Solidariedade à militante Amanda Palha
Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
É com repúdio que lemos cada mensagem ofensiva e violenta dirigida à militante Amanda Palha, intensificadas nos últimos dias após sua manifestação em vídeo publicado pela Boitempo – intitulado “O movimento LGBT e o fim da família”. Em geral, além do teor fundamentalista, entristece-nos que muitos portais de notícias estejam desrespeitando sua identidade de gênero. Amanda é uma militante travesti e comunista de extrema importância para as lutas políticas em nosso país.
Lamentamos o oportunismo dos portais de notícia vinculados aos ideais mais conservadores e reacionários, que têm exposto a camarada a todo tipo de ataques. Em um dos países que mais mata travestis no mundo, sabemos que essa atitude irresponsável coloca em risco a sua vida. Mais do que repudiar essas mensagens, entendemos que é urgente fortalecer a rede de solidariedade à Amanda.
Não obstante, é sabido que o debate crítico acerca do papel da família na sociedade é histórico, e tem sido abordado há mais de século por uma pluralidade de referenciais que englobam desde anarquistas, comunistas, democratas e até mesmo liberais. O modelo nuclear e tradicional da família é insuficiente e, inclusive, funcional a um sistema de opressões de gênero, raça e sexualidades, bem como é fundamental para a manutenção do trabalho reprodutivo não pago, que libera o Estado e os capitalistas do custo com creches, escolas, restaurantes, lavanderias e espaços para cuidado dos idosos.
A família monogâmica, heteronormativa e racializada atende aos interesses capitalistas de reprodução da divisão sexual e racial do trabalho, que mantém a população LGBT, as mulheres e a população negra nos piores empregos e com os mais baixos salários. Ademais, para nós, feministas e marxistas, a crítica ao papel da família na sociedade é tão importante quanto a crítica à propriedade privada, pois foi através da ascensão das famílias burguesas que se cristalizou o patriarcado em todos os cantos do mundo. Hoje, os índices de violência doméstica, feminicídio e todo tipo de opressão sobre mulheres são extremamente elevados, assim como contra identidades de gêneros dissidentes ou sexualidades não heteronomartivas, sempre “em nome da família”.
Por isso somos solidárias à Amanda Palha e ao debate encabeçado pela mesma. Entendemos que o fim da família significa o fim das relações classistas, racistas, heteronormativas e mercadológicas, ou seja, a superação do sistema capitalista e a criação de novas formas de organização social pautadas no bem comum para toda a humanidade, sem exploração e expropriação do trabalho e sem nenhuma forma de opressão. Nenhum “modelo de família” que esteja inserido nessas relações deixará de reproduzir as contradições principais que as engendram.
REITERAMOS, TODA SOLIDARIEDADE À CAMARADA AMANDA PALHA E À SUA BRAVA LUTA!
Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
28 de janeiro de 2020.
NOTA DE SOLIDARIEDADE À CAMARADA AMANDA PALHA
Coordenação Nacional do Coletivo LGBT Comunista
A Coordenação Nacional do Coletivo LGBT Comunista se solidariza incondicionalmente com a camarada Amanda Palha.
Repudiamos veementemente os ataques impingidos à camarada. Desde os ataques transfóbicos, desrespeitando seu gênero e negando seu nome, até as violentas ameaças presentes nos comentários, postagens, tuítes e até matérias de veículos ditos “jornalísticos”.
Corroboramos com o posicionamento da Amanda quando a mesma reforça que a instituição da Família se funde com as necessidades de manutenção e fortalecimento do sistema capitalista. Esse sistema se reproduz e se reforça também pela desumanização das populações que não se adequam ao modelo hegemônico de gênero e sexualidade.
Isso pode ser observado claramente desde o discurso de ódio, facilmente aceito quando destinado à população LGBT, que visa desqualificar nossas falas e posicionamentos, até nossas mortes – lembrando que o Brasil atinge o recorde de país que mais mata pessoas LGBT, principalmente mulheres transexuais e travestis. Não somos seres humanos o suficiente aos seus olhos. Somos pessoas impuras, aptas a pagar com nosso sangue o preço do projeto econômico, político e social que o capital tem para o Brasil.
Que consigamos atuar de forma conjunta na defesa da existência dos nossos pares. Que consigamos superar nossas divergências e construir a luta pela superação da barbárie, rumo ao socialismo.
Finalizamos reiterando a nota emitida por essa Coordenação Nacional ao fim do ano de 2018, quando Amanda ainda figurava em nossos quadros.
“Apanhamos ainda, mas cada vez menos caladas, cada vez menos constrangidas, cada vez menos sós.
Que guardemos, por ora, as bandeiras brancas. Hoje, amanhã e enquanto necessário for, que nossa bandeira siga vermelho-luta, rubra como o sangue que tiram de nós.”
COORDENAÇÃO NACIONAL DO COLETIVO LGBT COMUNISTA
28 de janeiro de 2020