Escola de pelego, estágio de corrupto
Peço licença, caro leitor, para escrever na primeira pessoa. Antes de qualquer consideração, para afirmar que conheço pessoalmente o único fundador ainda entre nós da União Nacional dos Estudantes (UNE), Irun Sant’Anna, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) há umas 70 primaveras.
Firme como ele só, Irun deve estar revoltado. Leitor diário de jornais, já soube que a entidade criada por ele e seus camaradas agora se vê envolta em acusações de uso de notas frias, e investigada pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União.
Sob orientação do Comitê Central do PCB, Irun – e todos os estudantes comunistas no Brasil – lançaram-se em 1937 na construção de uma entidade de massas para barrar a virulência fascistóide do governo Vargas. Uma entidade com DNA anti-palaciano.
Há 20 anos sob gestão de outro partido “comunista”, o PCdoB, a UNE cada vez mais come os farelos dos palácios aos quais tem frequentado. Foi transformada numa escola de pelego, em estágio de corruptos. Estão aí nomes como Luciana Santos e Manuela D’Avila, no primeiro caso; e Orlando Silva, no segundo (além de outros menos votados); para comprovar.
Não vou me alongar aqui na “captação” de recursos por parte desta entidade. Aos curiosos sobre esta questão, apenas recomendo a leitura do artigo “Chapa-branca” ou máfia de calças curtas?, produzido pela União da Juventude Comunista (UJC) há cerca de um ano. Está, infelizmente, atualíssimo.
O que os camaradas da UJC ali citavam, que o argumento do atual presidente da UNE para receber verbas do Governo Federal e de empresas privadas se justificaria porque “o Congresso da UNE de 1989, realizado na Bahia, recebeu verbas do governo baiano, então comandado pelo PFL, atual DEM” é de embrulhar o estômago, explica em muito o que a imprensa tem noticiado desde sexta-feira.
A investigação do Ministério Público aponta indícios de irregularidades da UNE e da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES) de São Paulo entre 2006 e 2010. As entidades receberam cerca de R$ 12 milhões inclusive para “capacitação de estudantes” (e eu me pergunto se isso estaria para a UNE como o FAT para o sindicalismo pelego) e “promoção de eventos culturais e esportivos”. No caso da UNE, o procurador Marinus Marsico identificou uso de notas fiscais frias e detectou que parte dos recursos foi usada para a compra de bebidas alcoólicas (51? Não… 171!).
Marsico chama ainda atenção para a demora do Ministério do Esporte (PCdoB) em cobrar a prestação de contas da UNE no convênio de número 702422, de 2008, no valor de R$ 250 mil, para fomentar a “implantação de atividades esportivas e debates” na 6ª Bienal de Artes, Ciência e Cultura da entidade.
É de se estranhar que a pasta então comandada por Orlando Silva e agora por Aldo Rebelo demorasse a entregar os documentos? A pelegada estudantil atual é filha dileta deles…
*Paulo Schueler é membro do Comitê Central do PCB