México exige perdão pelas atrocidades do período colonial
Secretaria de Relações Internacionais do PCB
A BBC News World noticiou, na última segunda-feira, dia 25 de março, que o presidente do México, López Obrador, escreveu cartas ao rei da Espanha Felipe VI e ao Papa Francisco exigindo que os dois Estados peçam perdão aos povos originários pelas atrocidades cometidas durante a conquista do México, há 500 anos, “pelas violações do que hoje é conhecido como direitos humanos”. “Houve massacres, imposições, a chamada Conquista foi feita com a espada e com a cruz”, afirmou o presidente do México.
Obrador assegurou ainda, em declaração recente, que também pedirá perdão aos povos indígenas do país, principalmente os maias e os yaquis, durante o governo do presidente Porfirio Díaz (1872-1910), que sufocou as revoltas populares contra as contínuas expropriações e a exploração dos brancos e mestiços sobre os povos originários, a exemplo da chamada Guerra de Castas, rebelião maia que criou um estado independente no Iucatã. Estas rebeliões foram sufocadas pelo então governo mexicano com a mesma violência usada no período colonial, por meio de massacres, deportações em massa e escravização dos indígenas rebelados. Obrador indicou que o ano de 2021 será “o ano da reconciliação histórica”.
Segundo a BBC, o governo da Espanha respondeu com uma declaração na qual lamentava que a carta tivesse sido tornada pública, asseverando ter sido “firmemente rejeitado” o seu conteúdo. No comunicado, o governo espanhol alega que os fatos ocorridos à época da chegada dos espanhóis não podem ser julgados “à luz de considerações contemporâneas” e que os dois povos – espanhol e mexicano – sempre leram a história sem raiva e com perspectiva construtiva.
A história da “conquista” das Américas, da África e de outras regiões do mundo por potências europeias é repleta de episódios de grande violência, como o saque às riquezas naturais, os massacres e a escravização de povos inteiros para gerar mais riqueza para os exploradores. À expansão colonial de Portugal e Espanha, nos séculos XV e XVI, sucederam-se, nos séculos seguintes, ações equivalentes de outros países europeus, como Inglaterra, Holanda, Alemanha e França. Muitos fatos desse período são pouco conhecidos, como o extermínio de povos inteiros na região da atual Namíbia, pelos alemães, os assassinatos e as mutilações de congoleses operados pelos belgas, entre outros episódios.
Conhecer, entender e superar criticamente o passado, é um passo essencial para a construção de um futuro alternativo para a humanidade, com a eliminação das causas profundas que geraram todos esses fatos, a ganância, a submissão de um povo por outro povo, elementos que continuaram presentes no processo de expansão imperialista dos séculos XIX e XX e ainda se mantêm nos dias de hoje, embasando as formas mais grosseiras de acumulação capitalista. Exemplos como as ações do grupo Boko Haram, na Nigéria, e dos novos mercadores de pessoas na Líbia são pequenas amostras do fenômeno.
O desenvolvimento atual do capitalismo se aproxima do padrão mais selvagem da escravidão formal, induzindo, nos países mais desenvolvidos, que imigrantes oriundos das regiões mais pobres do mundo sejam usados, por empresas privadas, como trabalhadores em condições extremamente precárias e sem quaisquer direitos, tendo, muitas vezes, o crime e a prostituição como alternativas de sobrevivência, levando ao limite a exploração do homem pelo homem, que é a base da geração de riqueza – para poucos – no capitalismo.
O gesto de López Obrador – mesmo que simbólico – merece o aplauso e o reconhecimento de todos os que lutam pela emancipação humana.
Ilustração: Llegada de Hernan Cortés a Veracruz (1951) – Diego Rivera