O genocídio em Gaza e as fontes
Imagem: Raneen Sawafta – Agência Brasil
Gustavo Carneiro
ODIARIO.INFO
A prestigiada revista médica britânica The Lancet estimou há dias em mais de 186.000 os palestinos mortos por Israel na Faixa de Gaza. Este número (que já hoje se encontra desatualizado) representa qualquer coisa como 8% da população total do território. No artigo afirma-se ainda que, mesmo que os ataques cessassem imediatamente, estas mortes – ditas «indiretas» – continuariam a ocorrer nos próximos meses e mesmo anos, sobretudo devido a doenças. O principal responsável por este genocídio, Netanyahu, foi convidado de honra no Congresso dos EUA. O seu discurso foi numerosas vezes aplaudido de pé. Imperialismo e sionismo, duas faces da extrema miséria moral do capitalismo.
Dura há já mais de nove meses o genocídio que, aos olhos de todo o mundo, Israel está promovendo na Faixa de Gaza. Durante esse tempo, fomos sendo confrontados – a um ritmo quase diário – com a macabra contabilidade da chacina: 1.000 mortos, 5.000 mortos, 10.000 mortos, 20.000 mortos, 30.000 mortos… Em qualquer um dos casos, cerca de metade eram crianças.
Da parte de Israel, dos seus aliados («cúmplices» talvez seja a expressão mais apropriada) e, claro, dos conglomerados de comunicação sempre dispostos a amplificar a sua versão, estes números não seriam confiáveis, desde logo porque eram apresentados pelo que chamam de Ministério da Saúde do Hamas. Nos noticiários repetia-se diariamente expressões como «segundo o Hamas» ou «as autoridades de saúde do território controlado pelo Hamas afirmam»… Até a agência das Nações Unidas que trabalha nos territórios palestinos, a UNRWA, foi acusada de estar «infiltrada» pelo Hamas…
Trata-se de um truque antigo: perante a força inequívoca da mensagem, ataca-se o mensageiro. Mudemos, então, de mensageiro.
Há dias, a revista médica britânica The Lancet, fundada em 1823 e atualmente uma das mais prestigiadas na área, estimou em mais de 186.000 os palestinos mortos por Israel na Faixa de Gaza – numa altura em que as autoridades de saúde locais contabilizavam «apenas» 38.000.
Para os autores do estudo, aquela é uma estimativa «conservadora», que aponta para quatro mortes indiretas por cada morte direta – o que não é, de todo, «implausível», garantem. O cálculo, sublinham, foi feito tendo em conta as informações recolhidas no terreno e avaliando outras situações de guerra. Fora da contabilidade oficial das autoridades de Gaza (que contam sobretudo os mortos em hospitais e os que lá chegam já sem vida, acrescentando-lhes outras informações e relatos credíveis, como de paramédicos) estão milhares de corpos ainda por retirar dos escombros dos edifícios destruídos pelos bombardeios israelenses e as vítimas de causas indiretas da guerra, como a falta de acesso a cuidados de saúde, comida, água ou abrigo.
Este número de 186.000 vítimas mortais (que hoje já se encontra desatualizado) representa qualquer coisa como 8% da população total do território.
No artigo afirma-se ainda que, mesmo que os ataques cessassem imediatamente, estas mortes – ditas «indiretas» – continuariam a ocorrer nos próximos meses e mesmo anos, sobretudo devido a doenças. Uma inevitabilidade face à destruição das infraestruturas de saúde, à dramática escassez de água, comida e abrigo, à inexistência de «zonas seguras» e à própria redução do financiamento da UNRWA, uma das poucas organizações que ainda fazem trabalho humanitário na Faixa de Gaza.
Uma coisa é certa: independentemente das fontes e dos números, é genocídio.