Israel: modelo de apartheid do século 21

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Iñigo Sáenz de Ugarte

Esta breve resenha de um livro de um antigo embaixador de Israel na África do Sul é elucidativa. O plano Netanyahu/Trump para a Palestina reproduz fielmente o sistema de bantustões do regime de apartheid sul-africano. O sionismo tenta reproduzir hoje o que há de pior nas diferentes vertentes históricas do racismo. Existem também, felizmente, israelenses que juntam a voz aos povos do mundo na denuncia dessa orientação desumana.

Alon Liel foi embaixador de Israel na África do Sul entre 1992 e 1994. Anos antes trabalhara no departamento do Ministério das Relações Exteriores que se ocupava desse país. Portanto, conheceu o plano e a execução do sistema de bantustões, os enclaves criados pelo governo da África do Sul para perpetuar a segregação racial enquanto fingia ter cedido à maioria negra o controlo de áreas isoladas onde supostamente poderiam exercer o seu autogoverno.

Liel explica num artigo na Foreign Policy que é exatamente isso que pretende o atual governo de Israel, com o apoio do governo de Donald Trump, “uma nova versão da deplorável política da velha África do Sul para o novo milênio”, do que sempre se conheceu pelo o termo “apartheid”.

“Durante esses anos soube que nenhum país do mundo, com exceção da África do Sul, contribuía mais para a economia dos bantustões do que Israel. Os israelenses construíram fábricas, bairros, um hospital e até um estádio de futebol e uma fazenda de jacarés nesses estados fantoches da África do Sul. Israel chegou ao ponto de permitir que um deles, Bophuthatswana, tivesse uma missão diplomática em Tel Aviv e que seu líder Lucas Mangope – mundialmente marginalizado por legitimar e promover o apartheid ao colaborar com o regime sul-africano – fosse frequentemente convidado a vir a Israel».

A prioridade para Israel, como é sabido, era a venda de armas ao governo de Pretória. Essa cooperação começou em 1974 e terminou em 1994 com a eleição de Nelson Mandela. Alguns líderes israelenses acreditavam também que a África do Sul era maltratada pela maioria dos países, tal como era o seu caso, ao não ser reconhecida a sua contribuição na luta contra a URSS durante a Guerra Fria.

Liel acredita que não existe qualquer dúvida sobre a intenção dos promotores do chamado plano Trump. O mapa que faz parte do projeto não deixa margem para dúvidas.

«O mapa incluído no plano de Trump é uma imitação do modelo de bantustões, com fragmentos do território palestino cercados por território completamente controlado por Israel, o que torna permanente a dominação de um grupo étnico ou religioso por outro. Isso viola os princípios do Direito internacional e legitima um modelo de apartheid no século XXI.»
Israel y la Suráfrica del apartheid: la historia de una larga amistad. Guerra Eterna, Dezembro de 2013.

Fonte: http://www.guerraeterna.com/israel-un-modelo-de-apartheid-para-el-siglo-xxi-segun-un-exembajador-en-surafrica/