Raphael Martinelli – 100 anos de lutas

Por Guilherme Corona

Jornal O MOMENTO – PCB da Bahia

Há 4 anos, o Brasil perdeu um dos grandes heróis da sua história, Raphael Martinelli, que em 2024 faria 100 anos, a maior parte na luta de classes.

Martinelli começou a trabalhar cedo, aos 17 anos, passando por diversos ofícios, como fundidor, torneiro mecânico, até chegar a um cargo administrativo na São Paulo Railway. Já nessa empresa, vai começar sua trajetória militante, sendo eleito representante sindical e defendendo firmemente os direitos dos trabalhadores.

Mais tarde, começaria sua trajetória política no PCB, na época ainda chamado de Partido Comunista do Brasil, na década de 40, como militante sindical. Foi então presidente da Federação Nacional dos Ferroviários entre 1959 e 1961 e membro do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) até a sua dissolução pela ditadura militar em 1964.

Após o golpe, debates sobre a forma de resistência à ditadura ocorrem dentro do PCB, e sendo vitoriosa a linha da resistência de massas, sem luta armada, Martinelli, junto a outros camaradas liderados por Carlos Marighella, saem do partido em 1967, e fundam a Aliança Nacional Libertadora (ALN), decidindo pegar em armas contra a ditadura.

Em 1970, Martinelli é preso em Oban (SP), passando 3 anos e 3 meses na prisão, período que marca a sua vida e reafirma a sua convicção de lutar pelos direitos dos trabalhadores e pelas liberdades democráticas. Em 1973, saído do cárcere, Martinelli decide cursar direito, se tornando advogado aos 50 anos.

Com o processo de abertura no início dos anos 80, Martinelli participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Além disso, foi um dos fundadores do Fórum de Ex-Presos e Perseguidos Políticos e do Memorial Vladimir Herzog, retomando seu compromisso com a luta por memória, verdade e justiça.

A partir dos anos 2000, já na sua velhice, Martinelli vai trabalhar junto a outros antigos companheiros de luta para criar a Liga Latino-americana de Irredentos, composta por diversos militantes que participaram dos processos de guerrilha pela América Latina, contra as ditaduras e na perspectiva do socialismo.

Em 2020, aos 96 anos, Martinelli sucumbiria por questões de saúde, encerrando quase um século de lutas, sempre ressaltando a radicalidade, a persistência e o compromisso com a classe trabalhadora. Mesmo após 100 anos de seu nascimento, Raphael Martinelli continuará sendo uma fonte de inspiração para as novas gerações de militantes que se forjam na luta de classes.