Starbucks: os/as trabalhadores/as perderam o medo do patrão

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Via ABRIL ABRIL

Símbolo do Starbucks Workers United (SWU), sindicato «dos trabalhadores da Starbucks, pelos trabalhadores da Starbucks, para os trabalhadores da Starbucks». Em pouco mais de um mês, o SWU conta com 28 lojas. A expectativa é que reúna centenas de locais de trabalho até ao final do ano.
Créditos / Starbucks Workers United

A multinacional de cafeterias Starbucks exibe, por estes dias, sinais de desespero muito evidentes. Todos os esforços que levou a cabo para evitar a adesão dos trabalhadores ao sindicato Starbucks Workers United (Trabalhadores da Starbucks Unidos, SWU) foram em vão. Ou seja, nos cerca de 30 referendos realizados até ao momento, apenas duas lojas rejeitaram, por curta maioria, a sindicalização.

O processo de sindicalização de um local de trabalho ou de uma empresa exige, nos Estados Unidos da América, a realização de um referendo. O processo começa com a coleta de assinaturas de apoio ao referendo, seguida pelo reconhecimento dessas assinaturas pelo Conselho Nacional para as Relações Laborais (NLRB) e, por fim, a vitória, por maioria simples, na dita consulta, em que participam todos os trabalhadores no local de trabalho.

Durante muitos anos, as dificuldades levantadas por este longo processo, assim como a forte propaganda antissindical difundida pelos patrões, conseguiram limitar, em larga escala, a criação de sindicatos, principalmente em multinacionais com grande rotatividade de trabalhadores, como é o caso das empresas de fast-food.

Se os trabalhadores não têm nada, nada têm a perder

O aumento brutal de lucros e a completa estagnação salarial, assim como os valores de inflação nos EUA (8,1% em março de 2022, o maior valor dos últimos 41 anos), está levando milhares de trabalhadores a reconsiderar o papel dos sindicatos no país. Campanhas semelhantes estão alcançando bons resultados na Amazon, na Kellogg’s ou na Green Dragon, uma importante empresa de produção de canábis.

«A empresa [Starbucks] diz que os parceiros [eufemismo para trabalhadores] vêm em primeiro, mas põe sempre os interesses dos acionistas à frente de todo o resto», denuncia o SWU: a sindicalização é a melhor maneira de garantir que «as nossas vozes são ouvidas, e que, quando o são, temos um poder equivalente para influenciar mudanças» favoráveis aos trabalhadores.

Com cerca de 200 referendos agendados e 30 realizados, poucos parecem acreditar na capacidade da empresa em travar a onda sindicalizadora. Nas eleições de 22 de abril, mais duas vitórias: uma no estado de Virginia, com um resultado esmagador de 30 votos a favor e apenas dois contra, e outra, a primeira vitória no estado do Colorado, na cidade de Louisville.

As táticas antissindicais da Starbucks podem trazer consequências irreversíveis para a empresa

A empresa nega qualquer prática de intimidação aos seus trabalhadores que tentam aderir ao sindicato, mas as queixas feitas junto do NLRB, anunciadas recentemente, deram provimento a um processo contra a Starbucks por demissão de três trabalhadores. As denúncias do SWU não ficam por aí: para além da demissão de trabalhadores envolvidos na coleta de assinaturas, muitos viram as suas horas de trabalho drasticamente reduzidas, para evitar o contato com outros funcionários.

Numa nota enviada a clientes, Peter Saleh, especialista da empresa em serviços financeiros e investimento BTIG, alertou que o maior risco que a Starbucks corre nos dias de hoje é a «deterioração da percepção pública da marca, se o seu combate contra a sindicalização continuar», expondo a hipocrisia de uma empresa frequentemente considerada «progressista» em termos sociais.

Caiu a máscara. Desde o início do ano, o valor das ações da empresa não parou de descer, dos 117 dólares em 31 de dezembro de 2021 para os atuais 78. As perdas se aceleraram com o anúncio dos primeiros resultados do referendo, mais de 12%, representando perdas de muitos bilhões no valor de mercado da Starbucks.

Um grupo de investidores, o Trillium Asset Management, que detém mais de 1 bilhão de dólares, exigiu publicamente que a empresa e o seu CEO Howard Schultz adotem uma atitude neutra em relação às questões laborais. Numa reunião privada com gerentes de lojas dos EUA, que foi divulgada nas redes, Schultz refere-se aos sindicatos como «forças externas que querem ditar e perturbar quem somos como empresa».

Graças ao exemplo dado pelas lojas agora sindicalizadas e a adesão massiva dos colegas, é esperado que centenas de outras lojas iniciem os seus próprios processos de sindicalização nos próximos meses, ignorando as pressões da administração.

Poucas horas depois da publicação deste artigo, os trabalhadores de uma das lojas da cidade de Leesburg, na Vírgínia, aprovaram a sua adesão ao sindicato com 23 votos a favor e apenas um voto contra.

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