Fascismo e anticomunismo*

imagemAlbano Nunes

Tal como na década de 30 do século passado, a crise geral do capitalismo traz consigo a emergência do fascismo. E tal como então a grande burguesia e o imperialismo apadrinham-no e promovem-no, como têm feito tão frequentemente em países de todos os continentes, da Ucrânia ao Brasil. O capitalismo na sua fase monopolista é inconciliável com a democracia, mesmo com a mais esvaziada das democracias burguesas.

O fascismo é uma criação do capitalismo para intensificar a exploração e salvar o sistema. É a expressão mais terrorista do poder monopolista. O que está a suceder é precisamente aquilo para que o PCP vem de há muito alertando: os sectores mais reaccionários e agressivos da classe dominante jogam cada vez mais no fascismo e na guerra como «saída» para o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo. Essa a principal razão para que, com expressões muito diversas, o fascismo esteja a espreitar e a espalhar-se no mundo, da Ucrânia ao Brasil, dos EUA a Israel, de países da União Europeia às mais diversas ditaduras impostas a ferro e fogo pelo imperialismo. É cada vez mais evidente que o fascismo conta com fortíssimas cumplicidades a nível do Estado, onde aliás, como acontece com a administração Trump, já têm inquietante expressão. E o seu crescimento seria impossível sem um tratamento mediático esquizofrénico que tanto esconde como exagera graves manifestações de natureza reaccionária e fascizante, num comportamento ideológico que tende a banalizar o fenómeno em lugar de o combater. A verdade é que a extrema-direita e forças fascistas ocupam já fortes posições em Parlamentos e em governos de vários países da Europa.

A luta contra o fascismo será inconsequente se não identificar o caldo de cultura que o alimenta: as profundas injustiças e desigualdades geradas pelo capitalismo, uma situação social em que a polarização da riqueza atingiu um nível sem precedentes, em que o desemprego, a precariedade e o trabalho sem direitos se generalizam e os salários estagnaram ou retrocederam para níveis anteriores a 2007/2008. Uma situação em que as dificuldades e contradições do sistema de representação liberal burguês favorece a demagogia e uma radicalização de extrema-direita dita «anti-sistema», e em que – como na União Europeia – as ingerências e imposições que espezinham as soberanias nacionais, são exploradas para fomentar o nacionalismo, alimento fundamental do racismo e do fascismo. É realmente verdade que o neoliberalismo, cuja natureza exploradora e predadora não cessa de se acentuar, tem o fascismo inscrito nos seus genes. A sua primeira «experiência» foi no Chile de Pinochet e não faltam estudos bem documentados a demonstrar (vide Avelãs Nunes) que neoliberalismo e democracia (mesmo liberal) são incompatíveis.

O fascismo não é uma fatalidade. Mas é um perigo real que é necessário combater com a maior energia. Um combate em que, como sempre, o PCP está na primeira linha, coerente com a sua longa história de luta pela Liberdade e pela construção da unidade antifascista. Essa a razão por que, a pretexto do voto de princípio dos deputados do PCP no Parlamento Europeu em relação à aplicação do artigo 7.º do Tratado da UE à Hungria, alguns comentadores encartados (vide Público,16.09.18) não hesitam em vomitar o seu ódio, não contra o fascismo mas contra o PCP. Não estamos surpreendidos. Como não nos surpreende o escandaloso tratamento pela comunicação social dominante da nossa ímpar Festa do Avante!. Reacção, fascismo e anticomunismo sempre andaram de mãos dadas. É necessário não o esquecer.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2339, 27.09.2018

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