Negociações do “Protocolo da Irlanda do Norte”

Partido Comunista da Irlanda

O melhor jeito de caracterizar as negociações do “Protocolo da Irlanda do Norte” é enquanto parte da disputa interimperialista entre a União Europeia (UE) e a Grã-Bretanha a respeito das futuras relações comerciais e do acesso a mercados dentro da UE por parte da própria Grã-Bretanha. As negociações têm como foco garantir as futuras relações da Grã-Bretanha com a União Europeia e não têm a ver com o povo irlandês, esteja ele ao norte ou ao sul da fronteira imposta pelos britânicos.

O “protocolo” expôs o desprezo britânico pela “Irlanda do Norte”, pois foi cedido controle econômico de fato para a União Europeia e traçada uma fronteira no mar irlandês. Tanto a UE quanto a Grã-Bretanha usarão a Irlanda para garantir seus próprios interesses internacionais. Economicamente falando, a Irlanda como um todo é marginal aos interesses da Grã-Bretanha e da UE. A classe dominante irlandesa e os Unionistas mal participam das negociações, a não ser como meros atores terciários. As negociações confirmam a experiência de vida de tantos povos e nações colonizados e subjugados: que o imperialismo só tem interesses a perseguir e amigos temporários.

O atual impasse se deve às disputas internas do Partido Conservador britânico. Um dos grupos, centrado no Grupo Europeu de Pesquisa (ERG), usa do Partido Unionista Democrático (DUP) e do Protocolo para tensionar o máximo possível por um Brexit bastante mais extremo do que o que está sendo atualmente negociado pelo governo de Sunak. Sunak representa os interesses do capital financeiro britânico, que deseja um acordo com um Brexit mais suave possível e com o máximo de cooperação com a UE. O grande obstáculo não é o Protocolo em si, mas o papel da Corte Europeia de Justiça.

Na medida em que o Protocolo cria uma fronteira entre a Grã-Bretanha e a UE traçada no Mar da Irlanda, face à oposição unionista, tende a enfraquecer as relações leste/oeste entre os 6-condados e a Grã-Bretanha. O imperialismo britânico está alterando suas estratégias, se afastando de sua aliança com o Unionismo para desenvolver influência no Estado irlandês e na burguesia no poder. Apesar das rupturas comerciais causadas pelo Brexit, o principal aliado do imperialismo britânico na Irlanda hoje é a burguesia irlandesa. Traçar a fronteira entre o Reino Unido e a União Europeia na Irlanda seria um passo atrás nesse relacionamento.

Os unionistas aceitaram a fronteira no Mar da Irlanda num primeiro momento a partir do argumento de que seria bom para os negócios ter acesso aos mercados tanto da União Europeia quanto da Grã-Bretanha, além do fato de que essa situação configuraria uma oportunidade para atrair investimentos. O atual impasse está causando divisões internas no Partido Unionista Democrático (DUP). Jeffrey Donaldson (líder do DUP) tende a facilitar a posição defendida pelo governo Sunak, refletindo os interesses e necessidades da ala de negócios dos unionistas, que estão satisfeitos com as diretrizes atuais do Protocolo. Legisladores como Sammy Wilson se mostram disponíveis para serem usados pela FRG e acenaram a possibilidade de oposição paramilitar lealista ao Protocolo.

A capacidade política e de atração social do unionismo foi enfraquecida devido ao declínio da industrialização e o impacto da desmilitarização, somado à alienação sentida por muitos unionistas proletários. O Protocolo canalizou os sentimentos de alienação, amargura e perda nessas comunidades. Elas se sentem traídas pela Grã-Bretanha. Entretanto, é pouco provável que isso leve a uma reavaliação da posição política desse grupo na Irlanda, no curto e médio prazo. Esse grupo alimenta-se da ideologia supremacista e sectária há mais de um século e, se vier a manifestar qualquer resposta ao que vê como traição britânica, será provavelmente o apoio às manifestações mais extremas do lealismo.

Entretanto, o Protocolo reflete a crescente alienação do Unionismo em relação à classe dominante britânica, reflete também o declínio da influência econômica desta mesma classe, de forma que se apresenta a oportunidade de se levantarem demandas políticas e sociais com o potencial de apelar à consciência de classe superando fronteiras sectárias que foram cultivadas pelo imperialismo na região nordeste de nosso país.

James Corcoran
Secretário Geral
Partido Comunista da Irlanda

http://www.solidnet.org/article/CP-of-Ireland-Northern-Ireland-Protocol-negotiations/

Trad: Pedro Acácio

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