A fome bate recorde no país do agronegócio

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Por Gabriel Colombo, pré-candidato ao governo estadual paulista pelo PCB

A fome no Brasil superou a média global. Fome em larga escala! Pergunto: você viu algum jornal da grande mídia questionar o chamado “agronegócio”?

Pois é, o agronegócio recebe mais de 200 bilhões de reais de financiamento público e promove a ideologia do Brasil como celeiro do mundo, de agro tech e pop capaz de alimentar a população mundial. A verdade é que não alimenta sequer o povo brasileiro.

O agronegócio produz commoditties, principalmente insumos para ração animal, produção de energia e papel. Temos grandes áreas de pastagem (parte expressiva improdutivas) e lavouras de soja, eucalipto, milho e cana-de-açúcar, principalmente. Até o milho?! Sim, até mesmo o milho. Somente 3% do milho produzido em nossas é utilizado para a alimentação humana no país. A maior parte é destinada para ração animal no mercado mundial.

O agronegócio é produto da modernização conservadora da agricultura durante a ditadura empresarial militar. É resultado da união entre capital financeiro e grandes proprietários de terra, mediado pelo sistema de crédito do Estado. Após a redemocratização, recebeu forte apoio de todos os governos, sem exceção. Sem exceção mesmo, de Roberto Rodrigues a Kátia Abreu, estiveram presentes nos ministérios petistas importantes quadros dirigentes do agronegócio brasileiro.

O poder econômico e político do agronegócio, fortalecido durante mais de 5 décadas, no entanto, alçou patamar nunca antes visto nos governos Temer e Bolsonaro. Conseguiram “passar a boiada” na política ambiental, de terras, trabalhista e financeira. Setores importantes do agronegócio foram os primeiros a apoiar Bolsonaro em 2018 e continuam a apoiar em 2022 porque estão sendo muito beneficiados.

O agronegócio não alimenta, mas a cada oportunidade para ampliar a grande propriedade capitalista da terra, usam o argumento: “a população mundial está crescendo, consequentemente a demanda por alimentos vai aumentar e o Brasil precisa ampliar a capacidade de produção, com mais terras”. Esse argumento é usado para expropriar terras indígenas, grilar terras públicas, desmatar, aplicar agrotóxicos indiscriminadamente, ampliar a política de créditos e subsídios, superexplorar o trabalhador e trabalhadora rural.

A fome no Brasil, obviamente, também é determinada pelo desemprego e pelo arrocho salarial. Mas não pode ser enfrentada somente ampliando o poder de compra da maioria trabalhadora da população, é preciso modificar a estrutura agrária brasileira. É preciso enfrentar o agronegócio, garantir a produção de alimentos com empresas públicas sob controle dos trabalhadores e com a democratização do acesso a terra no país.

Veja bem, o buraco em que estamos. No último domingo, 22 de maio, visitei o Acampamento do MST em Limeira, Elizabeth Teixeira. Conheci duas agricultoras que lideram um grupo que produz cestas semanais de hortaliças, legumes e frutas, entregam diretamente para os consumidores em Limeira e também em Campinas. Além de não receberem nenhuma política de crédito público, produzem sem ter acesso à rede de água e energia elétrica. Estão vivendo e produzindo no acampamento há 15 anos, não obtiveram regularização fundiária (portanto, vivem com a ameaça de despejo), nem a garantia de acesso a energia, um direito básico.

Garantir a democratização do acesso à terra, com uma Reforma Agrária Popular é essencial se quisermos combater de verdade a fome e assegurar o abastecimento interno. A retomada de políticas como o PAA, Alimentação Escolar, Estoques Reguladores da CONAB são fundamentais, mas não são suficientes. Digo isso com muita tranquilidade. Pois quando o Brasil saiu do Mapa da Fome, em 2014, ainda havia 4,3% de brasileiros e brasileiras em situação de fome, isto é, quase 9 milhões de pessoas.

Além do incentivo para quem luta pela terra, para quem trabalha na terra. É fundamental começar a produzir alimentos com uma empresa estatal, a que venho denominando de AgroBrás. Porque é preciso começar a pensar e produzir alimentos em larga escala, com tecnologia de ponta e muita inovação ecológica, que considere o zoneamento Agro-Hidro-Ecológico da Embrapa, nossa biodiversidade e riqueza cultural.

[Imagem: Pessoas buscam restos de comida no Mercado Municipal de São Paulo – Danilo Verpa – 14.out.21/Folhapress]

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