MTST: copa da resistência em Recife
Organizado por movimentos sociais,’Copa da Resistência’ teve início no sábado, 16/06, no Centro do Recife, com a proposta de promover a democracia no esporte e o debate sobre o campeonato mundial
Muito se diz que o futebol é o esporte mais popular do mundo devido à facilidade de praticá-lo. Basta pintar quatro linhas em uma praça, colocar duas barras em lados opostos e ceder uma bola para que a magia aconteça. Foi assim que um grupo de movimentos sociais atraiu mulheres, homens e crianças à Praça da Independência, no centro do Recife, na tarde de sábado (16).
“Não é anticopa. A gente chegou num momento em que muitas pessoas estão enxergando o futebol como instrumento de grupos conservadores, embora ele se trate de um espaço extremamente democrático, que deve ser disputado”
Intitulado Copa das Resistências, o evento promoveu uma “pelada” inclusiva e debate o funcionamento da Copa do Mundo da Fifa, tudo de frente à Ocupação Marielle Franco, administrada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
“Além dos jogos, a gente está trazendo uma roda de diálogos a respeito do papel do futebol como instrumento político de transformação social e participação coletiva. Um dos tópicos é a Copa de 2014, que trouxe uma série de remoções de famílias para obras de infraestrutura que nem sequer foram executadas”, ressalta Felipe Cavalcante, membro do MTST.
Apesar disso, segundo Felipe, a iniciativa não tem caráter contrário à realização da Copa do Mundo. “Não é anticopa. A gente chegou num momento em que muitas pessoas estão enxergando o futebol como instrumento de grupos conservadores, embora ele se trate de um espaço extremamente democrático, que deve ser disputado”, comenta.
Responsáveis pelas oficinas de técnica futebolística, as Coralinas, torcedoras feministas do Santa Cruz, celebraram a participação de mulheres nos jogos, sempre mistos. “Não é toda mulher que tem acesso ao futebol desde cedo, como a maioria dos homens. Isso se reflete, por exemplo, em uma grande timidez delas durante os jogos. A tarde de hoje é importante no sentido de estimular a prática esportiva entre elas, além de integrá-las”, afirma Maiara Melo, uma das torcedoras envolvidas nas dinâmicas.
Pierre de Lima Filho, da Democracia Santacruzense, defende que o movimento social que surge das arquibancadas e aqueles que partem de outras demandas sociais são uma coisa só. “O futebol, por muito tempo, foi tido como um espaço despolitizado. A gente quer atacar essa perspectiva dentro e fora do Santa Cruz, fazendo a disputa da sociedade, porque as políticas de segurança geralmente atingem um perfil social estigmatizado: o jovem negro de periferia que faz parte das torcidas organizadas. Muitas de nossas pautas fazem com que a gente esteja vinculado a outros movimentos sociais “, conclui.
O evento inclui ainda mais três etapas. As duas últimas serão realizadas na Ocupação Carolina de Jesus, no Barro, Zona Oeste do Recife, onde será realizado um mutirão para a construção do campo onde será disputada a final.
Donativos
O MTST também recolheu donativos para as famílias da Ocupação Marielle Franco. O Movimento pede fralda, leite, material de higiene pessoal, material de limpeza, colchão, corda para pular, giz, sacos grandes de lixo e brinquedos para a creche da comunidade.
Programação da Copa das Resistências:
16/06 (1ª Etapa)
Ocupação Marielle Franco, Praça da Independência, Santo Antônio
14h
23/06 (2ª Etapa)
Comunidade do Bode, Boa Viagem
10h
08/07 (Mutirão Campinho Carolina de Jesus)
Ocupação Carolina de Jesus, Barro
8h
14/07 (Grande Final e Inauguração do Campinho Carolina de Jesus)
Ocupação Carolina de Jesus, Barro
10h
Ilustração: Primeira etapa da copa reuniu público de frente à Ocupação Marielle Franco | Foto por Julio Gomes/LeiaJá
Fonte: LeiaJá <http://www.leiaja.com/esportes/2018/06/16/dribles-e-debate-movimentos-sociais-fazem-sua-copa/>