A farsa da Abolição: teve rebeldia na luta pela liberdade

imagemColetivo Feminista Classista Ana Montenegro – Alagoas

Há 131 anos uma carta era assinada para formalizar o término de um período infernal que marcou a exploração e desumanização de trabalhadores pelo comércio negreiro e hoje, demarcando o aniversário da assinatura da Lei Áurea, amanhecemos com a notícia de que o barracão Abassá de Angola Oya Igbale, da Ialorixá Mãe Vera, localizado no bairro Eustáquio Gomes, foi brutalmente atacado. O 13 de maio comprova diariamente que foi uma condenação a segregação, a miséria, uma farsa forjada por um decreto que legalizaria o extermínio étnico.

O Brasil possui particularidades fruto do colonialismo, da formação sociohistórica e econômica nas Américas. Por ter sido o último país do mundo a abolir a escravidão, não por bondade da princesa branca que servia ao imperialismo – como comumente somos induzidas a aprender nas instituições escolares – mas sim pela pressão imposta pela maior potência política, econômica e militar da época, que já tinha feito sua Revolução Industrial com quase um século de antecedência, e precisava expandir seu mercado em regiões onde o meio de produção capitalista se dava pelo trabalho assalariado. Além das tensões causadas pela subversão da população negra, como as fugas, a formação de quilombos, a criação de lutas de defesa pessoal e coletiva, os assassinatos de senhores de engenho, a resistência ao assédio sexual e as torturas que caracterizaram mais de três séculos de luta daqueles que compuseram a primeira classe trabalhadora brasileira. Além de tudo, não houve política extensiva do Estado para integração dessa população na sociedade após 1888.

É necessário enfatizar que a segregação racial e social se deu em varias nuances. As práticas de religiosidade, por exemplo, emergiram em um contexto de escravização do povo que a praticava e se manteve fortemente viva nos morros, grotas e periferias. A religiosidade sempre se mostrou essencial na cultura africana e afrobrasileira. A crença em algo maior do que podemos explicar materialmente e que se fez fundamental em dar sentido na luta pela sobrevivência da população negra que era sistematicamente exterminada. A demonização social ao culto aos orixás ainda hoje carrega as marcas da intolerância étnico racial.

Nós, do Partido Comunista Brasileiro e do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro Alagoas, em respeito e memória ao nosso povo negro que bravamente lutou e que até hoje colhe as consequências da sociedade de classes, repudia os atos de racismo e intolerância religiosa.

Relembramos que a luta anticapitalista, por uma sociedade humanamente igualitária, é essencialmente anticolonial e antirracista.