Presidiários dos EUA fazem greve e denunciam escravidão
OLHAR COMUNISTA
De acordo com a matéria de O Globo, de 26 de agosto, presidiários iniciaram um movimento nacional em protesto contra o que chamam de “escravidão moderna”. Os detentos cruzaram os braços nas fábricas de empresas que funcionam dentro dos presídios, onde, em muitos casos, trabalham recebendo uma parte ínfima do salário mínimo ou, em outros casos, nada. Denunciam, ainda, condições desumanas de vida e trabalho – forçado, em várias unidades prisionais – , a falta de acesso a ações de reabilitação para a volta à vida social e exigem uma reforma nas leis e no sistema de punições em vigor.
Os EUA são o país que mais encarcera no mundo. São 2,2 milhões de presos, ou cerca de 25% do total mundial. No sistema americano, é comum a associação entre empresas e presídios. As empresas que exploram o trabalho de detentos estão inseridas em quase todos os setores da economia.
Para o advogado McMullen Jr., do Centro Robert Kennedy de Direitos Humanos, é preciso repensar o conceito de criminalidade nos EUA, uma vez que, nesse país, a esposa de um traficante pode passar a vida atrás das grades, enquanto “empresários e políticos que envenenam a água de comunidades inteiras ficam impunes”.
O elevado número de encarceramentos é um subproduto do capitalismo, que reflete a sua tendência de jogar para a marginalidade um enorme contingente de pessoas afetadas pelo desemprego crônico e pela falta de perspectivas e de condições dignas de vida, que afligem, principalmente, os mais pobres em geral, com destaque, nos Estados Unidos, para negros e imigrantes. A injustiça é patente: à dureza das leis criminais, inspiradas no ideário da “tolerância zero” que nivela, na prática, quanto ao grau de punição, um roubo de uma fruta por um faminto a um homicídio, somam-se a ação de perpetuação da exclusão pela inexistência de um caminho de desenvolvimento pautado pela distribuição de renda e pela justiça social e, no sistema prisional, pelo não oferecimento de condições de reabilitação para os detentos.
Mais ainda, é grotesca a superexploração dos presos pelo interesse dos empresários que operam no setor prisional, que lucram com a imposição de trabalho semiescravo e escravo aos presidiários. Tudo isso num país que se apresenta como modelo de democracia e direitos civis.