CÂMARA MUNICIPAL DE NOVA FRIBURGO/RJ DEVOLVE MANDATO DO VEREADOR COMUNISTA CHICO BRAVO, CASSADO EM 1964

imagemNo último dia 25, a Câmara Municipal de Nova Friburgo aprovou por unanimidade a devolução simbólica do mandato do vereador comunista Chico Bravo, cassado em 1964. A iniciativa é consequência das ações empreendidas pela Comissão Municipal da Verdade, instituída por lei municipal em junho de 2014 e que recebeu o nome de “Chico Bravo” em homenagem ao único parlamentar cassado na história de Nova Friburgo, por motivos ideológicos.

FRANCISCO DE ASSIS BRAVO nasceu em 1910 na cidade de Nova Friburgo e, com pouco mais de vinte anos, já participava ativamente das lutas operárias no município, contribuindo para a fundação do Partido Comunista na cidade e a formação dos sindicatos de trabalhadores. Houve uma primeira tentativa de organizar o PCB em Friburgo no ano de 1925, através dos padeiros italianos Elpídio e Maradey, assistidos por Otávio Brandão e Minervino de Oliveira. Mas somente quatro anos mais tarde, em reunião no bairro da Vilage, que teria contado com a presença de Astrojildo Pereira, seria concretizada a fundação do Partido no município.

Francisco Bravo, pedreiro, atuou junto aos trabalhadores da Construção Civil, vindo a exercer, mais tarde, durante vários mandatos, a presidência deste Sindicato. Paralelamente à estrutura sindical oficial, os comunistas organizaram a Fração Sindical, para orientar a atuação dos seus militantes dentro dos sindicatos. Lançaram, no início da década de 1930, uma Carta de Reivindicações, com a intenção de mobilizar os trabalhadores em favor de reajuste salarial, melhores condições de trabalho e de propostas como “trabalho igual, salário igual”, visando a igualdade de salários para homens, mulheres e crianças, licença-maternidade de quatro meses (dois meses antes do parto e dois meses depois) e creches nos locais de trabalho.

Em janeiro de 1933, estourava uma greve que iria canalizar as atenções de toda a cidade, preocupando, inclusive, as autoridades estaduais. O movimento, iniciado na Fábrica de Rendas Arp, envolveu as principais indústrias têxteis e desencadeou manifestações, como a passeata que sofreu violenta repressão policial, a qual provocou a morte do jovem operário Licínio Teixeira e feriu catorze trabalhadores. Chico Bravo e outros companheiros encarregaram-se de pintar uma faixa convocando a população para um ato de protesto contra a repressão policial e a morte de Licínio. Escreveram na faixa, com tinta vermelha: “O SANGUE DE LICÍNIO CLAMA POR VINGANÇA”, e muitos acreditaram que os dizeres haviam sido pintados com o próprio sangue de Licínio.

A repressão foi um prenúncio do que ocorreria no período transcorrido entre a Revolta Constitucionalista de 1932 e o golpe do Estado Novo, em 1937. Aqueles anos assistiram o acirramento das disputas ideológicas na cidade e das lutas renhidas entre comunistas e integralistas. Vários daqueles que haviam integrado a linha de frente da Aliança Nacional Libertadora na cidade foram presos e enviados a Niterói. Francisco Bravo conseguiu escapar da polícia, refugiando-se no distrito de Amparo.

Com o fim do Estado Novo no imediato pós-guerra, o movimento operário voltou a viver um momento de ascensão: entre 1945 e 1948 foram constantes as lutas travadas contra os patrões por melhores salários e condições mais favoráveis de trabalho. Várias greves eclodiram, e a diretoria pelega do Sindicato Têxtil foi atropelada pelo movimento encabeçado pelos comunistas, organizados em torno do MUT (Movimento de Unificação dos Trabalhadores), a frente sindical do PCB. Os anos 1950/60 viram crescer os grupos nacionalistas e de esquerda, o que, em Nova Friburgo, tornou-se visível com o resultado das eleições de 1962. Na Câmara Municipal, a novidade era a eleição do líder operário Francisco Bravo, único vitorioso pelo PST, o partido de Tenório Cavalcanti, que abrira suas portas para os comunistas. Chico Bravo, então com 52 anos, conquistou a duras penas a sua eleição para vereador, pois o clero católico conservador batia de porta em porta pedindo às pessoas que não votassem nos candidatos comunistas.

No ano de 1964, sob intensa articulação do empresário Heródoto Bento de Mello, então vice-prefeito, o cerco se fechou em torno do Prefeito Vanor Tassara Moreira, que seria apontado pelos meios de comunicação locais como a integrar a “causa comunista”. Acusado pelo diretor do Sanatório Naval de “incitamento à desordem, fechamento das fábricas à força e hasteamento do pavilhão nacional a meio pau”, conforme nota dos militares publicada na imprensa e após IPM (Inquérito Policial Militar) instaurado contra ele, Vanor foi obrigado a renunciar ao cargo de prefeito no dia 10 de abril. O expurgo final foi promovido através da cassação do Vereador Francisco de Assis Bravo, no dia 14 de abril de 1964. A Resolução Legislativa nº 86 interrompeu a trajetória parlamentar do líder operário que, no Legislativo, destacara-se por suas intervenções firmes e pela defesa dos interesses dos trabalhadores.

Os comunistas friburguenses somente voltaram a atuar sob a luz da legalidade em 1985, quando, formada uma Comissão Executiva Municipal, Francisco Bravo foi conduzido à Presidência do PCB de Nova Friburgo. Naquele mesmo ano era empossado na Presidência de Honra da Associação dos Aposentados da cidade. Em 16 de julho de 1998, Francisco Bravo faleceu, com 88 anos de uma vida exemplar, cuja marca maior foi a preocupação com os desvalidos de nossa sociedade. Para nós, o que fica de Chico Bravo é o espírito de solidariedade de alguém que, já nos idos da década de 1930, ajudava aqueles que vinham do interior à busca de emprego na zona urbana, arranjando agasalhos e reunindo algum dinheiro para comprar comida e alimentá-los. Como dizia o Bravo: “Aqui em Nova Friburgo era uma porta da esperança porque eles vinham batidos pela fome … então a gente tinha que dar uma identidade a eles … era um trabalho árduo, difícil”. Também nos fica a imagem do homem empertigado, ereto, durante suas caminhadas pelas ruas de Friburgo, a demonstrar a firmeza de quem nunca vergou diante das adversidades provocadas pelas inúmeras perseguições políticas e que tampouco deixou de acreditar no seu ideal de bravo comunista, sem dúvida nenhuma o quadro mais dinâmico que o PCB de Nova Friburgo possuiu em sua história.

Categoria