Nota Política do PCB sobre as eleições
Fortalecer o caráter revolucionário da esquerda para derrotar a direita e a extrema-direita
As eleições municipais no Brasil, no primeiro turno, foram marcadas pela vitória expressiva das forças de direita e extrema-direita, que conquistaram mais de 90 milhões de eleitores e mais de 4.700 prefeituras, enquanto as forças de centro-esquerda obtiveram apenas cerca de 22 milhões de votos e pouco mais de 700 prefeituras. Além disso, das 103 cidades com mais de 200 mil habitantes, em 51 delas as eleições foram decididas no primeiro turno, com a direita vencendo na grande maioria.
O bolsonarismo, apesar de não ter conquistado as mil prefeituras que objetivava, saiu das eleições muito forte, e o PL foi um dos partidos que mais cresceu neste pleito, venceu em duas capitais e vai disputar em outras 23 cidades com mais de 200 mil habitantes. A esquerda e a centro-esquerda sofreram uma grande derrota, especialmente nas maiores cidades.
Que lições as forças da esquerda socialista poderão tirar dessas eleições? A vitória da direita e da extrema-direita ocorreu não apenas nas pequenas cidades, onde sempre foram maioria, mas também nas grandes cidades, mesmo levando em conta que as eleições municipais têm caráter local e apenas em uma ou outra grande cidade pode ganhar caráter nacional. Isto indica que larga parcela do proletariado urbano votou nos candidatos da direita. Neste contexto, é fundamental não subestimar as forças de extrema-direita.
Esses dados indicam que a direita e a extrema-direita conseguiram capturar o sentimento antissistema de uma grande parcela da população. Isso porque a campanha do campo democrático-popular não denunciou de maneira firme as mazelas do capitalismo brasileiro, e seus candidatos se apresentaram ao eleitorado como bons moços, capazes de administrar as crises do sistema, com medidas moderadas, distantes de qualquer radicalismo ou iniciativas necessárias para romper com a lógica de exploração e miséria, imaginando equivocadamente que dessa forma conseguiriam ganhar a maioria da sociedade.
Não ganharam os setores do centro que almejavam e ainda confundiram os trabalhadores e as trabalhadoras, que preferiram votar em quem se apresentou contra o sistema. Não levam em consideração que, apesar das melhorias pontuais obtidas no governo Lula, continua existindo um enorme sentimento de frustração na maioria da população, fato que já se constatava nas pesquisas e agora ficou evidente nas eleições. Afinal, a situação social brasileira, especialmente a dos trabalhadores, não tem nada a ver com o mundo encantado vendido pelo governo. Passados dois anos da posse de Lula, as pesquisas demonstram que uma fatia considerável do eleitorado brasileiro ainda tem se associado ao pensamento conservador.
O desemprego oficial e oculto atinge mais de 10 milhões de trabalhadores/as, e a informalidade atinge também mais de 39 milhões dos/as que compõem a força de trabalho. Se levarmos em conta que cada trabalhador/a constitui uma família de pelo menos três pessoas, teremos somente aí mais de 100 milhões ou sem renda ou vivendo em situação precária. A esses números se podem acrescentar ainda os milhões que vivem na miséria e na mendicância nas grandes cidades do país. Além disso, temos o caos na saúde pública e nos transportes, os problemas na educação e no saneamento básico, bem como a descrença da imensa maioria da população nas instituições.
A opção do Governo Lula em seguir de forma draconiana o receituário da política de teto de gastos, agora com outra expressão, “arcabouço fiscal”, é uma continuidade à lógica de redução de investimentos nas principais demandas sociais, o que só irá aumentar a desigualdade e a precarização da vida da classe trabalhadora. O resultado disso é a guinada para o discurso reacionário e moralista que a extrema direita vem fazendo como forma de capturar a insatisfação social. O governo também não fez nada para revogar as reformas trabalhista e da previdência e tem uma relação autoritária com os trabalhadores e as trabalhadoras em greve, como se viu nas greves dos professores e técnicos das universidades e atualmente na greve dos previdenciários.
Tudo isso contribuiu para a frustração e a vingança da população nas eleições, expressa na votação daqueles que ela percebeu equivocadamente que se posicionavam contra o sistema. A direita e a extrema-direita se aproveitaram dessa frustração da população e fizeram uma campanha política e ideológica explorando temas do senso comum, como a corrupção, questões de gênero, segurança, entre outros.
Essa derrota ocorreu por quê?
Primeiro, o chamado campo democrático-popular renunciou à politização da sociedade, deixando de travar o debate ideológico que sempre foi uma tarefa histórica da esquerda, e não fez a disputa ideológica com as forças de direita e extrema-direita, preferindo a moderação, as alianças com setores da burguesia em todos os campos, o discurso de conciliação e a política de paz e amor, o que se tornou um equívoco muito grave. Segundo, o chamado campo-democrático popular também renunciou à mobilização da classe trabalhadora, preferindo os acordos de cúpula, a substituição das lutas nas ruas e nos locais de trabalho pela institucionalidade.
Esse comportamento só serviu para despolitizar o processo eleitoral, desarmar ideologicamente os/as trabalhadores/as para a luta e abrir espaço para o crescimento da direita e da extrema-direita. Aliás, chegamos a um ponto que parece até ridículo: as ruas, que historicamente sempre foram dos/as revolucionários/as, agora estão sendo ocupadas pela extrema-direita, inclusive por grupos neofascistas.
Em síntese, os partidos e a maioria das organizações do campo democrático-popular estão funcionando nessa conjuntura como uma espécie de bombeiros da luta de classes e uma barreira para a organização e mobilização independente dos/as trabalhadores/as. Dificilmente vão se recuperar no segundo turno, porque continuam com a mesma política e chegam a mistificar os resultados dizendo que no primeiro turno aconteceu uma vitória da frente ampla.
Os comunistas entendem que as massas querem e a conjuntura exige uma política mais agressiva que “ponha o dedo na ferida” da conjuntura brasileira e que associe os problemas locais e sociais ao sistema construído pelos ricos e poderosos em nosso país. A bandeira antissistêmica, a bandeira das críticas ao capitalismo deve ser da esquerda e não da extrema-direita. Até porque a extrema-direita não critica o capitalismo, mas faz encenações que visam alimentar a alienação social sobre a realidade brasileira e a crise na qual estamos mergulhados. Uma vez no poder, age para aprimorar ainda mais a lógica de mercado, avançando com as privatizações e promovendo o aperfeiçoamento do aparato repressivo. É necessário denunciar que a direita e a extrema direita são o próprio sistema, são os defensores de todas as medidas tomadas contra os/as trabalhadores/as, bem como pela miséria em que vive nosso povo.
Nessas circunstâncias e levando em conta as características desse segundo turno das eleições municipais, O PCB orienta sua militância a votar nulo nas cidades em que estejam disputando duas forças da direita ou uma força da direita e outra da extrema direita. Indicamos o voto e manifestamos nosso apoio às candidaturas da esquerda e da centro-esquerda que estão em disputa no segundo turno.
No Estado do Rio de Janeiro, o PCB participa desde o primeiro turno da campanha do companheiro Yuri (PSOL) candidato a prefeito da cidade histórica de Petrópolis-RJ e manifesta seu apoio à candidatura de Rodrigo Neves (PDT) contra a extrema-direita em Niterói-RJ. Em Fortaleza-CE o PCB construiu sua campanha popular com candidatura própria no primeiro turno e manifesta seu apoio à candidatura do companheiro Evandro Leitão (PT) no segundo turno.
Em Porto Alegre-RS apoiamos a candidatura da UP no primeiro turno e, no segundo turno, manifestamos nosso apoio crítico à candidatura do PT. Também manifestamos nosso apoio às candidaturas da companheira Natália Bonavides (PT) em Natal e do companheiro Lúdio (PT) em Cuiabá – MT.
Em São Paulo-SP seguimos construindo e participando ativamente da campanha do companheiro Guilherme Boulos (PSOL) contra o candidato bolsonarista Ricardo Nunes (MDB).
Construir o trabalho de base no rumo do poder popular e do socialismo
Para além das eleições, os comunistas acreditam que a esquerda deve resgatar seu papel revolucionário com a radicalidade que a conjuntura e a luta de classes exigem. Não se combate o neofascismo com conciliação de classes e com subserviência ao sistema. Do contrário, a população vai continuar sendo enganada pela direita e extrema-direita e votando equivocadamente nos seus inimigos, pensando que estão votando contra o sistema.
Está na hora de enfrentar a direita e a extrema-direita com trabalho de base, fazer a disputa política e ideológica com mobilização nas ruas, nos locais de trabalho e moradia, com a denúncia das mazelas do capitalismo e propostas que falem diretamente sobre as necessidades reais da população. A esquerda deve buscar com ousadia e unidade de ação se constituir em uma alternativa real de força, anunciando as mudanças necessárias para a construção do poder popular no rumo do socialismo. Só assim poderemos derrotar a direita e a extrema-direita nas eleições e na luta de classes.
Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)