A América não tem dono
Mais uma vez, sob a Doutrina Monroe, os Estados Unidos pretendem tornar a região seu quintal
Gabriela Ávila Gómez
‘AMÉRICA para os americanos’ é uma frase que ressoa, a partir do século XIX, nos ouvidos daqueles que lutam pela integração regional e por encontrar a unidade além da diversidade.
A frase responde à chamada Doutrina Monroe, atribuída ao presidente James Monroe, e parecia por momentos que tinha sido guardada em um recanto das diversas administrações dos Estados Unidos; contudo, nunca ficou morta.
Hoje, o governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, torna-a mais presente do que nunca, a partir de sua candidatura apresentada para presidir a Casa Branca, sob o lema de sua campanha: ‘Make America great again’, (em português: Tornar grande outra vez a América).
Essa foi a política de 2017, no momento em que ocupou o cargo político mais alto de uma nação: investiu contra os imigrantes, defendeu o protecionismo econômico e, relativamente a Cuba, espezinhou muitos dos avanços obtidos durante o anterior governo de Barack Obama.
Agora, pretendem investir com essa mesma força sobre nossos povos de América Latina. Um dos altos cargos da administração Trump, o secretário do Estado Rex Tillerson, fez por estes dias uma turnê por diversos países da região. O motivo? Como foi anunciado, 2018 será o ano das Américas, daí que procura incentivar a divisão e a submissão entre os governos do continente.
Pouco antes de começar uma viagem muito acompanhada pela mídia, que abrangeu México, Argentina, Peru, Colômbia e a Jamaica, Tillerson insistiu nessa ideia, e asseverou: «às vezes, esquecemos a importância da Doutrina Monroe e o que significa para o nosso hemisfério, por isso acho que hoje é tão relevante como quando foi escrita».
O governo dos Estados Unidos pretende que a América Latina seja tornada, mais uma vez, seu quintal, e tudo isto acontece em um momento de expectativas, prévio à Cúpula das Américas, que terá lugar no mês de abril no Peru.
No evento será necessário para a unidade regional, quebrada por fatores como a escalada da direita em alguns países como o Brasil, Argentina e, recentemente, o Chile com o presidente eleito Sebastián Piñera, bem como a perseguição a líderes políticos e lideres representativos (Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Fernández).
É preciso então, o impulso de mecanismos regionais como a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América–Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP), e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
VENEZUELA: UMA PEDRA NO SAPATO
Um dos propósitos da turnê de Tillerson pelos países da América Latina se foca na Venezuela, uma pedra em seu sapato e o de sua administração, para defender a tristemente célebre frase ‘América para os americanos’.
O país bolivariano ficou atento com a assinatura do Acordo de Convivência Democrática pela Venezuela, entre o governo do presidente Nicolás Maduro e a oposição.
Depois de meses de diálogos realizados na República Dominicana, os temas debatidos foram solucionados; contudo, a assinatura só foi concretizada pela parte do governo, a oposição não quis assinar.
Segundo declarações do chefe da delegação governamental, Jorge Rodríguez, isto teve a ver com pressão exercida por Tillerson.
O secretário de Estado, quem visitava nesse momento a Colômbia, comunicou-se com o dirigente da oposição Julio Borges, e essa foi a causa pela que a outra parte não assinou o acordo.
Vários foram os apelos para que o lado opositor cumprisse seu acordo e assinasse, em prol de encontrar a paz na Venezuela.
No entanto, a estada do funcionário estadunidense em Bogotá também transcendeu, e fez um apelo para restaurar a democracia na Venezuela e antecipou que não reconheceria os resultados das próximas eleições na nação da América do Sul, pactuadas para o primeiro quadrimestre deste ano.
Referindo-se a essa turnê, Maduro asseverou: «Venezuela não é ameaçada por ninguém, se ele quer declarar um embargo petroleiro dos EUA contra a Venezuela, Venezuela superará qualquer ameaça».
Não obstante, séculos antes de tudo isto acontecer, o libertador Simón Bolívar alertava acerca das pretensões imperialistas do país norte-americano: «os Estados Unidos parecem destinados pela Providência para encher a América de miséria, em nome da liberdade».
DOUTRINA MONROE:
– É o baseamento que justifica as diversas intervenções dos Estados Unidos na região e seus desejos expansionistas.
– Resume-se na frase: ‘América para os americanos’.
– Promovida como uma estratégia de política exterior do presidente James Monroe (1817-1825). Considera o continente todo sob controle dos Estados Unidos.
– No decurso do tempo é usada como plataforma para defender as intervenções norte-americanas, considerando que seus interesses se encontram em risco ou sob a justificação de embandeirar a emancipação dos novos países.
– Tem uma especial relação com o Destino Manifesto, no qual se expressa o credo de que os Estados Unidos estavam destinados a espalhar-se entre o Atlântico e o Pacífico.
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