Argentina está se militarizando sob controle dos EUA

Argentina está se militarizando sob controle dos EUAA análise de James Petras em CX36, 12 de fevereiro de 2018

A Argentina está cada vez mais militarizada, cada vez mais norte-americanizada, cada vez menos dinâmica economicamente. Creio que as duas coisas andam juntas: a crise social aprofunda a Economia estancada e a Argentina mais subordinada aos Estados Unidos. Esses são os dirigentes da política atual do presidente Mauricio Macri”, disse o sociólogo norte-americano, professor James Petras, em seu espaço de análise da conjuntura internacional na CX36 (*). Além disso, Petras analisou a situação no Oriente Médio, falou da aproximação entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, e explicou os vaivéns da Bolsa estadunidense. Transcrevemos esta entrevista que você pode voltar a escutar aqui: http://www.ivoox.com/analisis-james-petras-cx36-audios-mp3_rf_23706984_1.html

Hernán Salina: Professor James Petras, é uma satisfação recebê-lo na Rádio Centenario toda semana.

James Petras: Estou muito bem.

HS: Hoje queríamos começar com a situação de tensão apresentada na Síria por conta da ação de Israel. Que risco implica o fato do conflito em torno na Síria passar a uma fase superior com a intervenção de Israel e de outros países?

JP: Israel funciona como um aliado dos Estados Unidos, lançando ataques à qualquer lado para favorecer as posições norte-americanas e estender a influência israelita em tudo o que chamamos Oriente Médio. O ataque de Israel é uma provocação não só contra a Síria, mas também contra o Irã, ao qual acusa de derrubar o avião israelense. O Irã denuncia essa acusação e afirma que não foram eles, mas sim os sírios lançando suas autodefesas.

Israel está totalmente militarizado, ocupando os territórios palestinos com seiscentos mil colonos violentos. Está atacando a Síria, está metido na sabotagem no Irã. Não existe nenhuma fronteira. Para Israel todos são alvos a serem atacados, ocupados e expulsos. São contra qualquer pessoa que não seja judia.

Devemos reconhecer Israel e Estados Unidos como os principais inimigos da paz. Usam sua quinta coluna nos países onde as organizações sionistas têm influência as organizações sionistas, como nos Estados Unidos, França, Inglaterra e, talvez, na própria América Latina, utilizando as organizações supostamente judias para lançar ataques, influenciar os governantes e assegurar a aprovação dos ataques israelenses.

Não são uma força com a qual se pode conciliar, pois só entendem a força e utilizam a força como seu principal instrumento de política. Não querem negociar nem a paz com os palestinos nem alguma trégua com a Síria. Querem destruir a Síria e facilitar a entrada dos terroristas e dos grupos, apoiando a divisão da Síria em uma serie de países balcânicos.

HS: Pode ter início um conflito mais forte militarmente falando?

JP: Sim. Nas últimas notícias que temos – é preciso dizer – Israel está ameaçando atacar o Irã e, diante disso, o Irã está anunciando que vão utilizar seus mísseis intercontinentais. Então, os ataques de Israel contra a Síria podem estender-se contra o Irã e isso poderia precipitar uma guerra catastrófica, porque Israel tem bombas nucleares e o Irã tem mísseis que poderiam alcançar Israel.

Porém, Israel só irá retirar suas agressões se encontrar uma força superior, e uma força superior poderia surgir de muitos lados. Caso pense em atacar a Líbia, o Hezbollah, atacar o Irã e avançar sobre a Síria, teríamos uma guerra regional muito violenta e catastrófica, que poderia – com a quinta coluna nos EUA – implicar a intervenção norte-americana.

Então, Israel pode ser a faísca que incendiará toda a região e provocará uma guerra mundial.

HS: Isto serve ao primeiro ministro Benjamin Netanyahu, que internamente tem denúncias por fraudes e enfrenta processos judiciais em Israel?

JP: Sim, é um ladrão, um fraudador, é muitas coisas e a maioria dos israelenses sabe. Porém, eles o apoiam porque Netanyahu está auxiliando os colonos e colocando obstáculos sobre qualquer opositor em Israel, inclusive encarcerando e torturando integrantes de grupos progressistas que tentem influenciar na política. É um ditador com o apoio dos grupos fundamentalistas hebreus que estão sempre em seus gabinetes e fazem parte de sua coalisão. Netanyahu necessita de guerras para distrair o público dos crimes que comete.

É notório que toda a família de Netanyahu, sua esposa e filhos, estão envolvidos em contratos fraudulentos, ou seja, assinam contratos com construtoras e outras empresas e recebem subornos.

É um governo não só agressivo e racista, mas também um governo de cleptocratas.

HS: Estão ocorrendo os Jogos Olímpicos de Inverno marcada por uma distensão entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, o que não caiu bem nos EUA.

JP: Obviamente os coreanos, em sua grande maioria, estão a favor da reconciliação e apoiam as atividades unidas de ambas as Coreias. E Washington precisa criar problemas porque quer ocupar a Coreia do Sul, tem ali bases militares, mantém vínculos com os grupos mais extremistas da direita coreana e utilizam manifestações para justificar a agressão. Utilizam a direita da Coreia do Sul para fomentar protestos que são formados por um punhado de gente e não representam ninguém nesse país. É preciso lembrar que até agora os governantes da Coreia do Sul eram cipaios do governo norte-americano e caíram pela corrupção, pela fraude e pelo uso de políticas agressivas com o Norte. Agora temos um novo governo, aparentemente progressista, que está fixando datas para entrar em negociações; e ultimamente o vice-presidente, que quer manter as divisões e os conflitos, declarou que os EUA estão agora dispostos a negociar com a Coreia do Norte e sem condições. Porém, são só palavras até agora.

A dinâmica dos coreanos é por uma convivência pacífica apesar das pressões norte-americanas e as Olimpíadas servem como ponta de lança para abrir e a profundar os laços entre as Coreias, o que faz muito sentido porque são países que compartilham muitas histórias, tradições e inclusive famílias.

Porém, com relação às Olimpíadas, quero mencionar que a imprensa não deu atenção suficiente ao fato de estas Olimpíadas têm problemas profundos, porque os diretores utilizam pretextos para excluir a Rússia. Não são as autênticas Olimpíadas abertas, porque a exclusão da Rússia sob acusações falsas e repudiadas por Comissões independentes prejudicaram a competição. Os EUA utilizam a exclusão como mecanismo para melhorar sua competividade, porque se a Rússia participasse das Olimpíadas sem restrições, com sua bandeira e seu hino nacional, creio que teria mudado o caráter e a correlação de forças na disputa. Os EUA utilizam a exclusão para parecerem mais representativos e com mais medalhas, porém existem alguns atletas que reconheceram o fato de que a exclusão está prejudicando os resultados. Inclusive uma atleta norte-americana na abertura utilizou uma bandeira russa que está proibida para os participantes russos, e é uma indicação de que a atleta quer ganhar uma medalha, porém por seus próprios esforços e não como resultado da censura e da exclusão do governo estadunidense.

HS: Existem elementos políticos fortes na Coreia do Sul que motivaram para a tomada de distância da pressão dos EUA e dar estes passos para a aproximação com a Coreia do Norte?

JP: Sim, obviamente a Coreia do Sul tem muitos interesses para além dos interesses norte-americanos. A Coreia do Sul tem relações muito profundas com a China e nem quer se meter em conflitos norte-americanas contra a China. Por esta razão, acreditam que é melhor manter distância da postura dos EUA.

A China é o poder mundial agora, é o poder mais influente na Ásia. A Coreia tem produtos que são exportados para a China e, além disso, a Coreia do Sul tem abertura em suas relações com a Rússia e outros países do Oriente Médio, como o Irã.

E creio que devemos reconhecer que existe um inimigo na Ásia, que a Coreia há muito está denunciando: o Japão. Na Segunda Guerra Mundial os japoneses utilizaram as mulheres coreanas como prostitutas e escravas de seu exército de ocupação.

Até hoje o Japão não deu respostas satisfatórias à Coreia do Sul e continua mantendo que não eram escravas e nem obrigadas, que eram simplesmente prostitutas, e isso é totalmente inaceitável. Além disso, o Japão é o principal aliado dos EUA em meio aos conflitos existentes, apesar de metade dos japoneses quererem melhorar as relações na Ásia, independentemente dos EUA e expulsar as bases militares, particularmente em Okinawa, uma ilha importante para os japoneses, que é utilizada pelos mariners para cometer muita violência, embriaguez, violações de mulheres, etc.

Então, os EUA têm muitos problemas, muitos conflitos e a Coreia do Sul é simplesmente um eixo entre muitos outros conflitos e, por isso, busca maior independência depois de tantos anos de dependência e controle estadunidenses dirigidos ao conflito com a Coreia do Norte e China.

HS: Vamos falar sobre a Colômbia, onde o Exército de Libertação Nacional (ELN) está realizando uma greve armada. Existem notícias de atentados com explosivos pela suspensão da mesa de diálogos com o governo; e a presença do Chefe do Comando Sul nestas horas, reunindo-se com o alto comando militar colombiano. Já as FARC, suspenderam a campanha eleitoral por falta de garantias. Uma dupla face de uma situação política que se agrava.

JP: Sim, a Colômbia é a ponta de lança para todas as agressões na América Latina.
Os EUA têm ali sete bases militares. Estão ocupando posições no próprio governo, o Ministério de Defesa está cheio de oficiais militares norte-americanos e utiliza a tática de negociações de paz para desarmar a FARC e depois mata-los, sob o pretexto de dar-lhes uma presença eleitoral. Várias vezes levantamos este problema na Rádio Centenario, dizendo que é muito perigoso para a FARC entrar em campanha eleitoral com os antecedentes que conhecemos do passado, como o que ocorreu com a União patriótica quando massacraram mais de cinco mil afiliados nos anos 80 e 90.

Porém, os dirigentes da FARC pensam que sabem algo mais que o mundo, e entraram nessa política e já assassinaram dezenas de farianos e defensores dos direitos humanos só nos últimos meses.

A oligarquia colombiana – e seus candidatos presidenciais – não creem nas eleições. Eles acreditam no poder, na dominação, na entrega dos recursos primários. E o ELN tem toda razão, porque eles não querem se desarmar e sofrer as consequências que está sofrendo a FARC.

Além disso, a FARC não tem nenhuma possibilidade de ganhar, inclusive os apoiadores da FARC agora têm medo de se expressar, temem assistir a assembleias ou reuniões. O terror continua sob o pretexto de processos eleitorais.

E o ELN continua atuando porque o governo colombiano segue violando e agredindo. Sua resposta é o conflito armado onde têm capacidade de responder. E eu acredito que no futuro próximo muitos farianos irão integrar-se ao ELN. Como não têm alternativas e seus próprios dirigentes capitularam, creio que têm várias opções: 1) integrar-se ao ELN; 2) passar para a clandestinidade e 3) sair do país. Porém, para onde vão? Porque existem dificuldades na Venezuela e no Caribe.

Creio que é uma situação muito dramática e trágica. O grande poder que as FARC tiham sob o comando de Manuel Marulanda foi perdido e ficaram muito reduzidos a um beco sem saída.

HS: Jornalistas colombianos afirmara misto que você assinala, porém vamos a outros temas que você queira mencionar.

JP: Bom, depois da Colômbia, agora existe uma competição para ver qual é o melhor sócio do EUA. Este é o caso da Argentina, que já está se militarizando sob o controle norte-americano. A DEA – organização que supostamente luta contra a droga – é baseada na Tríplice Fronteira – entre Argentina, Paraguai e Brasil –: o que faz com que os EUA tenham a Polícia Federal ocupando terrenos e funções na Argentina.

Têm bases militares que possuem acesso a lugares via marítima, etc. Tienen bases militares tienen acceso a lugares vía marítima, etc. A Argentina está cada vez mais militarizada, cada vez mais norte-americanizada, cada vez menos dinâmica economicamente. Creio que as duas coisas andam juntas: a crise social aprofunda a Economia estancada e a Argentina mais subordinada aos Estados Unidos. Esses são os dirigentes da política atual. Cada vez que a Economia colapsa, (o presidente Mauricio) Macri e seus funcionários aprofundam sua subordinação aos EUA. A marca Argentina agora é ponta de lança, um perigo para todos os países do Cone Sul, inclusive o Uruguai. Devem se defender e se preparar para evitar a combinação EUA-Macri pelas agresões que poderiam fomentar.

Outro ponto que quero tocar é dos Estados Unidos em relação à Bolsa.

A Bolsa estadunidense tem tido muita volatilidade, sobe e desce, e isso é a especulação. Os especuladores de Wall Street fomentam o crescimento, vendem as ações a preços altos e, depois, caem os pequenos e médios investidores. Então, eles entram no ponto alto e vendem no ponto baixo, e os especuladores estão ganhando bilhões em cada turno.

Então, a esquerda está louca se pensa que só estão vindo por conta da crise econômica, do crack. Não é exatamente isso, mas é a manipulação em grande escala e de longo prazo dos especuladores, que se aproveitam da manipulação do mercado para incentivar os tontos que pensam que poderiam ganhar dinheiro fácil.

E por último, quero mencionar que o governo de Donald Trump anunciou um investimento de 1.5 trilhões de dólares em infraestrutura e, de repente, disse que o financiamento da infraestrutura vem de outras fontes, não do governo federal, mas da imposição de impostos aos governos provinciais e municipais, e do capital privado. Em outras palavras, Trump privatiza as estradas, as pontes, as estradas de ferro e todo o sistema de transporte sob o pretexto de reconstruir a infraestrutura quebrada no país. Outra das armadilhas que os governos anunciam como um programa aparentemente progressista, porém que é um mecanismo de entrega e que transfere os custos aos cidadãos em todas as localidades através de impostos municipais.

HS: Muito bem, Petras. Muito obrigado. Até a próxima semana.

JP: Até segunda-feira. Um abraço.

(*) O sociólogo estadunidense, professor James Petras, analisa semanalmente a realidade internacional em entrevista em espanhol na CX36 Rádio Centenario. Você pode escutar esta análise ao vivo, às segundas-feiras de fevereiro no horário especial das 16:00 horas (local) através do 1250 AM do Dial uruguaio e em www.radio36.com.uy, já que a emissora transmite as 24 horas online.

Fonte: http://www.radio36.com.uy/entrevistas/2018/02/19/petras.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)