Para purificar a memória: sobre o esclarecimento da morte de Elson Costa
Elson Costa nasceu em 26 de agosto de 1913, na cidade de Prata, Minas Gerais, filho de João Soares da Costa e Maria Novais Costa. Desaparecido em 1975, em São Paulo. Casou-se com Aglaé de Souza Costa.
Era o responsável pelo setor de agitação e propaganda do PCB.
Na manhã do dia 15 de janeiro de 1975, Elson foi preso no bar ao lado de sua casa, onde havia ido tomar café. Alguns vizinhos tentaram protestar contra a ordem de prisão dada por seis homens, pois, para eles, quem estava sendo preso era o aposentado Manoel de Souza Gomes que vivia na Rua Timbiras,199, bairro de Santo Amaro, em São Paulo.
Eu, Maria Helena Soares de Souza, CPF 036 173 867-68,
RG 3 360 636-5, dei início a uma campanha no Facebook no dia 30/05/2012, com o objetivo desensibilizar a Comissão da Verdade para esclarecer a morte de meu tio, irmão de minha mãe, ElsonCosta, casado com Aglaé Souza Costa, desaparecido durante o tempo da ditadura.
Ele foi um pacifista, era contra a violência e a favor de uma revolução a partir de ideiais comunistas,aprendido e compreendido por ter sido militante do Partido Comunista (PCB) desde os 17 anos, atéos 61 anos, idade que tinha ao desaparecer de sua casa em 14 de janeiro de 1974.
Elson Costa foi sequestrado perto de sua residência, na Rua Timbiras, 199, na cidade de São Paulo. Seuirmão Osvaldo Costa declarou o seu sequestro – relatado por vizinhos – em 26/02/1975 no 11° DP, conformeBO N°315/75, executado por seis homens em uma veraneio. O crime foi relatado em um jornal como tendosido o sequestro de um rico comerciante da região, Manuel de Souza Gomes, nome usado naclandestinidade para que ele pudesseproteger-se da repressão.
Ele foi um dirigente experiente, que já passara em silêncio por duas prisões e tortura. Em suas palavras: “sobre tortura não se conversa”.
Seu nome correto está na lista oficial dos desaparecidos:
http://www.acervoditadura.rs.gov.br/mortos.htm
Elson Costa foi quadro do PCB, inicialmente no Triângulo Mineiro, desapareceu em 14 de janeiro de1975.
A partir de 1973, depois de muitas prisões, desaparecimentos e torturas, a ditadura militar dedicou-se à caça dos militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), principalmente os de posição maiselevada no partido. Sua prisão aconteceu porque em 13 de janeiro do mesmo ano, a repressãolocalizou uma bem montada gráfica clandestina do PCB, debaixo de uma caixa d’água num sítio emque funcionava desde 1966.
Ele foi levado para uma casa em Itapevi, centro clandestino da repressão ligado ao DOI-CODI/SP,onde foi submetido a todo tipo de tortura. Seu corpo foi banhado em álcool, queimado e afogado norio Avaré, segundo os depoimentos prestados à revista VEJA – e publicado em 18/11/1992 – porMarival Dias Chaves do Canto em 18/11/1992, ex- sargento e ex- agente dos órgãos de informação doExército, que relatou terríveis e esclarecedores relatos sobre a barbárie dos porões da ditadura.
Surgiu uma notícia na Folha de São Paulo, em 1978, falando sobre absolvição – depois que ele jáestava morto. Houve a publicação de um anúncio no jornal Estado de São Paulo e outra vinda daCNBB:
http://www.desaparecidospoliticos.org.br/pessoa.php?id=281&m=3
NOTÍCIAS
1)Auditoria da Marinha absolve acusados do PC. Folha de S. Paulo, São Paulo, 21 set. 1978. Comcarimbo do arquivo do DOPS. O Conselho Permanente de Justiça absolve, por prescrição da açãopenal, Luiz Carlos Prestes, Marco Antônio Tavares Coelho, Dimas de Assunção Perrim, JoãoMassena Melo, Elson Costa, Orlando Rosa, David Capistrano, Luiz Inácio Maranhão Filho, Hiran deLima, Itair José Veloso, Jaime Amorim, entre outros. O Comitê Brasileiro pela Anistia convocou parauma entrevista coletiva os familiares de desaparecidos que constam na lista de absolvidos com aintenção de apelarem junto ao governo no sentido de obter informações sobre o paradeiro de seusfamiliares.
2) Pessoa desaparecida. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11 mar. 1975. Apelo de Aglaé de SouzaCosta, esposa de Elson, pedindo pistas do paradeiro de seu marido. Elson foi sequestrado poralguns homens, próximo a sua residência. Nenhuma informação foi conseguida nos órgãos desegurança pública.
OBS: o Estado publicou uma foto com o apelo da esposa sem cobrar pelo anúncio, por ordem deRui Mesquita.
3) Bernadette, Scheila. CNBB apela para responsabilidade civil. Sem fonte, 25 mar. 1992. DomLuciano, presidente da CNBB, afirmou à Comissão Externa dos Desaparecidos Políticos que a lei daanistia não significa o desconhecimento dos fatos, cabendo ao Estado esclarecer e indenizar osascendentes e descendentes dos torturados. Com as declarações do ex-sargento Marival Chaves,tomou-se conhecimento de vários nomes de desaparecidos políticos que de fato estariam mortos,vítimas de torturas, entre eles Elson Costa e Sônia Maria Lopes Moraes. Seu pai, João Luiz Moraes,pretende processar o Exército pelo sequestro, tortura, estupro e morte de sua filha.
Relatórios foram emitidos, havendo contradição entre eles:
RELATÓRIOS
1)Documento do Serviço de Informações do DOPS/SP de 09/06/75 com informações retiradas dedocumentos no arquivo do DOPS relativos às atividades políticas em organizações de esquerda eprisão de Elson, entre 03/52, com seu nome aparecendo como simpatizante comunista em BeloHorizonte, até 25/03/75, com seus familiares prestando depoimento para a delegacia especializada arespeito de publicações em jornais sobre seu desaparecimento. Com códigos de localização deapenas alguns documentos no arquivo.
2)Indicações para a localização dos restos mortais de Elson Costa. Complementa as informaçõespara a Comissão Especial Lei 9.140/95 a fim de que a morte de Elson seja reconhecida nos termosda lei 9.140/95.
3)Prontuário/Dossiê
Documento da Polícia Civil do Paraná de 20/05/75, com pedido de busca do CIESP/PR para o DOPSe radiograma do Serviço de Comunicações de Brasília informando que Elson Costa encontra-sedetido.
Documentos apareceram, mas alguns não são verdadeiros:
DOCUMENTOS
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Ficha pessoal
Documento da Delegacia de Ordem Política e Social, de 01/09/65, com dados pessoais e informaçõescolhidas no arquivo sobre atividades políticas de Elson entre 01/09/65, com seu nome constandocomo membro da executiva e do CC do Partido Comunista Brasileiro até 16/01/79, com seu nomeaparecendo em uma relação publicada pela Gazeta do Povo do Comitê Brasileiro pela Anistia comopreso político desaparecido.
2)Ficha pessoal do IML de 21/05/75.
OBS: o corpo não era de Elson Costa, apenas o nome.
Documento pessoal
Certidão de nascimento e certidão de casamento de Elson Costa.
3)Laudo de exame de corpo delito
Laudo de exame de lesão corporal do IML/SP, de 16/05/75, realizado por Wlademar V. Júnior eRoberto C. Alves. Indica lesão leve causada por paulada e tijolada, no dia 29/03/75. Os dados dolaudo não são de Elson, apenas seu nome
4)Legislação
Lei 9.140/95. Diário Oficial, Brasília, n. 232, 5 dez. 1995. Reconhece como mortas pessoasdesaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, entre02/09/61 a 15/08/79, e que por este motivo tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se,desde então, desaparecidas, sem que delas haja notícias. No Anexo I desta Lei foram publicados osnomes das pessoas que se enquadram na descrição acima. Ao todo são 136 nomes.
4)Certidão
Certidão da Divisão de Segurança e Informações, da Polícia Civil do Paraná, para a ComissãoEspecial de Investigação das Ossadas encontradas no Cemitério de Perus, de 24/07/91. Certifica queas fichas das pessoas a seguir foram encontradas no arquivo do DOPS, em gaveta com aidentificação “Falecidos”: Aluísio Palhano Pedreira Ferreira, Hiran de Lima Ferreira, Edgard deAquino Duarte, Paulo Stuart Wright, Eduardo Collier Filho, Helenira
Resende de Sousa Nazareth, Miguel Pereira dos Santos, José Huberto Bronca, Isis Dias de Oliveira,Antônio dos Três Reis Oliveira, Ayrton Adalberto Mortati, Jorge Leal Gonçalves Pereira, LuizAlmeida, Ruy Carlos Vieira Berbert, Joaquim Pires Cerveira, Virgílio Gomes da Silva e Elson daCosta.
OBS: a ossada de Elson Costa não foi reconhecida. Seu irmão Milton Costa forneceu DNA paracomparação.
PEDIDO DE BUSCA
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Documento do III Exército, de 07/04/75. Traz a informação de que Elson seria um dos dirigentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Desapareceu, com a ajuda de pessoas do PCB, e em 01/75 a sua esposa foi interrogada, sendo possível apreender material subversivo que pertencia a Elson. Ele já esteve preso em Curitiba, PR e foi cassado pela revolução de 1964.
OFÍCIO E DEPOIMENTO
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Ofício
Documento de Aglaé de Souza Costa, esposa de Elson, a Miguel Reale Junior, presidente daComissão Especial da Lei 9.140/95, em 18/01/96. Ela requer a localização e entrega dos restosmortais de Elson e indenização. Em anexo estão as indicações para a localização dos restosmortais, cópia da cédula de identidade e do CPF de Aglaé.
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Depoimento
Documento escrito por Aglaé de Souza Costa, esposa de Elson. Informa que ele iniciou sua vidapolítica pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), em Uberaba, MG. Fez parte do Comitê Centraldesse partido, divulgando o jornal “A Classe Operária”. Teve seus direitos políticos cassados em1964 e passou a viver com outro nome, em várias cidades, até ser preso em São Paulo, em 1975.
3)Carta
Carta de Aglae de Souza Costa, esposa de Elson, ao Presidente Ernesto Geisel, em 08/02/75. Elapede notícias sobre seu marido, que foi levado da porta de casa por seis homens, em 15/01/75, edesde então desapareceu.
HOMENAGEM
1)Homenagem aos desaparecidos políticos por meio dos nomes das ruas do Jardim da Toca, em SãoPaulo, SP, em 04/09/91, contando com a presença da prefeita Luíza Erundina, do vereador Ítalo Cardoso,dos familiares dos homenageados e de representantes da sociedade. Homenageados: Ana Rosa KucinskiSilva, Antônio Carlos Bicalho Lana, Antônio dos Três Reis Oliveira, Aluísio Palhano Pedreira Ferreira, AyltonAdalberto Mortati, Elson Costa, Hiran de Lima Pereira, Honestino Monteiro Guimarães, Ieda SantosDelgado, Maria Lúcia Petit da Silva e Sônia Maria de Moraes Angel Jones. Acompanha convite para asolenidade.
2)Em 2004, Élson Costa foi homenageado com a Medalha Tributo à Utopia, criada no ano anterior pelaCâmara Municipal de Belo Horizonte para lembrar as vítimas da ditadura, mortos e desaparecidos políticos.
No entanto, as homenagens públicas não escondem que memória de Elson Costa foi manchada, pois emreportagem divulgada pela ISTO É, em 31/03/2004, ele foi acusado pelo Exército de ter fugido e buscadoasilo em outros estados. Não posso deixar de pensar na ironia disso tudo: na data da publicação e naacusação de fuga e abandono total da família.
Zanira e Zailda, irmãs; Arnaldo, cunhado; Aglaé, esposa; tio Elson Costa.
Ele foi sim, procurado pela família. Quando saiu a reportagem , sua irmã, Zailda Soares de Souza relatou onúmero de vezes que procurou em rostos de mendigos e pessoas com deficiência mental, nas ruas,encontrar a de seu irmão. Contou também a ida ao Manicômio Paulista para reconhecê-lo entre os doentesporque uma das pistas terminou neste local. Tudo em vão.
O telefone da casa dela foi grampeado pela polícia, que invadiu a casa numa madrugada, logo após apublicação do anúncio no jornal Estado de São Paulo, simulando uma procura pelo irmão que o Exércitosabia muito bem não estar vivo. Ela exprimiu a sua dor claramente, ao dizer ao repórter “sempre tive umpouco de esperança de que ele poderia aparecer vivo, mas depois de tantos anos é triste parar de acreditarnisso”.
No início de 2002 as famílias dos desaparecidos políticos começaram a receber indenização do Estado. Aesposa de meu tio também o fez, o que significa um aceite do Estado pela sua responsabilidade na mortede Elson Costa. No entanto, nunca foram esclarecidos oficialmente as causas sua morte e nem o localonde seu se encontra.
Reforço Ricupero, em seu artigo na Folha de São Paulo de 29/05/2012: não se trata de desejo de vingança,mas o de purificar a memória de Elson Costa e poder honrá-lo e sepultá-lo. E se o corpo estiver mesmo norio Avaré, poder levar flores até lá e poder dizer a ele que sua memória está purificada e assim serápreservada em nós. Por amor e humanidade, tão somente.
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