Cenário de queda de juros pode levar à maior concentração no setor bancário
OLHAR COMUNISTA – 01/01/2018
A tendência atual de queda na taxa de juros, puxada pela política de redução gradual da taxa Selic, fixada a cada mês pelo Conselho de Política Monetária – Copom -, poderá implicar na inviabilização de bancos de pequeno e até de médio porte. A razão é que, com juros baixos, as operações com os títulos públicos ficam menos rentáveis, e, assim, os bancos menores, para compensar, terão de emprestar mais no varejo, e, por conseguinte, como têm custos operacionais maiores e menos capilaridade que os bancos maiores, muitos deles tendem a fechar ou a ser absorvidos pelas instituições de maior porte, levando à maior concentração no setor.
A tendência de concentração do capital, com a redução do número de empresas e a absorção das empresas de menor porte e menos rentáveis pelas empresas maiores, é uma tendência geral do capitalismo, presente em todos os setores da economia, hoje, em sua grande maioria, dominados por oligopólios (poucas empresas responsáveis pela maior parte da produção), tendendo ao monopólio (uma só empresa). Essas configurações aumentam o poder das empresas de impor preços mais elevados aos consumidores. A presença de conglomerados – grupos de empresas de diferentes setores sob controle centralizado do capital – é outra tendência universal do sistema.
No setor bancário, tem grande influência na determinação da taxa de juros cobrada pelos bancos privados e públicos a taxa paga pelo governo federal aos que detêm os títulos públicos por ele emitidos para captar recursos. A política de redução dessa taxa, que vem sendo operada nos dois últimos anos, visa a estimular a economia, tanto pelo lado do consumo quanto pelo investimento privado. Muitos países capitalistas, incluindo-se os desenvolvidos, se utilizam desse instrumento para combater as crises econômicas recessivas, chegando até, em alguns casos, aos juros negativos.
No caso brasileiro, em que o setor bancário sempre lucrou com a inflação e a recessão, pelas elevadas taxas de juros cobradas, restringindo a expansão da indústria e de outras atividades econômicas e levando os especuladores financeiros`ao enriquecimento fácil, a redução do número de bancos pode aumentar ainda mais o poder dessas instituições, tornando as coisas mais difíceis para os clientes. Como se trata de uma tendência geral do sistema, somente com a presença de bancos públicos fortes se pode combater a influência e o poder dos grandes bancos privados. A solução, assim, para que se possa ter, no Brasil, uma retomada do desenvolvimento voltado para as demandas da maioria da população, é a estatização do setor bancário, com a absorção dos bancos menores em situação de inviabilidade e o fortalecimento dos atuais bancos públicos, apontando para a propriedade e o controle estatal sobre todo o setor.