MORRE JACOB GORENDER, COMBATIVO PENSADOR MARXISTA

Faleceu, aos 90 anos de idade, o jornalista, historiador e escritor Jacob Gorender, nascido em Salvador no ano de 1923, que ingressou no PCB no período da II Guerra Mundial, quando estudante, tendo assumido destacado papel de dirigente nacional do Partido até o golpe de 1964, momento em que decidiu abraçar a luta armada no PCBR. Cedo começou a trabalhar em jornais, como arquivista, repórter e redator. No início de 1942, estudando na Faculdade de Direito de Salvador, participou intensamente da União de Estudantes da Bahia, quando foi contatado por Mário Alves para ingressar no clandestino PCB. No ano seguinte, apresentou-se como voluntário, junto com outros militantes comunistas, à Força Expedicionária Brasileira (FEB) que seguiu para a Itália, certo de estar assim contribuindo para com a luta antifascista. Voltando ao Brasil em 1945, desistiu do curso de Direito para se dedicar, em tempo integral, às atividades do Partido. Tornou-se membro do secretariado do Comitê Municipal de Salvador e do Comitê Estadual da Bahia, passando a secretariar o jornal diário O Momento, fundado pelo PCB. Em fins de 1946, mudou-se para o Rio, a fim de integrar a redação do órgão central dos comunistas, A Classe Operária.

Com a cassação do PCB e o retorno à clandestinidade, Gorender assumiu a secretaria de agitação e propaganda do Comitê Metropolitano do Rio de Janeiro, tendo sido transferido no final de 1951 para São Paulo, onde fez parte do Comitê Estadual até 1953. De volta ao Rio, foi indicado para dar aulas nos chamados “cursos Stalin”, criados para a educação política da militância comunista. No IV Congresso do PCB, em 1954, foi eleito membro suplente do Comitê Central, assumindo a condição de titular no congresso seguinte, em 1960. Dirigiu os jornais comunistas Imprensa PopularVoz Operária e teve destacada participação na elaboração da Declaração de Março de 1958. Rompeu com o PCB após o golpe de 1964 e foi um dos fundadores do PCBR, juntamente com o bravo camarada Mário Alves, torturado e morto nos porões da ditadura. Gorender passou a se dedicar, após a prisão (1970 a 1971) e a frustrada experiência com a luta armada, às investigações teóricas no campo da história e da formação social brasileira, promovendo, com a obra O Escravismo Colonial, segundo Mário Maestri, verdadeira “revolução copernicana nas ciências sociais brasileiras”, ao superar a visão do passado “feudal” brasileiro, que embasara até então as análises da esquerda e, em particular, do PCB, sobre a realidade nacional. Escreveu ainda o importante livro de memórias Combate nas Trevas –  a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada, além de outras obras no campo do marxismo.

Por sua vida dedicada às causas libertárias e suas contribuições originais para o pensamento marxista brasileiro e para a análise da formação histórica de nosso país, Jacob Gorender deixa seu nome gravado na História, entre aqueles que promoveram o bom combate.

*Membro do Comitê Central do PCB