Sobre o resultado eleitoral na Colômbia

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Vitória eleitoral é resultado das mobilizações populares

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) saúda o resultado obtido neste domingo (19) com a vitória eleitoral de Gustavo Petro e Francia Márquez, da coligação social-democrata Pacto Histórico, que conquistou 50,44% dos votos contra 47,31% do candidato da extrema direita, Rodolfo Hernández. A votação expressa a vontade da maioria do povo trabalhador, camponês, indígena e afrodescendente colombiano, que nos últimos tempos vêm realizando grandes manifestações populares contra o aprofundamento da crise capitalista no país e seus reflexos na vida da população, como a ampliação da desigualdade social, da fome, do desemprego, da carestia e da violência estatal, responsável pelo assassinato crescente de lideranças sociais e populares, guerrilheiros e ex-guerrilheiros, em total desrespeito às negociações pela Paz com Justiça Social realizadas em 2016, com a mediação do governo socialista de Cuba. Somente nos primeiros dois meses de 2022, mais de 274 mil pessoas foram afetadas pela violência, em um aumento de 621% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Trata-se de uma importante vitória contra a classe dominante colombiana, cuja fração hegemônica há décadas age de forma completamente subserviente aos interesses e ditames dos governos dos Estados Unidos, tendo assumido todo este tempo a ponta de lança da política imperialista na América Latina, abrindo seu território para a instalação de bases militares e posicionando-se como país aliado da OTAN. O presidente Biden gosta de chamar a Colômbia de “pedra angular da política estadunidense na América Latina e no Caribe”. Todos os governos dos Estados Unidos – tanto democratas quanto republicanos – investiram, nos últimos 25 anos, mais de 13 bilhões de dólares para construir uma “relação especial” com a Colômbia e, em particular, com as forças armadas, contribuindo sobremaneira para a construção de um imponente aparato repressivo, voltado ao massacre cotidiano da população pobre, dos povos indígenas e dos movimentos sociais.

Esta mudança política reflete o processo mais recente de mobilizações sociais de 2019/2021, remontando ainda às inúmeras lutas levadas a cabo pelo povo colombiano ao longo de sua história, inclusive por meio da insurreição armada, no enfrentamento a uma das expressões mais violentas da oligarquia narcotraficante do continente, apoiada pelos Estados Unidos. Faz parte desse processo histórico a construção da Marcha Patriótica, frente de massas que reúne organizações do movimento popular, estudantil e sindical e que desde 2010 vem promovendo a resistência anticapitalista e anti-imperialista no país.

O PCB faz votos de que a vitória eleitoral de Gustavo Petro e Francia Márquez possibilite condições superiores de luta dos trabalhadores e das trabalhadoras por conquistas fundamentais em direitos democráticos, políticos e econômicos, como o fim do alinhamento imediato ao imperialismo estadunidense, a implementação dos Acordos de Paz, o desmonte do aparato policial repressivo, a melhoria efetiva das condições de vida do povo, permitindo uma ação mais livre dos movimentos sociais e o protagonismo político do proletariado, das mulheres, dos povos indígenas e afrodescendentes, abrindo caminho para um período de ofensiva da classe trabalhadora.

Sabemos, no entanto, que trabalhadores e trabalhadoras colombianas precisarão construir sua independência de classe na luta para avançar na direção de uma ruptura revolucionária. Assim como tem ocorrido em processos de vitórias de forças progressistas no último período na América Latina, muitas vezes isso acontecerá apenas se houver pressão popular frente ao governo de Petro e Francia, que do contrário não representará a classe trabalhadora em seus interesses concretos, ainda que venha a ser um governo objetivamente melhor que o dos representantes puro-sangue da burguesia colombiana.

Assim, o PCB deseja aos trabalhadores colombianos, em geral, e aos revolucionários colombianos, em particular, que colham frutos importantes no próximo período, em que pela primeira vez em muito tempo, terão maiores possibilidades de organização e avanço na luta revolucionária.

Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)