A mulher negra e a luta organizada contra o capital

Via Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro- Bahia

A mulher negra sente na pele o que há de pior no capitalismo. Estamos nos piores empregos, temos os salários mais baixos, mesmo realizando trabalhos iguais. Somos também a maioria que morre por violência doméstica e pelas péssimas condições do sistema de saúde. O machismo e o racismo se juntam à exploração do trabalho.

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Confira nossa nota:

A situação atual das mulheres negras no Brasil e nas Américas traz as marcas da escravidão moderna, a qual foi submetida parte da população africana. Tirados forçosamente de suas terras, trazidos em navios negreiros onde muitos morreram, comercializados para trabalhos pesados e obrigatórios nas grandes plantações, as mulheres e homens negros eram vistos e tratados como animais. Para os donos de escravos, não haviam distinções entre sexos para a realização dos trabalhos e eram cobrados das mulheres escravizadas a mesma quantidade de trabalho que os homens, mesmo quando grávidas. Enquanto nos castigos, as mulheres além de sofrerem toda forma de violência física, ainda sofriam violência sexual.

Mesmo após ser abolida a escravidão, a população negra não teve nenhuma garantia ou mudança efetiva da sua condição de vida. Viviam em condições precárias, sem direito a educação, saúde, moradias dignas e qualquer proteção social. Continuaram submetidos aos trabalhos mais subalternos e penosos.

No Brasil, com o crescimento das cidades, as mulheres e homens negros foram expulsos para as periferias, ficando expostos à falta de infraestrutura urbana, serviços básicos e com maiores dificuldades para acesso à trabalho. Essa ainda é uma realidade do país: negras e negros formam fileiras nos postos de trabalhos mais precarizados e nas filas do desemprego. Hoje 63,7% dos desempregados no Brasil fazem parte da população negra, o que representa 8,3 milhões de pessoas.

A mulher negra continua ocupando os trabalhos que se assemelham aos já desempenhados nos anos de escravidão, como limpeza, alimentação e cuidados. E com o pacote de contrarreformas do governo golpista de Temer, as mulheres negras serão as mais atingidas. Elas recebem cerca de 60% menos que homens brancos, estão nos postos de trabalho precarizados e informais e, possuem hoje a expectativa de vida de 60 anos. Se aprovada a PEC 287 da Reforma da Previdência, mulheres negras não irão se aposentar!

Não bastando, segundo pesquisas do Mapa da Violência, as mulheres negras são as maiores vítimas de violência. A vida e o corpo das mulheres negras são diariamente golpeados pela violência, como podemos ver pelas taxas de feminicídio aumentaram em 20%, porém as mulheres negras são as que mais morrem, atingindo um aumento de 54%. São também as maiores vítimas da violência doméstica representando cerca 58,68% e são as mais atingidas pela violência obstétrica com 65,4% com morte da mãe em 53,6% dos casos.

Além dos ataques acima citados, voltando nosso olhar para o sistema carcerário, cerca de 61,6% de sua população é composta por negros. Isso representa a política antidrogas racista que vêm sendo imposta à classe trabalhadora jovem, matando diariamente nossa população. Essa realidade também é vista para as mulheres, pois no ano de 2014, 92% das mulheres presas na Bahia eram negras. Estudos mostram que 78,9% que mais tem chance de serem vítimas de homicídio é a população jovem e negra. Segundo o atlas da violência de 2017, a cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras. Isso somente aqui no Brasil.

É preciso combater o genocídio da população negra e pobre que atinge o nosso país.

As mulheres negras representam hoje a maior parte da classe trabalhadora brasileira. As pautas contra o racismo e machismo devem caminhar lado a lado com a luta contra o capitalismo. Pois é o capitalismo que, assegurado pelo Estado burguês, legitima a exploração do trabalho e a violência à população negra.

“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo”.
Angela Davis

Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Bahia

http://anamontenegro.org