as armas de destruição em massa era também um negro, o secretário de Defesa Colin Powell, que por sinal apoiou Obama nestas eleições. Além disso, a burguesia que explora os trabalhadores na África é quase toda negra. Portanto, não é a cor da pele ou a etnia que definem a posição política das pessoas.
O PCB acredita que não é hora de vender ilusões para os trabalhadores ou tentar mascarar a realidade: Obama não vai realizar um governo com os sindicatos, os movimentos sociais, com os negros, os latino-americanos ou com os oprimidos em geral. Ele foi eleito em circunstâncias muito especiais, quando o sistema necessitava de um político que desse a impressão de um capitalismo com rosto humano. Mas será obrigado a defender essencialmente os interesses do sistema que o elegeu. Deverá cumprir papel semelhante ao que o líder operário Lula está cumprindo no Brasil. Aliás, é importante para o sistema ter alguém, neste momento, com capacidade de conter a indignação popular e o movimento de massas que vai emergir da crise, uma vez que os republicanos estavam completamente desmoralizados.
O novo presidente dos Estados Unidos deverá seguir com a mesma postura que caracterizou o seu mandato como senador. O próprio programa eleitoral de Obama não se difere substancialmente dos republicanos, não apresenta propostas no sentido de uma reestruturação da economia norte-americana para servir ao povo. Em seus discursos, Obama sempre procurou se colocar acima das classes; sua bandeira é a “América” e todos os valores que vêm com ela. Para os ingênuos, nunca é tarde lembrar que o novo presidente norte-americano representa o negro da classe média integrado ao sistema, muito longe das tradições de um Malcom X ou Luther King.
Por último, vale lembrar que a condição de democrata não significa um mundo de paz para a comunidade internacional. A tradição democrata é belicista, desde Woodrow Wilson, que invadiu o México, Panamá, República Dominicana e Haiti. Truman lançou as bombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki e Kennedy invadiu Cuba. Lyndon Johnson ampliou a guerra do Vietnã, invadiu o Cambodja e o Laos. Bill Clinton, apesar de fazer o estilo simpático, criou o Plano Colômbia, invadiu a Iugoslávia e bombardeou várias vezes o Iraque e o próprio Obama apoiou a fascista “Lei Patriótica” do governo Bush. Todas essas atrocidades foram cometidas nos períodos de governos democratas. Quem garante que Obama não seguirá o mesmo caminho?
Para os comunistas, Obama venceu as eleições com expressiva votação, mas os trabalhadores dos Estados Unidos, representados pelos brancos, negros, latinos, asiáticos terão que lutar muito para conquistar suas reivindicações, pois as estruturas do sistema de poder continuarão brecando qualquer mudança de fundo na sociedade estadunidense. E os povos do mundo terão que continuar resistindo à agressividade do imperialismo, que pode inclusive recrudescer, com a crise do capitalismo.
Comissão Política Nacional novembro de 2008