Querido amigo e camarada Jesus Santrich
Esta fotografia que guardo com carinho – tomada enquanto você me entrevistava para a rádio guerrilheira – é de 2006, quando de minha estada num acampamento das FARC-EP, em companhia de Oscar Figuera¹ e de Patrício Etchegaray² (que nos deixou há um ano), em um encontro com uma delegação do Secretariado, incluindo você e o também amigo e camarada Iván Márquez, para passarmos em revista a situação da Colômbia, da Venezuela e da América Latina em geral, com o objetivo de fortalecer a solidariedade à insurgência fariana e contribuir, em nossos países, para uma possível solução política para o conflito colombiano.
Tendo tocado a você a tarefa de me dar assistência nos intervalos do encontro, nasceu ali, além da nossa amizade, uma grande admiração minha pelo já então lendário Jesus Santrich, tradução perfeita do homem novo de que falava Lenin e da célebre frase do Chê, da forma como entendemos os revolucionários, ou seja, endurecer sempre com os inimigos de classe, sem perder a ternura com nossos camaradas e amigos e com os explorados e oprimidos.
Depois disso, nos vimos mais três vezes em Cuba, entre os amigos que acompanhávamos de perto os Diálogos de Havana, quando estreitamos nossa amizade e pude conhecer melhor seu bom humor constante e suas brincadeiras carinhosas com os companheiros, seu preparo teórico e firmeza ideológica, sua sensibilidade artística como poeta, músico e como o pintor que me emocionou com o quadro a mim dedicado, que reina absoluto no espaço de onde lhe escrevo.
Desde que começou sua greve de fome, entendi perfeitamente que você fez dessa decisão extrema e corajosa uma forma de luta e de indignação, talvez a única ao seu alcance, frente à absurda e repugnante farsa judicial que lhe move o conluio do estado terrorista colombiano com o imperialismo norte-americano. Você não foi escolhido vítima dessa montagem por sorteio, mas para calarem a voz mais incômoda, qualificada e estridente na denúncia do novo genocídio político que vem sendo promovido pelo estado colombiano, sob a falsa bandeira do paramilitarismo, e suas transgressões ao chamado acordo de paz, sobretudo a não aplicação da anistia aos ex-guerrilheiros presos.
Mas sua épica greve de fome, camarada Santrich, já é vitoriosa. A ampla solidariedade que vem recebendo e a denúncia da arbitrariedade de que é vítima vem se espalhando pelo mundo, desmoralizando a farsa judicial, as palavras e ações do estado terrorista colombiano.
Diante das notícias que recebo, dando conta do agravamento do seu estado de saúde, têm razão todos os inúmeros amigos, camaradas e simpatizantes que você conquistou em todas as partes: é hora de cessar sua greve de fome, camarada!
Precisamos de suas ideias, atitudes e propostas, seus poemas, músicas e pinturas.
Não deixe que calem sua voz!
Precisamos de você vivo, camarada Jesus Santrich!
Ivan Pinheiro
(Membro do Comitê Central do PCB – Partido Comunista Brasileiro)
1. Secretário Geral do PCV (Partido Comunista de Venezuela)
2. ex-Secretário Geral do PCA (Partido Comunista Argentino)