40 ANOS SEM VLADO HERZOG: O PCB NA LUTA CONTRA A DITADURA
No último dia 21 de outubro, a sede nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) abrigou atividade organizada pela Fundação Dinarco Reis em memória do assassinato de Vlado Herzog, jornalista e militante do PCB barbaramente torturado e morto nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, em 25 de outubro de 1975. A mesa redonda contou com a participação dos dirigentes nacionais do PCB Muniz Ferreira, Ricardo Costa e Paulo de Oliveira, que expuseram suas considerações acerca do processo histórico em que se deu a implantação da ditadura após o golpe de Estado de 1964 e a ofensiva da repressão ao PCB, intensificada nos anos de 1974 e 1975, com a chamada Operação Radar.
O debate foi precedido pela fala de Ivan Pinheiro, Secretário Geral do PCB, que relacionou o resgate do período histórico objeto da atividade com o momento atual, em que uma forte onda conservadora no mundo e no Brasil gera manifestações de ódio e intolerância por grupos fascistas contra as organizações de esquerda e os defensores da ampliação das liberdades democráticas, a exemplo dos ataques recentes sofridos pelo camarada Mauro Iasi e pelo PCB.
Os palestrantes analisaram o processo de perseguições sofrido pelos comunistas com a Operação Radar, criada pelos órgãos de repressão para desarticular o PCB, em todo território nacional. Nos anos de 1974 e 1975, foram sequestrados, torturados e assassinados 10 membros do Comitê Central e 3 camaradas com tarefas nacionais, ligadas centralmente à manutenção do jornal, às finanças e às relações internacionais: Célio Guedes, David Capistrano da Costa, Walter Ribeiro, José Roman, Luiz Inácio Maranhão Filho, João Massena de Melo, Élson Costa, Hiram de Lima Pereira, Jayme Amorim de Miranda, Itair José Veloso, Nestor Vera, Orlando Bonfim Júnior e José Montenegro de Lima. O plano, aplicado durante o governo de Ernesto Geisel, que cinicamente falava em “distensão lenta, segura e gradual” do regime, era desestruturar totalmente a organização do PCB. Segundo Muniz Ferreira, tratava-se de uma ação vinculada à lógica da “guerra revolucionária” e da doutrina de segurança nacional, em que todas as organizações que tivessem como estratégia organizar a luta em favor de transformações na perspectiva de suplantar o capitalismo, mesmo que não tivessem aderido à luta armada, deveriam ser destruídas pelo aparato repressivo do Estado.
Paulo Oliveira, testemunha ocular e sujeito histórico daqueles eventos, na condição de militante estudantil e bancário, lembrou que células importantes do PCB foram alvo do ataque sanguinário da ditadura, com destaque para as bases comunistas, em São Paulo, dos metalúrgicos, estudantes e jornalistas. Ricardo Costa abordou parte da biografia de Vlado Herzog, cuja família fugiu do nazismo na Iugoslávia e, em 1946, veio para o Brasil, instalando-se em São Paulo. Com o processo de naturalização, Vlado passou a ser chamado Vladimir. Nos anos 1970, após ter ingressado na célula de militantes do PCB na Revista Visão e pelo trabalho realizado na TV Cultura de São Paulo, Herzog também foi vítima da perseguição dos agentes da repressão, que já haviam sequestrado e torturado vários profissionais de imprensa, no mesmo ano em que jornalistas de esquerda lideraram o Movimento de Fortalecimento do Sindicato (MFS) e venceram as eleições sindicais. Violentamente torturado, negou o quanto pôde pertencer à célula comunista e não entregou ninguém, mas não aguentou a sessão de choques e pancadas. A morte de Vlado Herzog desencadeou uma onda de protestos contra a ditadura, liderada pelo Sindicato dos Jornalistas, contribuindo para o início de um longo processo de desgaste do regime, levando ao processo de transição democrática hegemonizada por setores liberais burgueses, os quais não tiveram interesse em desmontar o conjunto do aparato repressivo criado pela ditadura.
Após a mesa redonda, houve participação dos presentes, com falas e perguntas. Ao final, o camarada Dinarco Reis Filho, presidente da Fundação que leva o nome de seu pai, histórico dirigente do PCB, relatou parte das suas experiências na organização do Partido e nas lutas contra a ditadura, destacando a participação dos petroleiros do Rio de Janeiro.