“John McCain foi um assassino dos vietnamitas”

imagemA análise de James Petras na CX36, 27 de agosto de 2018

John McCain se reuniu e fotografou com terroristas na Síria em 2013: na imagem junto a Mohamed Nour (Al Nusra) e Abu Ibrahim e Abu Bakr Al Baghdadi (ambos do ISIS).

“É um anti-herói. Foi a pessoa que apoiou as guerras em todo o mundo e nunca tomou posições em defesa da autodeterminação e da soberania dos povos do mundo”, disse o sociólogo norte-americano, professor James Petras, na CX36 (*) sobre John McCain, falecido no fim de semana passado e apresentado como um ‘herói’ pela mídia estadunidense. Em outro momento, advertiu que os EUA preparam uma nova provocação na Síria, plantando gases tóxicos para acusar o governo de Bashar Al Assad em uma tentativa de frear o avanço das forças sírias. “Washington está preparando uma provocação, o que chamam de ‘bandeira falsa’, onde pretendem paralisar o avanço das forças sírias que estão derrotando os terroristas e estão preparando uma grande ofensiva nas províncias de Idlib”, o que considera “um grande perigo” e advertiu que “devemos considerar caso surja outra declaração de uso de gases tóxicos devemos entender que é tudo uma fabricação das próprias forças terroristas”. Transcrevemos esta análise da conjuntura internacional que pode ser ouvida novamente aqui:

https://www.ivoox.com/analisis-james-petras-cx36-audios-mp3_rf_28106757_1.html

María de los Angeles Balparda: Bom dia, James Petras. Que tal? Com vai?

James Petras: Estou bem.

MAB: Queríamos começar pela notícia da morte de John McCain, que é denominado por alguns meios de ‘herói americano’. Queríamos conhecer sua análise sobre quem foi John McCain.

JP: É tudo mentira.

John McCain foi um assassino dos vietnamitas, atirando bombas sobre as aldeias, matando centenas de pessoas; e depois, quando caiu seu avião, os vietnamitas o capturaram e o encarceraram. Em sua época, também recebeu posições privilegiadas, porque seu pai foi almirante e foi quem permitiu Israel bombardear os barcos norte-americanos em 1967, protegendo Israel e não os sobreviventes norte-americanos.

Porém, quando John McCain estava preso, capitulou frente às pressões dos vietnamitas, fez um mea culpa, fez confissões, abandonando seus companheiros presos. Posteriormente, o libertaram do cárcere e tinha liberdade de voltar aos Estados Unidos, mas, uma vez que se foi, abandonou o resto dos presos. Quando o Congresso começou a buscar os presos, John McCain fez todo o possível para proteger suas próprias costas e não participou da busca dos outros presos norte-americanos. O fez porque acreditou que muitos dos presos tinham muito ódio e muitas coisas para contar de quando ele esteve preso.

Para além disso, MacCain era um idiota na Academia Militar. Foi o último das centenas de graduados. Devemos entender que quando começou a voar, caiu seu avião e matou mais de duas dezenas de soldados norte-americanos no acidente, pelo mal manejo do avião.

Porém, também era o maior assassino no Congresso e no Senado, apoiando todas as guerras: Iraque, Síria, Líbia e qualquer outro lugar, apoiando os terroristas sempre.

E como explicamos, então, que os meios fizeram tanto barulho a seu favor? Porque, no final das contas, o senhor McCain começou a atacar Donald Trump por não ser suficientemente bélico e ser ‘amigo dos russos’.

Em outras palavras, era uma pessoa desprezível, uma pessoa que não tinha nenhum respeito entre seus ex-companheiros de prisão e muito menos entre os povos do mundo que sofrem as invasões e ataques. E para mostrar quão extremista era: quando McCain foi convidado por um grupo terrorista da Síria, ele foi visitá-los, saudá-los e exigir mais ajuda militar para que os terroristas possam continuar a luta contra o povo sírio e seus governantes.

Em outras palavras, é um anti-herói, uma pessoa que apoia as guerras em todo o mundo e nunca tomou posições em defesa da autodeterminação e da soberania dos povos do mundo.

Hernán Salina: Precisamente, foram divulgadas por estes dias as fotos que apareceram quando se reuniu com os principais chefes dos grupos terroristas que atacaram a Síria nestes anos. Foi como a demonstração mais clara da ingerência estadunidense nessas ações.

JP: Sim. O fato de agora ser um ‘herói’, mostra os extremos da política norte-americana, os meios de comunicação, os líderes políticos, os ex-presidentes, todos misturados no mesmo saco.

E apoiar McCain é apoiar as guerras e as intervenções norte-americanas.

Poderíamos dizer que o fim de sua vida não é algo para celebrar em nenhuma parte da América Latina e muito menos no Oriente Médio e os povos islâmicos.

MAB: Passemos a outro tema, uma denúncia feita, neste fim de semana, pelo presidente Evo Morales acerca de exercícios militares conjuntos entre Chile e EUA na zona de Antofagasta, expressando que isso “constitui uma ameaça imperialista contra a paz regional”.

JP: E tem toda a razão.

Porque os argentinos sob o governo de (Mauricio) Macri visam ganhar méritos com Washington, querem demonstrar que eles também podem intervir nos países da América Latina que têm alguma soberania e independência, como a Bolívia.

O mesmo este sendo feito pelos governantes colombianos, que pressionam a Venezuela. No Caribe, Washington está atracando navios de guerra frente a Cuba e metendo a mão na Nicarágua, com mobilizações e conflitos.

Existe uma ofensiva imperialista apoiada por alguns cipaios, alguns colaboradores, como Macri, (Michel) Temer no Brasil ou (Iván) Duque na Colômbia.

Em todas as partes, Washington busca colaboradores porque não quer gastar seus próprios recursos nem correr o risco de perder tropas norte-americanas, preferindo mercenários latino-americanos. No caso argentino, querem enviar soldados argentinos para a guerra de tensão com a Bolívia.

MAB: Em paralelo a isso, na semana passada a Embaixada britânica esteve convidando legisladores uruguaios para ir às Malvinas.

JP: Sim, pode ser. De qualquer forma, é melhor utilizar o baixo custo de exércitos mercenários. Se podem contratar latino-americanos para fazer o trabalho sujo do império melhor, porque dessa forma não têm a má publicidade e podem justificar a seus cidadãos que eles não estão envolvidos, que são problemas entre os latino-americanos.

Diego Martínez: E na Argentina, com toda a situação econômica, com novo pedido de empréstimo ao FMI e o forte aumento da inflação; somado a toda exposição midiática e judicial que está ocorrendo com a política argentina. Como você vê tudo isso?

JP: Existe uma combinação de coisas que são de alto correlato. Quanto pior a economia, maior a repressão; com menos participação popular, mais policiais intervêm na política econômica e social do país. Macri é um desastre. A Bolsa daqui, de Wall Street, e da Inglaterra tem uma opinião muito negativa sobre o caminho de Macri e da economia. Não existem novos investimentos. Os especuladores só emprestam dinheiro por uma semana porque não confiam mais no futuro. Aproveitam o que pode neste momento, porém ninguém pensa em um investimento a longo prazo, porque a economia está caindo, o valor do peso está perdendo sentido. Neste contexto, podemos dizer que Macri precisa aprofundar a politização dos juízes. Não tem respostas econômicas, por isso está perseguindo o (ex-presidente Néstor) Kirchner, a (ex-presidente Cristina) Fernández e os demais. Busca uma caça às bruxas para distrair, busca de alguma forma falar de outras coisas, menos de economia. Nesse sentido, é um show porque a Economia marcha mal e todo o mundo sabe, de baixo a cima, enquanto Macri visa manter-se e tenta ganhar algum voto favorável para as próximas eleições. Pior é que ninguém acredita na palavra de Macri. Não acreditam nas promessas de que amanhã as coisas vão melhorar. Simplesmente não acreditam. O que todo o mundo vê é que as coisas estão mal e vão continuar ruins. E que o Fundo Monetário está aprofundando as dificuldades para uma recuperação econômica.

DM: O Equador anunciou sua saída da ALBA. Que repercussões pode ter?

JP: A ALBA continua funcionando, mas muito enfraquecida. A saída do Equador é porque o país se direitizou depois de (Rafael) Correa. O presidente Lenin Moreno está buscando um pretexto para aprofundar seus vínculos com o capital internacional. Convidou as grandes mineradoras do mundo para investirem e explorarem os recursos equatorianos, está tentando aprofundar a penetração do capital financeiro, está apertando o orçamento governamental com um programa de austeridade para cumprir com as exigências dos grandes credores internacionais. Em outras palavras, está fazendo tudo o que poderia garantir suas finanças para continuar com o pagamento da dívida e das obrigações que está acumulando o Equador, jogando toda a culpa sobre o governo anterior, porém assumindo as obrigações que ele mesmo está contraindo com o capital estrangeiro.

MAB: Vamos falar sobre a Coreia. Como seguem as conversações entre ambas Coreias? O que acontece com os EUA hoje, por exemplo, Trump não habilitou Mike Pompeo a viajar para a Coreia porque não avança a desnuclearização?

JP: Este momento é muito contraditório. A Coreia do Sul tem acordos com a Coreia do Norte para aumentar a infraestrutura que vincule os dois países, estradas de ferro, rodovias, etc. A Coreia do Sul busca melhorar as relações com a Coreia do Norte, não quer derrubar o governo, quer trabalhar com o governo com um projeto a médio prazo de unificar as duas Coreias. Porém, Washington não quer os coreanos unidos. Quer manter o controle que possui no Sul e quer estender sua influência e dominação ao Norte.

Isso está prejudicando a possibilidade entre as duas Coreias de criar pontes para melhorar a situação dos povos, e melhorar a possibilidade de unificação.

Agora, existe o problema de que a Coreia do Sul possui um presidente progressista, Moon Jae-in; e a oposição interna da Coreia do Sul, os militares, a polícia secreta estão unidos com Washington e estão colocando pressão sobre a Coreia do Sul, dizendo que o presidente está fazendo o jogo dos comunistas. Esta prática limita a possibilidade de autonomia e independência para o Presidente do Sul, porque enfrenta dois inimigos: o externo, ou seja, Trump; e o interno, as pressões da direita tradicional. Vamos ver o que pode fazer. Até agora declarou que vai continuar com seu projeto, porém cada vez mais as pressões de fora e de dentro estão criando condições complicadas.

DM: Ele foi eleito com a premissa de chegar à aproximação com a Coreia Popular.

JP: Sim, porém Washington não quer diálogo, quer capitulação. E nisso estão equivocados. Os norte-coreanos não têm nenhuma intenção de seguir um caminho de capitulação e entrega de sua defesa. Washington quer desarmar a Coreia do Norte para depois pressionar e conseguir sua conquista. Nisso se equivocaram e os norte-coreanos estão abandonando o diálogo falso e buscam aprofundar e melhorar as relações com a Coreia do Sul, sempre que o Sul puder manter-se com um grau de independência de Washington.

MAB: Existe algum outro tema que você queira mencionar?

JP: Sim, existem duas coisas.

Primeiro, temos muitas notícias de que Washington está preparando uma provocação, o que chamam de ‘bandeira falsa’. Pretendem paralisar o avanço das forças sírias que estão derrotando os terroristas e estão preparando uma grande ofensiva nas províncias de Idlib. E Washington está colocando gás em sua parte da região para culpar o governo sírio de usar gases tóxicos e utilizar esse pretexto para lançar ataques aéreos e mísseis, com a finalidade de deter o avanço das forças de libertação.

Isto é um grande perigo, porque a Rússia tem forças na zona para proteger o avanço das forças sírias.

Então, temos Washington produzindo uma provocação para manter seus sócios terroristas e a Rússia que quer avançar no processo de pacificação e diálogo entre os que não aceitam o terrorismo, porque existem grupos de oposição na Síria que estão dispostos a negociar com o governo; porém existem outros grupos controlados por Washington, que buscam apoio dos EUA para defender o último pedaço de terra. E Washington não está em posição de mandar tropas suficientes. Então, vai inventar um pretexto, uma provocação, para mandar a força aérea atacar a Síria. É um grande perigo e devemos considerar, caso surja outra declaração de uso de gases tóxicos, que é tudo uma fabricação das próprias forças terroristas.

Finalmente, quero mencionar uma coisa.

Os Estados Unidos é o único país no mundo que não tem um plano médico nacional. Mais de 40 milhões de norte-americanos carecem de qualquer tratamento médico; outros 100 milhões têm acesso a serviços inadequados e não possuem acesso a tratamentos custosos. Ou seja, mais de um terço da população nos EUA não tem tratamento médico. Poderíamos dizer que outro terço contrai grande dívida, porque a pesar de ter cobertura de saúde, é inadequada. Caso precisem de alguma cirurgia ou tratamento especial, devem contrair dívidas e é uma das principais fontes de endividamento.

Também devemos anotar que aqueles que terminam a Educação Superior, universitária, também se endividam. Existe mais de um trilhão de dívida para os graduados. São centenas de milhares de milhões a dúvida para aqueles que terminam o curso. Isso é o que chamamos de capitalismo.

MAB: Petras, muito obrigada por tudo isto. Até segunda-feira.

JP: Até segunda-feira. Um abraço.

(*) O sociólogo estadunidense, professor James Petras, analisa semanalmente a realidade internacional em exclusiva em espanhol pela CX36 Radio Centenario. Você pode escutar esta análise ao vivo, às segundas-feiras, às 11:00 horas (local) pelo 1250 AM do Dial uruguaio e pelo www.radio36.com.uy, já que a emissora é transmitida 24 horas online.

Fonte: http://www.radio36.com.uy/entrevistas/2018/08/28/petras.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)