Assange está fazendo seu mais importante trabalho
Caitlin Johnstone, ODIARIO.INFO
A decisão da secretária do Interior britânica, Priti Patel, de autorizar a extradição de Julian Assange para os EUA é mais um passo na infame e desumana perseguição de que este jornalista vem sendo alvo, apenas por cumprir com a obrigação de qualquer jornalista: informar com verdade. Ao corajoso projeto Wikileaks junta-se uma outra valiosa contribuição: a resistência de Assange veio colocar mais a nu a extrema falsidade e hipocrisia de gente que teima em querer apresentar-se como verdadeiros paladinos da “liberdade de imprensa” e dos “direitos humanos”. É urgente ampliar ainda mais a luta em defesa da vida e pela libertação de Assange.
A secretária do Interior britânica, Priti Patel, autorizou a extradição para os Estados Unidos do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, para ser julgado ao abrigo da Lei da Espionagem, num processo que visa estabelecer um precedente legal para a acusação de qualquer editor ou jornalista, em qualquer lugar do mundo, que reporte verdades inconvenientes sobre o império dos EUA.
A equipe jurídica de Assange vai recorrer da decisão, supostamente com argumentos que incluirão o fato de que a CIA o espiou e planejou o seu assassinato.
“Será provavelmente alguns dias antes do prazo limite (14 dias para o recurso) e o recurso incluirá novas informações que não conseguimos anteriormente trazer aos tribunais. Informações sobre como os advogados de Julian foram espionados e como houve planos de dentro da CIA para sequestrar e matar Julian”, disse à Reuters o irmão de Assange, Gabriel Shipton, na sexta-feira.
E graças a Deus. A disposição de Assange de resistir às tentativas de extradição de Washington beneficia a todos nós, desde o seu asilo político na embaixada equatoriana em 2012 até a polícia britânica a arrastá-lo à força em 2019, até à sua luta com unhas e dentes contra os promotores norte-americanos no tribunal durante o seu encarceramento na prisão de Belmarsh.
A luta de Assange contra a extradição para os EUA nos beneficia não apenas porque a guerra do império contra a verdade prejudica toda a nossa espécie e não apenas porque não pode ser objeto de um julgamento justo ao abrigo da Lei da Espionagem, mas porque a sua recusa em ceder e submeter-se força o império a estender-se publicamente demasiado e mostrar-nos a todos do que é realmente feito.
Washington, Londres e Canberra conspiram em conjunto para prender um jornalista por dizer a verdade: o primeiro com as suas tentativas ativas de extradição, o segundo com a sua leal facilitação dessas tentativas e o terceiro com a sua silenciosa cumplicidade em permitir que um jornalista australiano seja preso e perseguido por praticar o jornalismo. Ao recusar-se a ceder e forçá-los a persegui-lo, Assange expôs algumas duras realidades das quais o público tem sido em larga medida mantido alheio.
O fato de Londres e Canberra estarem cumprindo tão obsequiosamente com as agendas de Washington, mesmo quando as suas principais redes de mídia condenam a extradição e mesmo quando todos os principais grupos de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa no mundo ocidental dizem que Assange deve ser libertado, mostra que estas são, não nações soberanas autônomas, mas estados membros de um único império global centralizado em torno do governo dos EUA. Como Assange se manteve firme e lutou contra eles, mais atenção vem sendo dada a essa realidade.
Ao manter-se firme e combatê-los, Assange expôs também a mentira de que as assim chamadas democracias livres do mundo ocidental apoiam a imprensa livre e defendem os direitos humanos. Os EUA, o Reino Unido e a Austrália conspiram para extraditar um jornalista por expor a verdade mesmo quando alegam opor-se à tirania e à autocracia, mesmo quando afirmam apoiar as liberdades de imprensa mundiais, e mesmo quando proclamam os perigos da desinformação patrocinada pelo governo.
Como Assange se manteve firme e lutou contra eles, sempre cheirará à hipocrisia quando presidentes dos EUA como Joe Biden dizem coisas como: “A imprensa livre não é inimiga do povo – longe disso. No vosso melhor, são guardiões da verdade.”
Como Assange se manteve firme e lutou contra eles, as pessoas sempre saberão que primeiros-ministros britânicos como Boris Johnson estão a mentir quando dizem coisas como: “As organizações de media deveriam sentir-se livres de trazer para o domínio público factos importantes”.
Porque Assange se manteve firme e lutou contra eles, mais de nós entenderão que estão sendo enganados e manipulados quando primeiros-ministros australianos como Anthony Albanese dizem coisas como “Precisamos proteger a liberdade de imprensa na lei e garantir que todos os australianos possam ter sua voz ouvida” e “Não processem jornalistas apenas por fazerem o seu trabalho”.
Como Assange se manteve firme e lutou contra eles, secretários de Estado dos EUA como Antony Blinken terão muito mais dificuldade em vender a sua banha da cobra dizendo coisas como “No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, os Estados Unidos continuam a defender a liberdade de imprensa, a segurança de jornalistas em todo o mundo e o acesso à informação on e off-line. Uma imprensa livre e independente garante que o público tenha acesso à informação. Conhecimento é poder.”
Como Assange se manteve firme e lutou contra eles, secretários do Interior do Reino Unido como Priti Patel serão vistos como as fraudes que são quando dizem coisas como “A segurança dos jornalistas é fundamental para nossa democracia”.
Extraditar um jornalista estrangeiro por expor os seus crimes de guerra é a mais tirânica agenda que se possa imaginar. Os EUA, Reino Unido e Austrália, ao conspirar para esse fim, mostram que são estados membros de um único império cujos únicos valores são a dominação e o controle, e que toda a sua postura sobre os direitos humanos é pura fachada. Assange continua a expor a verdadeira face do poder.
Existe de fato um forte argumento a ser formulado no sentido de que, mesmo passados todos estes anos após as divulgações de 2010 pelos quais está sendo atualmente processado, Assange está agora fazendo o seu trabalho mais importante até o momento. Por mais importantes que tenham sido e são as suas publicações no WikiLeaks, nenhuma delas expôs a depravação do império tanto quanto tê-los forçado a olhar-nos nos olhos e dizer que vão extraditar um jornalista por dizer a verdade.
Assange conseguiu isto firmando os pés e dizendo “Não”, mesmo quando todas as outras opções possíveis teriam sido mais fáceis e agradáveis. Mesmo quando era difícil. Mesmo quando era assustador. Mesmo quando isso significava ser trancado, silenciado, difamado, odiado, impedido de lutar contra os seus detratores, impedido de viver uma vida normal, impedido de abraçar os seus filhos, impedido até mesmo de sentir a luz do sol na sua face.
A sua própria vida lança luz sobre todas as áreas em que é dramaticamente necessária. Todos nós temos uma tremenda dívida para com este homem. O mínimo que podemos fazer é tentar o nosso melhor para o libertar.
Fonte: https://caitlinjohnstone.com/2022/06/18/assange-is-doing-his-most-important-work-yet/