Capitalistas lucram com a COVID-19

imagemJorge Cadima

ODIARIO.INFO

Com a pandemia, os 2.189 bilionários do planeta elevaram «as suas já enormes fortunas para um nível recorde de 10,2 trilhões de dólares», mais do dobro do PIB do Japão. Em contrapartida, não há ricas potências capitalistas entre os 25% de países com menos mortes per capita. Mas estão lá a China, com 3,32 mortos por milhão de habitantes (500 vezes menos que a Bélgica), o Vietnã (35 mortes, 0,36 por milhão) e o Laos (zero mortes!). Para os governos a serviço do grande capital, a saúde é um negócio lucrativo e não um serviço público.

Para milhões de pessoas, 2020 foi trágico. Dramas ligados à saúde, emprego, rendimentos, pobreza e fome. Mas, para os multimilionários, foi um ano de bonança. A pandemia tem marca de classe.

Um relatório do Banco Suíço UBS afirma (Guardian, 7.10.20) que os 2.189 bilionários do planeta se deram «extremamente bem» com a pandemia, «elevando as suas já enormes fortunas para um nível recorde de 10,2 trilhões [10.200.000.000.000] de dólares», mais do dobro do PIB do Japão. O Institute for Policy Studies informa que a riqueza dos 650 bilionários dos EUA subiu, desde março, «1 trilhão de dólares», quase 5 vezes o PIB de Portugal. O estudo identifica uma dúzia de grandes empresas cujos donos e executivos viram disparar a sua riqueza e lucros, mas com desempenho muito insatisfatório em matéria de proteção dos seus trabalhadores.

O caso mais famigerado é o aumento de 70 bilhões de dólares na riqueza do dono da Amazon, Jeff Bezos, enquanto se estima que 20.000 trabalhadores da Amazon tenham sido infectados com o vírus da COVID-19 (Guardian, 9.12.20). A organização Americanos pela Justiça Fiscal afirma: «o crescimento da riqueza [dos bilionários EUA] é tão grande que poderiam pagar 3 mil dólares a cada homem, mulher e criança do país e ainda assim ficarem mais ricos do que eram há nove meses» (Guardian, 19.12.20). Mas o grande capital é quem mais se beneficia de apoios estatais. Assim se explica que, com a economia mundial em grande queda, o índice bolsista Dow Jones ultrapasse pela primeira vez os 30 mil pontos.

Segundo dados (26.12.20) do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), o país do mundo com mais mortes de COVID per capita é a Bélgica, sede da União Europeia e da OTAN: 1,64 mortes por cada mil habitantes. Há quatro países do G7 entre os 10% de países com maior taxa de mortalidade: Itália, Reino Unido, EUA e França, além da Espanha (todos acima de 0,90 por mil). Apesar de sua população idosa, a potência capitalista com melhor desempenho é o Japão, com 2,29 mortos por cada cem mil habitantes. Mas tem o dobro da mortalidade da acossada Cuba (1,21 por cem mil).

Não há ricas potências capitalistas entre os 25% de países com menos mortes per capita. Mas estão lá a China, com 3,32 mortos por milhão de habitantes (500 vezes menos que a Bélgica), o Vietnã (35 mortes, 0,36 por milhão) e o Laos (zero mortes!). Para os governos a serviço do grande capital, a saúde é um negócio lucrativo e não um serviço público. Em vez de investimento em saúde pública, há estados de exceção, confinamentos e medo sem fim. As vacinas das grandes multinacionais, independentemente da sua eficácia, vão gerar mega lucros privados à custa do erário público.

Em ano COVID, outro negócio rende: a guerra. Nos EUA o Congresso aumentou o orçamento militar para 740 bilhões de dólares e travou anunciadas retiradas de tropas da Alemanha ou Afeganistão (UPI, 4.12.20). Na Suécia o Parlamento acaba de aprovar, alegando uma «crescente agressão russa na região do Báltico» [?!?], um aumento de 40% nas despesas militares (Financial Times, 20.12.20). Na Grécia o aumento do orçamento militar chega mesmo aos 57%, «ao mesmo tempo que a verba para a saúde baixa 17% em relação a 2020» (Marianne, 21.12.20). É o que os governos a serviço do grande capital entendem por ‘tratar-nos da saúde’.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2457 20.12.2020

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