A vitória de Trump e suas possíveis consequências para a luta de classes nos EUA e no mundo
No próximo dia 20 toma posse o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Sua vitória, que contrariou todas as previsões, gera um quadro de mudanças e incertezas nas políticas interna e externa dos EUA que têm implicações diversas para a luta de classes.
A eleição foi marcada por fatos importantes como a campanha de Bernie Sanders, que, a partir de uma plataforma de esquerda, atraiu milhões de jovens e criou um novo polo político progressista nos EUA, mas revelou, também, a ascensão de grupos e movimentos conservadores e reacionários, que marcharam com Trump por conta de suas posições preconceituosas contra mulheres, negros, homoafetivos, imigrantes, muçulmanos e outras minorias. Os votos decisivos foram dados por trabalhadores desempregados de estados que, até alguns anos atrás, sediavam importantes indústrias, como a automobilística, hoje desativadas, atraídos pelas promessas protecionistas feitas pelo candidato Republicano. Foi igualmente importante o voto dos americanos brancos, de classe média, menos instruídos e mais conservadores, que simpatizam com o estilo cowboy grosseiro do novo presidente. O voto em Trump, um quase outsider, que já foi membro dos dois grandes partidos americanos, refletiu também, a exemplo da campanha de Sanders, o desgaste do sistema político tradicional.
Hillary, se eleita, não alteraria a natureza do Estado americano, que seguirá em suas ações imperialistas em defesa da burguesia monopolista e de suas grandes empresas, buscando garantir suprimentos diversos por todos os meios, com destaque para o uso da força militar, em outros países. Trump anunciou que não intervirá tanto como Bush e Obama, e afirmou que os EUA se afastarão de fóruns, blocos e acordos comerciais internacionais, voltando-se mais para o mercado interno e reforçando, assim, a tendência à multilateralidade, o que deve ser visto com cautela, pois o Estado norte-americano sempre agiu de acordo com as necessidades e interesses do grande capital. Temas como a agenda ambiental global terão menor presença estadunidense. Ao mesmo tempo, Trump volta a ameaçar a China, aponta para a revisão dos acordos firmados pelos EUA com Cuba e Irã, gerando apreensões e elevando a tensão mundial.
No plano interno, a pauta imediata se concentrará na retirada de direitos sociais e trabalhistas e na tentativa de aumentar o nível de emprego com medidas “populistas” e de direita, conjugadas com ações protecionistas. Refletindo a crise e a onda conservadora mundial, crescem a intolerância religiosa, o ódio racial e os ataques aos imigrantes, e organizações como a famigerada Ku-Klux-Klan voltam a ocupar as ruas. A composição anunciada de seu secretariado, que inclui até racistas declarados, demonstra que o novo governo vai recrudescer a repressão contra os imigrantes, os negros, os pobres, os trabalhadores organizados, numa linha de claro reacionarismo social.
Entretanto, muitos protestos e mobilizações contra as propostas políticas e atitudes de Trump vêm se fazendo presentes, com indícios de que a luta de classes tende a se acirrar no centro nervoso do capitalismo mundial.