Carta aberta aos amigos que me perguntam se amigos brasileiros deles que estão criticando Israel são antissemitas
Na euforia que se espalhou como fogo num palheiro, o abaixo-assinado não teve repercussão, mas hoje em dia centenas de cidadãos colocaram o texto em moldura, pendurado nas casas e nos escritórios como ícone.
Restaram poucos da geração dos pioneiros. Estes se sentem traídos pelos governos israelenses, que são acusados com razão pelos 186 países membros da ONU pelos crimes de guerra nos territórios palestinos, os 1.500 mortos palestinos vítimas da última guerra em Gaza e sete soldados israelenses, quatro deles mortos por fogo amigo um ano atrás.
Chamar esses críticos de antissemitas é uma ironia. Governos desse tipo de Israel provocam antissemitismo e obrigam os judeus de todo o mundo a defender esses crimes, justificando esta ocupação que já demora 42 anos.
Os mais famosos intelectuais, artistas plásticos e poetas de Israel, como o maestro Daniel Barenboim, o cineasta Amos Gitai, os escritores Amos Oz, e David Grossman, estão apelando para que os judeus da Diáspora contribuam para pôr fim a essa ocupação vergonhosa, destruir esse muro enorme e terminar com o crescimento dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, que na realidade viram uma espécie de apartheid, política que levou a África do Sul à beira do colapso.
Veja no noticiário a ordem de prisão contra a ex-chanceler Tzipi Livini, decisão do tribunal britânico contra os líderes de Israel, conforme o último relatório da ONU, que acusou o país de crime de guerra, relatório assinado pelo juiz judeu Goldenberg, da África do Sul, confirmado na Assembleia da ONU pelas 186 nações do mundo.
Na mesma notícia foi mencionado que, temerosos do exemplo do tribunal londrino, personalidades, políticos e militares de Israel começam a limitar suas viagens internacionais, para não serem presos. Será que só Israel está acima da Lei?
Estou lembrando nossas atividades contra o apartheid, quando perguntamos, para o visitante da África do Sul, se ele era a favor ou contra o apartheid. Imagine hoje se alguém perguntasse para nós se estamos a favor ou contra as últimas atitudes do governo de Israel e nos defendêssemos, como ele se sentiria?
Muitos dos meus amigos, como o arquiteto Artur Goldireich de Joanesburgo, que fugiu para Israel em abril de 1964, acusado de ser colaborador do grupo de Mandel – e eu cheguei no mesmo dia fugindo da perseguição do Dops -, trocamos experiências sobre esses regimes criminosos.
A tragédia é que este governo atual transformou o regime de Israel num apartheid e ainda exige que todos os judeus da Diáspora o defendam, e com isso virem sócios desse crime.
Como podemos defender uma coisa que está completamente contra nossa educação humanitária de ser israelita, como judeu de valores humanos nobres?
Eu lamento, mas estou admirando os esforços de teus amigos para chegarem até a verdade.
Gershon Knispel é artista plástico.
(Revista: Caros Amigos edição: fevereiro de 2010 pág. 33.)