OLHAR COMUNISTA – 30/05/2017

imagemBNDES: novo presidente é “puro sangue” da burguesia 

A indicação de Paulo Rabello de Castro, atual presidente do IBGE e amigo do presidente Temer, foi a solução “doméstica” encontrada pelo governo para ocupar a presidência do BNDES, após a renúncia da economista Maria Sílvia Bastos.

Apesar de representar interesses do capital, Maria Sílvia vinha sofrendo muitas críticas de entidades empresariais como a Fiesp, pois, dentre outros movimentos, defendeu que o BNDES fosse mais “seletivo” nos financiamentos e atuasse mais na coordenação do que na concessão de créditos para o novo programa de concessões criado por Temer. Além disso, suspendeu a liberação de recursos para empresas denunciadas na Operação Lava Jato e acabou com os “empréstimos-ponte” concedidos às empresas enquanto o Banco fazia a análise dos financiamentos de longo prazo. A Confederação Nacional das Indústrias, CNI, pedia “celeridade” na liberação dos recursos do Banco. Muitas destas entidades já manifestaram o seu agrado com o novo presidente.

O episódio demonstra a fissura entre as frações da classe burguesa no frágil bloco de poder montado para manter o governo golpista. Cada vez mais isolado na sociedade, o governo buscou, para o BNDES, um nome que agradasse mais diretamente ao empresariado. Paulo Rabello foi diretor do grupo Lide, criado pelo atual prefeito de São Paulo, João Dória. O grande empresariado brasileiro quer que o BNDES, assim como outras agências públicas, se volte apenas para os seus interesses diretos, sem qualquer mediação e sem qualquer espaço para que o BNDES e outras agências possam pensar novos rumos para o desenvolvimento do país. Dentro dessa lógica, não há o menor interesse em liberar recursos para projetos que sejam voltados à preservação do meio ambiente, à soberania nacional e à promoção da justiça social.


Uso das Formas Armadas para conter manifestações democráticas é intolerável

No último dia 24 de maio, a gigantesca manifestação na Esplanada dos Ministérios demonstrou a grande insatisfação popular contra as medidas de “ajuste fiscal” e as contrarreformas que retiram direitos históricos dos trabalhadores, iniciativas promovidas pelo governo usurpador e a maioria subserviente do Congresso, que agem unicamente para favorecer os interesses do capital. A manifestação foi reprimida de forma violenta, através de uma intervenção ordenada e generalizada da Polícia Militar, que usou bombas de gás, balas de borracha e outros artefatos para dispersar a atividade. Mas o governo, desta vez, não se satisfez com o nível de violência e convocou as Forças Armadas para reforçar a repressão.

O direito de livre manifestação é uma das principais conquistas obtidas no processo de lutas pelas liberdades democráticas, em oposição à ditadura empresarial-militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. É intolerável o uso do Exército para esse tipo de ação, pois essa não é a sua missão e os soldados não têm esse tipo de treinamento. É preciso avançar na luta para remover os resquícios ainda existentes do aparato repressor herdado da ditadura, com a revogação inclusive da Lei “Antiterrorismo” aprovada pelo governo Dilma, que acaba servindo de justificativa para o uso da repressão pelo governo golpista e por governos estaduais contra as manifestações populares.


Paulo Maluf (finalmente) condenado a sete anos de prisão

Em meio à onda de denúncias de corrupção que tornam cada vez mais clara a natureza sistêmica desse fenômeno, a ligação direta entre o Estado e as grandes empresas, a notícia da condenação de Paulo Maluf, por lavagem de dinheiro, é divulgada com muitos anos de atraso. Maluf deixou atrás de si um rastro de denúncias quando esteve no governo de São Paulo, com direito à acusação de roubo de dinheiro público, conta secreta no exterior e criação de empresas artificiais para a lavagem de dinheiro. Seguiu seu caminho de corrupção como deputado federal, quando fez parte da base de apoio ao governo Lula.

Cai, assim, um dos principais símbolos dos muitos empresários que enriqueceram durante a ditadura, trocando favores econômicos e financeiros por apoio político ao regime, e seguiram impunes nas décadas seguintes.


Primeira viagem de Trump ao exterior: cinismo e grandes negócios

O giro realizado pelo presidente estadunidense Donald Trump, nos últimos dias, ao Oriente Médio, e sua participação na reunião do G-7, o grupo dos sete países mais desenvolvidos do planeta, tiveram a marca da defesa direta dos interesses econômicos dos EUA, sem quaisquer mediações.

Os interesses econômicos foram materializados pelos contratos bilionários de vendas de armas à Arábia Saudita – principal aliado norte-americano na região, juntamente com Israel. O cinismo esteve igualmente presente: Trump fez um chamado à unidade contra o terrorismo internacional e atacou, com ameaças, o governo do Irã. Em Israel, rezou no Muro das Lamentação, um dos símbolos do Judaísmo, e reuniu-se com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

O apoio dos EUA aos sauditas, ditado por interesses militares, econômicos e políticos do país na região, faz vista grossa ao regime monárquico absolutista da Arábia Saudita e de muitos outros países da região, onde não há eleições, nem garantias de direitos civis para grande parte da população, com destaque para as mulheres. O movimento dos EUA lança suspeitas sobre um possível apoio do Irã – um país onde, ainda que com muitas limitações, há eleições gerais -, ao terrorismo internacional, quando é plenamente sabido que muitos dos grupos que fazem terrorismo no mundo têm origem na Arábia Saudita.

O mesmo cinismo esteve presente na visita a Israel, país que pratica, diuturnamente, ações genocidas contra o povo palestino, e na visita à Palestina, quando nenhuma ação ou proposta efetiva de paz e justiça foi colocada na mesa de negociações. Na reunião do G-7, Trump deu as costas para a proposta de acordo feita para uma política de cotas de imigrantes e, mais uma vez, não acenou para a assinatura do Acordo Internacional sobre Mudanças Climáticas, lançado em Paris, em 2015, voltado para a redução das emissões de CO2.

Trump vem enfrentando crescente oposição interna e muitas insatisfações no plano internacional. No entanto, nada parece influir na conduta e nos objetivos de sua presidência.