Ilusionismo pequeno-burguês: o “socialismo do século XXI”

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Por Armiche Padrón, via Tribuna Popular, traduzido por Leonardo Godim

Armiche Padrón é Diretor da Escola Nacional de Quadros “Olga Luzardo” do Partido Comunista da Venezuela.

A pomposa chegada do “socialismo do século XXI” ao fim da última centúria criava expectativas no desigual combate contra a ofensiva neoliberal da burguesia em nível mundial. Tais expectativas repousavam sobre um conjunto de contradições que a formação social venezuelana ainda é incapaz de superar. Entre elas, uma que marca os percalços do imaginário dos reformistas venezuelanos é a tentativa de comungar o caráter de uma estrutura econômica rentista, dependente, atrasada e parasitária com uma estrutura política que “funcione bem” e seja como uma “vitrine democrática” em um contexto regional de golpes militares, ou ainda como ponta de lança da luta contra “o império”.

Desde o início e apesar de algumas frases nos discursos que apontavam a um objetivo histórico, começavam a se manifestar contradições que, longe de enfrentadas e superadas, se reciclavam sob a roupagem de novos conceitos. Por exemplo, esse “anticapitalismo” pequeno-burguês, que rechaça a ideia burguesa de progresso, mas, sem contrapor outra ideia melhor, propõe experiências ilusórias como a saída estrutural aos problemas da produção, na mesma medida em que turva os avanços da revolução democrático-burguesa venezuelana que pudessem atender a urgente reforma agrária.

Exemplos como este inundaram o reformismo venezuelano que idealiza mudanças (não transformações) que em si mesmas não ultrapassam os limites históricos das relações pequeno-burguesas e suas expressões (os conselhos comunais não conseguem, historicamente, superar as associações de vizinhos ou outras formas associativas já experimentadas anteriormente).

O discurso e a atitude, que outrora eram combativos, cederam passo ao sonho da “paz social”, à conciliação de classes e ao desvio da atenção pública dos problemas fundamentais do regime econômico e de toda a estrutura de um Estado que se reforçava como burguês.

Essa herança ressoa no último ciclo do chamado “processo bolivariano” e ressoa até as espinhas, se aprofundando sem morosidade nem vergonha própria ou alheia e degenerando no que Georg Lukács chamou de irracionalismo histórico-sociológico, o que nos permite entender os absurdos aplaudidos hoje igualmente pelas bancadas burguesas do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e pela oposição de direita na Assembleia Nacional, em oposição à honrosa postura do representante proletário, que sobrevive em meio ao legislativo nacional apesar dos combates doentios dos imitadores de um franquismo decadente.

Os últimos anos transcorreram entre as promessas de uma recuperação econômica sob todos os aspectos reacionária, oportunista e anti-operária, com base na instalação de boates, cassinos e centros comerciais e na ofensiva publicitária de super-herói a la Marvel (que denota desejos insatisfeitos na infância e a necessidade de reposicionar elementos reacionários). Enquanto isso, o pobre e arcaico tecido industrial acumulado se corrói ainda mais, cresce a pobreza extrema e vamos dependendo cada vez mais das remessas, incluídas as do “Trem de Aragua”, grupo transformado hoje em dia em uma multinacional do crime organizado.

Mas nem aí há uma novidade. O irracionalismo é a corrente mais reacionária da filosofia burguesa e se baseia em cinco elementos: o desprezo pela razão e ao entendimento; a glorificação da intuição; a promoção de uma teoria aristocrática do conhecimento; a repulsa pelo progresso; e o desenvolvimento da mitomania como fonte de legitimidade.

Hoje o governo de Nicolás Maduro repousa sobre essas bases, dando sua segura contribuição ao caldo do revisionismo contemporâneo. Por isso, os comunistas venezuelanos estamos em ofensiva ideológica, política e organizativa, em meio à luta de classes, para desmascarar essas ilusões que são partes essenciais do manual da burguesia para impor derrotas ao proletariado e aos povos do mundo.

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