20 de Novembro e os instrumentos de combate ao racismo
Coordenação Nacional do Coletivo Negro Minervino de Oliveira
Jornal O Poder Popular nº 81 (novembro de 2023)
A vida é dura, os preços estão altos, e a cada dia a perspectiva de um emprego melhor se esvai no caos da vida. Entre um ônibus e outro, um dia de trabalho, se vai toda nossa energia. Quando a noite chega, é preciso descansar, para começarmos tudo de novo no dia seguinte. Não há tempo para nada que seja nosso. Nosso tempo serve para preencher o bolso de alguém. São vários os problemas que impedem uma vida digna, que satisfaça as nossas demandas.
Um vasto país, com dimensões continentais, é também berço das maiores concentrações de terra. Por aqui, desde a época de Zumbi dos Palmares, a terra tem dono e não somos nós. Trabalhadores são constantemente resgatados em situação de trabalho análogo à escravidão. Os sonhos e esperanças levam homens e mulheres a uma vinícola de sangue no sul do país. O vinho nasce do suor de pessoas sem tempo livre. Em sua maioria, pessoas negras. Em todo o país explodem ocupações urbanas e rurais. Compostas, em sua maioria, por pessoas negras. E não sem motivo: existem mais casas vazias do que ocupadas. Os aluguéis estão altíssimos, as casas precárias, a maioria das pessoas que pagam aluguéis altos com melhores condições são as brancas. As piores casas ficam, em regra, com as negras.
Uma líder quilombola é assassinada na Bahia, um líder indígena é assassinado no norte do Brasil. Matam sonhos e os seus construtores, matam nossos líderes, pais e mães. Mas o agronegócio vai muito bem, eles dizem. O deserto de soja que nasce da morte de um quilombo, ou do assalto da terra em algum canto desse país, tem enriquecido o bolso de alguém. Já contam 39 ocorrências de chacinas na região metropolitana de Salvador (Bahia) até o início de outubro de 2023, resultando em 159 mortes, de acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado. Quem morre? Pobres e negros.
Avançar nas lutas contra o racismo!
Todas essas contradições são profundamente marcadas pelo racismo brasileiro. Por isso, é imprescindível que, em todo o país, neste mês, quando se celebra o 20 de novembro, uma data de grande importância que marca o assassinato de Zumbi dos Palmares pelo estado brasileiro, por meio da expedição liderada pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, não nos coloquemos apenas para recordar a morte do líder quilombola, mas também para pensar as estratégias de luta e instrumentos de combate ao racismo no Brasil.
É imprescindível que o movimento negro brasileiro tome uma postura menos presa às conciliações e cada vez mais popular, alinhada com os movimentos sociais e as necessidades históricas da população negra. É nesse ínterim que a luta antirracista precisa estar associada à pauta da reforma agrária popular, porque é por meio dela que combateremos os interesses que ferem a demarcação das terras indígenas, voltados à defesa da concentração de terras e do agronegócio. Essa reforma precisa ser alinhada a uma reforma urbana que trate a questão da moradia, do saneamento, da mobilidade urbana, questões que doem principalmente na vida das pessoas negras.
Do mesmo modo, o tema da desmilitarização da polícia militar, da segurança pública e o fim da guerra às drogas precisa tomar as ruas no 20 de novembro e no ano todo, para combater as chacinas no portão das famílias negras. É preciso ter tempo para os nossos, com saúde e vida digna. No plano imediato, é urgente que o movimento negro defenda a luta pela redução da jornada de trabalho e pela defesa intransigente do fortalecimento do SUS. Todas essas bandeiras enfrentam contradições do nosso país e são, portanto, instrumentos de combate ao racismo brasileiro.
Por um movimento negro popular, antirracista e socialista.
Pretos e vermelhos, venceremos!