1% possui 45% de toda riqueza pessoal global

imagempor Michael Roberts [*]

O relatório anual do Credit Suisse sobre riqueza global acaba de ser divulgado. Este relatório continua a ser a análise mais abrangente e explicativa da riqueza global (não do rendimento) e da desigualdade de riqueza. Todo ano o relatório sobre riqueza global do CS analisa a riqueza familiar de 5,1 bilhões de pessoas em todo o globo. A riqueza familiar é constituída de ativos financeiros (ações, títulos, cash, fundos de pensão) e de propriedade (casas, etc) possuída. O relatório mede esta riqueza líquida. Os autores do relatório são James Davies, Rodrigo Lluberas e Anthony Shorrocks. O professor Anthony Shorrocks foi meu companheiro de apartamento na universidade, onde ambos nos licenciamos em ciências econômicas (embora ele tenha muito melhores qualificações matemáticas!).

Durante o ano passado a riqueza global cresceu 2,6%, até US$ 360 trilhões (trillion) e a riqueza por adulto alcançou um novo recorde de US$ 70.850, 1,2% acima do nível de meados de 2018 com a Suíça no topo dos maiores ganhos em riqueza por adulto este ano. Os EUA, China e Europa contribuíram o máximo para o crescimento da riqueza global com US$ 3,8 trilhões; US$ 1,9 trilhões e US$ 1,1 trilhões respectivamente.

Como em todo ano desde que é publicado, o relatório revela a extrema desigualdade da riqueza pessoal em termos globais. A metade da base dos adultos no mundo contava com menos de 1% da riqueza global em meados de 2019, ao passo que o décimo mais rico (os 10% de adultos do topo) possuía 82% da riqueza global e o percentual do topo (1%) possuía aproximadamente a metade (45%) de todos os ativos familiares. A desigualdade de riqueza é mais reduzida no interior de países individuais: valores típicos seriam de 35% para a fatia dos 1% do topo e de 65% para a fatia dos 10% do topo. Mas estes níveis ainda são muito mais elevados do que os números correspondentes à desigualdade de rendimento, ou a qualquer outro indicador de bem estar de espectro amplo.

Se bem que avanços em mercados emergentes continuem a reduzir os fossos entre países, a desigualdade no interior de países cresceu quando as economias se recuperaram após a crise financeira global. Em consequência, os 1% do topo de possuidores de riqueza aumentaram a sua fatia da riqueza mundial. Mas esta tendência parece ter-se atenuado a partir de 2016, e a desigualdade global diminuiu ligeiramente. Considerando que em 2016 os 1% dos possuidores de riqueza do topo tinham 50% da riqueza pessoal do mundo, uma subida dos 45% de 2006, aquele percentual deslizou outra vez para 45%. Hoje, a fatia dos 90% da base representa 18% da riqueza global, a comparar com os 11% de 2000.

imagemA pirâmide de riqueza captura as diferenças de riqueza entre adultos. Em 2019 aproximadamente 3 mil milhões de adultos – 57% de todos os adultos do mundo – têm riqueza abaixo dos US$ 10.000. O segmento seguinte, cobrindo aqueles com riqueza na amplitude dos US$ 10.000 a US$ 100.000, viram a maior ascensão em números neste século, triplicando em dimensão de 514 milhões em 2000 para 1,7 bilhões em meados de 2019. Isto reflete a prosperidade crescente de economias emergentes, especialmente a China. A riqueza média deste grupo é de US $33.530, ainda menos do que a metade da riqueza média à escala mundial, mas consideravelmente acima da riqueza média dos países nos quais residem a maior parte dos membros. Isto deixa o grupo final de países com riqueza abaixo dos US$ 5.000, os quais estão fortemente concentrados na África central e na Ásia central e do sul.

Assim, aqui está a coisa estarrecedora. Se você vive num dos países capitalistas avançados e possui a sua casa e tem algumas poupanças, então estará entre os 10% do topo de todos os possuidores de riqueza do mundo. Isso acontece porque a vasta maioria das famílias no mundo tem pouca ou nenhuma riqueza.

Em meados de 2019 uma pessoa precisava de ativos líquidos de apenas US$ 7.087 para estar entre a metade mais rica dos cidadãos do mundo! Contudo, são necessários US$ 109.430 para pertencer ao 1% do topo. Cidadãos africanos e indianos estão concentrados no segmento base da pirâmide da riqueza, a China está no terço do meio e a América do Norte e Europa no percentual do topo. Mas também é evidente um número significativo de norte-americanos e europeus no décimo da base da riqueza global, pois adultos mais jovens adquirem dívida em economias avançadas, o que resulta em riqueza líquida negativa.

E a desigualdade fica mais vasta no topo da pirâmide . Há 46,8 milhões de milionários no mundo em meados de 2019, mas a maior parte tem riqueza entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões: 41,1 milhões, ou 88% dos milionários. Outros 3,7 milhões de adultos (7,9%) estão entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões; e quase exatamente dois milhões de adultos agora têm riqueza acima dos US$ 10 milhões. Destes, 1,8 milhão tem ativos na amplitude dos US$10-50 milhões, restando 168.030 indivíduos com Riqueza Líquida Ultra Alta (Ultra High Net Worth, UHNW) e valor líquido acima dos US$ 50 milhões em meados de 2019. Estes, com efeito, são a elite dominante do mundo.

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Os Estados Unidos têm, de longe, o maior número de milionários: 18,6 milhões, ou 40% do total mundial. Durante muitos anos o Japão manteve, com uma margem confortável, o segundo lugar nas classificações de milionários. Contudo, o Japão está agora no terceiro lugar com 6%, superado pela China (10%). A seguir vem o Reino Unido e a Alemanha com 5% cada um, seguidos pela França (4%) e depois pela Itália, Canadá e Austrália (3%).

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A Suíça (US$ 530.240), Austrália (US$ 411.060) e os Estados Unidos (US$ 403.970) mais uma vez encabeçam a lista da riqueza por adulto. A classificação pela mediana por adulto favorece países com níveis mais baixos de desigualdade de riqueza. Este ano, a Austrália (US$ 191.450) passou à frente da Suíça (US$ 183.340) ficando em primeiro lugar. Assim, a Austrália tem a mais alta riqueza mediana por adulto no mundo (o que se deve principalmente aos valores das casas).

Os ativos financeiros sofreram em maior grau durante a crise financeira de 2008-9 e a seguir recuperaram-se nos anos pós crise. Este ano, o seu valor ascendeu em todas as regiões, contribuindo com 39% do aumento na riqueza bruta mundial e 71% da ascensão na América do Norte. Contudo, ativos não financeiros (propriedade) proporcionaram o estímulo principal para o crescimento geral nos últimos anos. No período de 12 meses até meados de 2019 eles cresceram mais rapidamente do que os ativos financeiros em todas as regiões. A riqueza não financeira representava o grosso da nova riqueza na China, Europa e América Latina, bem como quase toda a nova riqueza na África e na Índia. Mas a dívida familiar ascendeu ainda mais rapidamente, para 4,0% no todo. A dívida das famílias aumentou em todas as regiões e a uma taxa com dois dígitos na China e na Índia. O crash da dívida está chegando.

25/Outubro/2019

imagem[*] Economista.

O original encontra-se em thenextrecession.wordpress.com/…

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