Paulo da Portela: o Cidadão Samba e o PCB

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Jornal O Poder Popular nº 72

Uma das maiores lideranças populares do mundo do samba foi Paulo Benjamin de Oliveira, popularmente conhecido como Paulo da Portela, nascido no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1901. O apelido que virou sobrenome é uma referência à Estrada do Portela, uma via que corta os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz.

Foi um dos fundadores da Escola de Samba Portela, originada do Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz, por sua vez surgido do bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz (1923), que já continha o embrião da primeira diretoria portelense, com Paulo da Portela, Alcides Dias Lopes (“Malandro Histórico”), Heitor dos Prazeres, Antônio Caetano, Antônio Rufino e Natalino José do Nascimento (o “seu Natal”). No início da década de 1930, o nome do bloco foi alterado para Quem nos faz é o Capricho, passando em seguida para Vai como Pode, até consagrar-se como Portela. Em 1937, Paulo foi eleito Cidadão Samba e organizou uma excursão de sambistas pela América do Sul.

Em 1945 engajou-se na atividade política, participando de comícios do Partido Comunista (PCB) e candidatando-se a vereador pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional), com apoio do Jornal Diário Trabalhista e de entidades ligadas ao carnaval, mas não conseguiu êxito na eleição. Foi um grande articulador político, reunindo o mundo do samba para reivindicar o auxílio financeiro do Estado às escolas de samba, “divertimento máximo do povo”, conforme entrevista concedida ao Jornal Tribuna Popular, ligado ao PCB. No Carnaval de 1946, organizou a homenagem ao retorno dos pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira), que foram lutar na Itália contra as tropas nazifascistas.

Na época, o PCB participava de forma bastante ativa da vida das escolas de samba, organizando reuniões, atividades e até comícios em suas quadras. Em 1946 diversas atividades da campanha eleitoral dos comunistas ocorreram nas escolas de samba, e o PCB organizou um desfile fora de época com as principais agremiações cariocas. Em 1947, a prefeitura do Rio de Janeiro resol-eu fundar uma federação brasileira de escolas de samba com o propósito de esvaziar a União Geral das Escolas de Samba (UGES), entidade que contava em seu interior com a participação dos comunistas e por isso foi apelidada de União Geral das Escolas de Samba Soviéticas. Quando o PCB foi cassado pelo regime de Dutra, a sede da UGES chegou a ser lacrada por alguns dias pela polícia.

Paulo da Portela prosseguiu sua carreira artística até a prematura e súbita morte em 30 de janeiro de 1949, às vésperas da grande festa popular. Seu enterro, no cemitério de Irajá, reuniu mais de 10 mil pessoas em cortejo que passou pelas ruas dos bairros do subúrbio carioca, num dos mais “impressionantes acontecimentos da época”, segundo Nei Lopes.

Intérprete do Brasil e do Rio de Janeiro, Paulo da Portela é um símbolo de resistência e orgulho para a população negra. Muito contribuiu para que o sambista não fosse mais visto como um marginal pela sociedade que sempre identificou nas manifestações afro-brasileiras uma ameaça à ordem. No centenário da Escola de Samba Portela, é mais do que justo reverenciar a memória de um de seus principais fundadores e grande liderança no mundo do samba.

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