Após 41 anos, campanha colaborativa retoma clássicos de Ana Montenegro

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Campanha colaborativa – “Ser ou não ser feminista” e outras obras escolhidas

A primeira mulher a ser exilada no período da ditadura militar no Brasil devido às importantes tarefas que cumpria na agitação e propaganda e nas relações internacionais do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Ana Montenegro foi uma dessas militantes, como escreveu Brecht, imprescindíveis. Na Bahia, quando as bandeiras com seu nome balançam no ar em manifestações, sempre encontramos alguém para falar de suas histórias e seu vigor para a luta. Como muitos contam, mesmo quando idosa, ela pegava um ônibus e ia para o Subúrbio Ferroviário de Salvador ou para qualquer lugar que a convidasse, prestar assistência jurídica à classe trabalhadora mais pauperizada ou fazer falas públicas sobre as lutas comunistas.

Agora, por ocasião do centenário do Partido Comunista Brasileiro, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e a Fundação Dinarco Reis compilaram nessa edição as três mais importantes obras dessa intelectual, poetisa e dirigente comunista.

As obras que compõem essa edição especial são extremamente atuais e mostram como Ana Montenegro reuniu elementos fundamentais de uma dirigente comunista, como formuladora, agitadora, propagandista e organizadora. Em “Ser ou não ser feminista”, de 1981, onde ela trava um debate com feministas como Simone de Beauvoir, Betty Friedan, Alice Schwazer e Shulamit Firestone sobre os limites teóricos e práticos da luta centrada na questão sexual, ela tanto demonstra o profundo conhecimento e capacidade de operar com o método marxista, quanto faz debates tênues, polêmicos e centrais para os movimentos feministas e para as lutas das mulheres trabalhadoras ainda hoje.

“Mulheres – participação nas lutas populares” (1985) é um riquíssimo e instigante material historiográfico sobre a atuação das mulheres durante diferentes épocas no Brasil. Nesse livro, a autora está preocupada em registrar dados concretos da história, tanto para auxiliar nas lutas que travavam, quanto para deixa – los para a posterioridade. Como Ana aponta, ela tentou tirar do limbo ou resgatar da não memória, lutas que tem sido escondidas por serem consideradas “ não específicas” das mulheres. Nessas pedras e tijolos que ela busca para pavimentar os novos caminhos por onde andavam, há registros de várias greves de tesselárias, da Ala Feminina da Aliança Nacional Libertadora, da criação e organização das Uniões Femininas e da Federação de Mulheres do Brasil, das lutas contra a Guerra da Coréia, do jornal “ O Momento Feminino” e da vida de diversas lutadoras que construíram essa estrada.

Em “Tempos de Exílio” (1988), a autora retoma as memórias do dia de sua saída do Brasil, a trajetória até chegar à Alemanha Oriental, onde viveu durante 15 anos, e algumas das tarefas que cumpriu internacionalmente durante o exílio. Nem de longe a escrita é discricionária ou simplesmente autobiográfica. Pelo contrário, todas as suas memórias estão ligadas a uma análise do capitalismo, das repercussões do imperialismo e das lutas da classe trabalhadora no mundo. Temas como a Unidade Latino Americana, a Revolução Mexicana e Cubana, o governo de Allende no Chile, as lutas anticoloniais na África, o papel dos quilombos no Brasil, a resistência palestina contra o sionismo, a vida na República Democrática Alemã são discutidos, entrelaçados às recordações de inúmeros poetas e amigos que passaram por sua vida. Mereceu um capítulo especial sua relação de profunda amizade com Carlos Marighella, que foi determinante na sua vida política e na decisão de sua saída do Brasil. Além disso, o livro fala de suas tarefas na Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) e aponta sua relação com dirigentes africanos das lutas de libertação nacional.

Consideramos extremamente significativa a reedição dessas obras, tão pouco conhecidas, mas de grande relevância teórica e historiográfica para comunistas, feministas e lutadoras/es sociais. Especialmente por seu lançamento acontecer no ano do centenário do PCB, organização que Ana Montenegro militou desde o início da sua vida política, onde desenvolveu sua escrita e vida revolucionárias e na qual protagonizou, junto com outros militantes, a importantíssima luta antiliquidacionista de 1992, que também completa 30 anos.

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