Movimentos convocam Greve Ambiental Mundial

imagemOLHAR COMUNISTA

Sindicatos, organizações políticas, movimentos sociais e personalidades internacionais como Noam Chomsky estão convocando a população mundial para uma greve geral, de 20 a 27 de setembro, voltada para a denúncia da degradação ambiental e a mobilização para o enfrentamento da crise climática. No mesmo dia 20 de setembro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, convocou os países para a Cúpula do Clima, cujo objetivo é incentivar o aumento do comprometimento dos governos com as metas acordadas em 2015, em Paris, para a redução da emissões de gases do efeito estufa – e até para superá-las.

A continuidade da vida no planeta está seriamente ameaçada, uma vez que os sistemas naturais vêm sendo submetidos a uma imensa e crescente pressão nos níveis de poluição do ar e das águas, no desmatamento, no consumo de água, na utilização de recursos não renováveis em grande escala, como nos casos do petróleo e do carvão, principalmente para a geração de energia, precipitando o seu esgotamento. Os estoques de alguns metais já são muito baixos: 10 anos para o chumbo, por exemplo; o petróleo, se nada mudar, tem reservas para um período entre 40 e 70 anos, ou seja, um futuro bastante próximo.

O aquecimento global é um fato e vem gerando efeitos muito graves como o derretimento de geleiras, a elevação do nível dos mares, as secas, os furacões, as mudanças climáticas em geral, com consequências desastrosas para populações numerosas, principalmente aquelas dos países e regiões mais pobres. A temperatura média da Terra, que em 2018 foi a quarta mais alta registrada até hoje (0,79 graus acima da média do século XX), pode aumentar mais do que 2 graus, um limite definido na Conferência de Paris, em 2015 (sem os Estados Unidos…). Vale lembrar que, na última era glacial (há 60 milhões de anos), a queda da temperatura média do planeta foi de apenas 5 graus. A situação é grave: a concentração de gás carbônico e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera, como o metano, já passou do limite que o sistema Terra é capaz de suportar. O mesmo se pode dizer da perda da biodiversidade, da acidificação dos mares e outros fatores. Cabe lembrar que os fatores de impacto ambiental são cumulativos e apresentam, em geral, crescimento exponencial.

A pressão sobre o meio ambiente vem se acelerando mais e mais desde o início da revolução industrial. Empresas privadas cada vez maiores produzem bens de consumo em massa, consumem água, madeira, ferro, carvão, geram resíduos sólidos e poluição do ar e das águas em grande volume. Os oceanos são invadidos por milhões de toneladas de plásticos e outros resíduos em volume maior do que podem absorver. A produção agrícola em grande volume, mecanizada, em regime de monocultura, é sustentada com elevadas doses de agrotóxicos, sendo diretamente responsável pela ocupação de áreas florestais e pelo esgotamento e contaminação dos solos. No Brasil, a pecuária extensiva e a exploração ilegal e descontrolada da madeira em florestas nativas, como na Amazônia, são as causas principais do fenômeno das queimadas que se sucedem ao desmatamento, aliadas à especulação para a possível apropriação privada das áreas desmatadas.

O risco de desastre ambiental e social foi levantado pelo Clube de Roma, uma reunião de estudiosos do tema que, em 1968, após projetar para o futuro os números referentes à produção industrial e agrícola, consumo de recursos naturais, população e poluição – todos crescentes –, concluiu que, se nada fosse feito para alterar aquelas tendências, haveria um colapso na sociedade, causado pela degradação ambiental e pela escassez de recursos, levando à queda na produção industrial e agrícola e, consequentemente, à fome generalizada e à redução da população. A proposta que adveio do Clube de Roma, debatida na I Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, em Estocolmo, 1972, foi a do crescimento zero de todas as economias, para que tudo continuasse como estava – os países ricos seguiriam ricos e os países pobres seguiriam pobres –, ou seja, a opulência de poucos estaria garantida à custa da pobreza e da miséria de muitos. A proposta foi rejeitada tanto pelos governos dos países ricos – que queriam ser mais ricos – quanto pelos dos países pobres – que queriam sair da linha da pobreza.

A questão de fundo da crise ambiental é a lógica da acumulação capitalista, a lógica da expansão eterna dos mercados, da produção em massa, do lançamento sistemático de novos produtos, como se os recursos naturais fossem infinitos, uma lógica diretamente associada à tendência de concentração de renda, que deixa cada vez mais pessoas fora do mercado de trabalho. No Brasil, são poucos os que se beneficiam do agronegócio, são poucos os bilionários que controlam as grandes empresas industriais; no plano internacional, um exemplo da exploração de classes está nos números dos Estados Unidos, que possuem 6% da população e mais de 30% da riqueza produzida no mundo.

Assim, os recursos da natureza, transformados em mercadorias, são apropriados de forma diversa pelas diferentes classes sociais, para o benefício dos proprietários de fábricas e fazendas, para o sacrifício e a miséria dos que só dispõem de sua capacidade de trabalho para viver. Nos dias de hoje, para compensar a tendência de queda nas taxas de lucro das empresas, no longo prazo, o capitalismo assume formas cada vez mais truculentas e selvagens de exploração da natureza, com o uso de agrotóxicos mais nocivos ao solo e à saúde humana, a exploração de petróleo em regiões onde há elevado risco de contaminação ambiental, como no Alasca, na extração de óleo incrustado em rochas, por fracking, na devastação de florestas para venda da madeira e criação de gado.

Os governos representativos dos interesses burgueses, dos grandes capitalistas e bilionários que dominam a economia e o mundo das finanças, a exemplo dos Estados Unidos e seus aliados, não hesitam em realizar, sistematicamente, ações políticas e militares de ingerência, agressão e mesmo de invasão em países detentores de reservas de petróleo e outros recursos estratégicos, para que o elevado padrão de consumo interno de suas “elites” econômicas e camadas sociais associadas não se reduza, levando à manutenção do poder político atual. Não é por acaso que as mais recentes intervenções militares dos Estados Unidos e seus aliados tenham se dado na Líbia, no Iraque, na Síria. Pela mesma razão, além do combate ideológico a qualquer governo que enfrente o imperialismo estadunidense, se afaste do liberalismo ou implemente ações de distribuição de renda e de promoção de direitos sociais, buscam demonizar os regimes do Irã e da Venezuela.

As respostas à crise ambiental que vêm da classe burguesa se circunscrevem na chamada Economia Verde, que tem por base a economia de livre mercado, onde todos os bens ambientais são de propriedade privada e se convertem em mercadorias, com preços ditados pelas forças de mercado. Terras, rios, peixes, ar, tudo está à venda. Nesse pensamento, são propostas ações de mitigação de danos ambientais a partir de iniciativas individuais ou de empresas – que teriam de ter mais “consciência ambiental” – criando e fortalecendo a ilusão de que é possível mudar os rumos ambientais a partir de iniciativas individuais, e pondo nas pessoas a culpa pela degradação. O crescimento da população mundial, hoje em torno dos 7 bilhões, concentrado, principalmente, nos países mais pobres, é apontado também como culpado. Ou seja, os pobres são os culpados pela pobreza.

Mesmo quando são propostas intervenções governamentais, como na cobrança de impostos sobre a poluição gerada, ou na regulamentação da produção e do consumo, como na recente proibição da fabricação de lâmpadas incandescentes e sua substituição por outras que consomem menos energia, não é feito qualquer questionamento à lógica perversa do mercado e do capitalismo, em suas imensas escalas de utilização de recursos naturais.

Fala-se em desenvolvimento e em sustentabilidade – duas preocupações sem dúvida fundamentais – sem qualquer questionamento ao padrão de desenvolvimento predominante, hoje, no mundo, o desenvolvimento capitalista, em si mesmo insustentável e gerador de imensas desigualdades sociais, um desenvolvimento que coloca em risco a própria humanidade.

Lutar por um outro padrão desenvolvimento é mais do que necessário e urgente. Esse novo padrão a ser buscado deverá enquadrar-se nos limites físicos do planeta, na sustentabilidade, mas deverá também opor-se aos resultados do padrão atual, o padrão capitalista, cujos resultados são a degradação ambiental, a opulência de poucos e a pobreza e miséria de muitos, em todo o mundo. Será um desenvolvimento lastreado em outra concepção de sociedade, justa, fundada em valores como o altruísmo e a solidariedade, onde o poder será exercido diretamente por todos os que constroem a riqueza, por todos os trabalhadores, onde todos terão suas necessidades básicas atendidas, todos terão saúde, educação, cultura.

As lutas ambientais são de todos os que desejam construir essa nova sociedade. São lutas claramente anticapitalistas, que devem ter papel e lugar de destaque nas agendas políticas de partidos, sindicatos, organizações e movimentos sociais comprometidos com a justiça social.

O Partido Comunista Brasileiro se soma às lutas contra a destruição ambiental promovida para favorecer os interesses capitalistas e se propõe a participar diretamente de uma agenda comum de mobilização para canalizar denúncias de agressões à natureza e avançar com vistas à superação do quadro atual, pavimentando o caminho necessário para a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento e a construção revolucionária da nova sociedade, a sociedade socialista.