Em defesa da educação, da saúde e da ciência

imagemAgentes comunitários de saúde, alunos e professores da Escola Politécnica se unem na mobilização contra os cortes orçamentários nas áreas sociais como parte da 4ª Semana do ACS

Katia Machado – EPSJV/Fiocruz

ACS de Manguinhos se reúnem contra o desmonte do SUS

Foto: Katia Machado

‘Pela valorização do trabalhador’ dá título à quarta edição da Semana do Agente Comunitário de Saúde (ACS), realizada anualmente pela Comissão dos Agentes Comunitários de Manguinhos (Comacs), bairro da zona norte do Rio de Janeiro. O evento, que tem o apoio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), começou no dia 1º e segue até o dia 9 de outubro, ocupando os vários espaços culturais e institucionais do bairro carioca. Neste ano, os debates giraram em torno dos cortes orçamentários que impactam especialmente a educação, a saúde e a ciência. O evento contou também com a participação, na construção de uma agenda de luta, do grêmio dos estudantes secundaristas e alunos do curso técnico em Agente Comunitário de Saúde (CTACS) da EPSJV/Fiocruz e de residentes do programa multiprofissional em Saúde da Família da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz).

Uma aula aberta do Curso de Qualificação em Saúde Mental da EPSJV/Fiocruz e, na sequência, um debate sobre a construção de um observatório sobre as violências na comunidade foram realizados na manhã do dia 2, na Escola Politécnica. Ainda pela manhã do dia 2, no Espaço Casa Viva, uma escola de música localizada em Manguinhos, foi realizada uma roda de conversa sobre o que chamaram de “ataques do Estado capitalista contra a juventude trabalhadora” que abordou o problema da precarização do SUS e da educação pública e denunciou a repressão policial que vem ocorrendo nas favelas do Rio.

‘É preciso resistir’

Na parte da tarde do mesmo dia, no auditório da EPSJV/Fiocruz, aconteceu a mesa de debate ‘É estudante junto com trabalhador – Resistências contra o desmonte do SUS e da educação pública’. O presidente do Sindicato dos ACS do Município do Rio de Janeiro (Sindacs-RJ), Ronaldo Moreira, lembrou que as lutas em defesa das duas áreas são indissociáveis. “Se não houver educação, não tem saúde. Sem saúde, a educação não avança”, resumiu. Ele destacou que se o curso técnico em ACS resiste até hoje é porque sempre existiram trabalhadores que respaldaram essa iniciativa. “Sabemos que sem nos politizarmos, seremos marionetes nas mãos de quem detém o poder”, completou.

A psicóloga e mestranda da EPSJV/Fiocruz, Sábata Rego, frisou a importância do agente comunitário para a política pública de saúde, ressaltando a necessidade de ampliar a atuação desses profissionais, incluindo o cuidado da saúde mental. “Vivemos um cenário de desemprego e de precarização do trabalho no país, que atinge várias categorias profissionais, entre elas – e especialmente – o ACS. Valorizar esse profissional implica ter consciência de que as lutas têm um ponto central: contra a mercantilização da vida, pela classe trabalhadora”, sublinhou.

O farmacêutico e residente do programa de residência multiprofissional em Saúde da Família da ENSP/Fiocruz, Rafael Tritany, reforçou: “É um desafio produzir saúde e cuidar da saúde quando muitos profissionais das equipes de Saúde da Família estão com salários atrasados, sem receber”. Ele lembrou que as clínicas da família do Rio estão sendo esvaziadas e, às vezes, fechadas; e os postos de trabalho, precarizados. “O Rio foi naturalizando as OSs [organizações sociais] como forma de contratação dos profissionais de saúde das clínicas da família e isso impacta a saúde dos trabalhadores, dificulta a organização desses profissionais”, observou. Para Rafael, duas perguntas precisam ser feitas nesse momento de desmonte da saúde e da educação públicas: “Que estratégia precisamos lançar mão para superar esse cenário?; E como envolver a população nessa luta?”. Em sua avaliação, é preciso ir para as ruas e usar da prática do trabalho do ACS, ou seja, estar em contato direto com a população.

A agente comunitária Ludmila Moura, moradora de Manguinhos, lembrou as várias experiências de resistência que acontecem na região, com o apoio dos ACS. “Ontem mesmo, fizemos uma atividade sobre as enchentes que atingem boa parte da comunidade. Isso é um ato de resistência”, afirmou. Ela citou também o Slam Manguinhos, que acontece sob a linha ferroviária. Trata-se de uma batalha de poesia falada que aborda temas da atualidade. “Esse é mais um exemplo de resistência e que traz para debate as questões de saúde de Manguinhos”, acrescentou.

Na programação da 4ª Semana do ACS, acontece também exibição de documentários, momentos de lazer e de cuidado com a saúde dos trabalhadores. No dia 4, em comemoração ao Dia Nacional do ACS, a Comacs prestará uma homenagem aos profissionais de Manguinhos que completam 15 anos na função. No dia 5, a Comissão organiza dois amistosos de futebol amador, feminino e masculino. Os jogos acontecem pela manhã, no Campo Esperança, na Vila Turismo. O último dia do evento (9/10) será dedicado aos cuidados dos ACS. Os profissionais poderão experimentar, das 8h30 às 12h, na ENSP/Fiocruz, momentos de yoga e de massoterapia.

http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/acontece-na-epsjv/uma-so-luta-em-defesa-da-educacao-da-saude-e-da-ciencia