Argentina: morrer por um teto, viver por justiça

imagemDavid Pike, Resumen Latinoamericano

No último dia 14, foi enterrado o corpo de Rodolfo Orellana, militante da OLP-CTEP (Organizações Livres do Povo – Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular) assassinado pela polícia de Buenos Aires. Familiares, amigos/as e companheiros/as velaram seu corpo em sua casa na Villa Celina, distrito de La Matanza, e logo partiram em caravana até o Cemitério Villegas de San Justo, onde foi enterrado.

Ronald, como era chamado por seus companheiros/as, saiy de sua casa na madrugada de 22 de novembro para, junto com outros moradore/as, ocupar um lugar em algumas terras descampadas, onde seriam construídas suas casas. O problema da moradia, seja na periferia urbana de Buenos Aires, seja no centro da Cidade de Buenos Aires, faz com que os alqueres de terra sejam caríssimos e, nos bairros humildes, pode ser pedida uma fortuna por um aposento. Comprar um terreno com título de propriedade é um sonho cada vez mais distante para os setores médios; para os/as humildes da pátria é impossível.

“Aquele que não tem com que viver não deve nem reconhecer nem respeitar a propriedade dos outros, já que os princípios do contrato social têm sido violados contra si”, reza uma frase do filósofo alemão Johann Fottlieb Fichte, anotada em um papel encontrado no escritório de Severino Di Giovanni, nos conta Osvaldo Bayer na biografia do anarquista. Mas não há necessidade de polemizar, não há que ler grandes livros, senão simplesmente um pequeno livro chamado Constituição Nacional para saber que o Estado deve garantir o acesso a uma habitação digna, como afirma o artigo 14.

Na manhã de 22/11, os meios populares que fornecem nossas fontes de informação rapidamente saíram a denunciar o crime à polícia, mas a resposta do Ministério da Segurança de Buenos Aires foi divulgar a versão de que havia sido um enfrentamento entre membros das ocupações. Os grandes meios de comunicação hegemônicos replicaram esta última versão, não porque sejam seus porta-vozes, mas porque defendem os mesmos interesses. A estratégia foi a mesma aplicada com Darío Santillan e Maxi Kosteki. Desta vez durou apenas 24 horas: no dia seguinte eles tiveram que relatar que não havia buraco resultante de um esfaqueamento no corpo de Ronald, como afirmou o Ministério de Ritondo, segundo um relatório médico, mas um buraco de bala de chumbo. Eles queriam ganhar tempo, instalar essa versão para amenizar a indignação social provocada pelo crime e em parte eles conseguiram. A mídia progressista decidiu esfriar a notícia. A lição é simples: a comunicação popular deve fazer parte da estratégia de libertação do povo, sem a qual não haverá transformação possível.

Após as três semanas em que eles levaram para entregar o corpo de Ronald, a responsabilidade por seu assassinato ainda está em andamento, sendo que o policial assassino continua solto nas ruas, armado, “cuidando de nós”. O “gatilho fácil”, a doutrina de Chocobar e o fantasma de dezembro foram os motivos subjacentes para a bala de chumbo que entrou nas costas de Ronald e saiu de seu rosto. Não foi um excesso, é uma política de Estado voltada para atacar os setores populares e garantir o ajuste selvagem que sustenta esse sistema de fome e exclusão. Ronald morreu por um teto, seus companheiros/as viverão para que haja justiça.

Argentina. Morir por un techo, vivir por justicia

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