A luta de classes e a difícil questão das nacionalidades na Espanha
OLHAR COMUNISTA – 22/09/2017
Um plebiscito a ser realizado no dia primeiro de outubro próximo poderá decidir a criação de mais um estado nacional na Europa: nesse dia, a população da Catalunha votará pela separação – ou não – de sua região do Estado espanhol. Outras regiões da Espanha, como o país basco, poderão seguir o mesmo caminho, no curto prazo.
A disputa pela independência reflete a herança do processo de construção burguesa da identidade nacional, em que, especialmente ao final de sua fase colonialista em 1898, foi incapaz de se desenvolver como um país que reconhecesse a realidade de seu caráter plurinacional, deixando de promover a convivência necessária entre as diferentes culturas e povos, com suas línguas e costumes específicos. Pelo contrário, o Estado Espanhol se desenvolveu como uma camisa de força para os povos oprimidos sob a ditadura do capital.
Os orgulhos nacionais permaneceram e foram exaltados, provocando conflitos e lutas das regiões contra o poder central. Mariano Rajoy, atual governante espanhol, representa a continuidade do projeto político da velha Espanha, que fracassou na intenção de unificar os distintos povos e nações. Sempre ignorando os direitos das populações, a política oficial se deu historicamente e continua se dando por meio da utilização dos aparatos do Estado e da intervenção repressiva das tropas policiais.
O processo que se verifica na Catalunha, sob a iniciativa de um amplo setor de sua burguesia, tem por objetivo a melhor colocação desta classe social na cadeia imperialista. A burguesia local tem interesse em se relacionar diretamente com outros países. Trata-se, portanto, de um confronto aberto entre a burguesia catalã e a oligarquia espanhola e não de um processo de liberação nacional de base popular, apesar de se utilizar dos sentimentos nacionais historicamente arraigados no povo, para obter legitimação junto às massas.
Marx falava na escala de tempo de séculos para a materialização de mudanças culturais de fundo. Cabe aos comunistas e a todos os que lutam por igualdade social saber levar em conta essa questão, como uma mediação importante, mantendo sempre a orientação de que o principal conflito a ser enfrentado é a luta de classes, entre o Trabalho e o Capital.