A “uberização” e o papel dos sindicatos

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O Jornal L’Humanité, do Partido Comunista Francês, em sua edição de 21 de março, traz uma importante reflexão sobre o fenômeno da “Uberização”. A matéria, assinada por Pierric Marissal, identifica que, na Europa, os “precários digitais” são cada vez mais numerosos. Para o articulista, esses trabalhadores precisam das organizações de trabalhadores com empregos formais para que conquistem seus direitos. Essas organizações estão saindo às ruas para conhecê-los e vêm lutando para que os modelos de proteção social franceses sejam preservados para esse contingente.

Os trabalhadores estão usando cada vez mais as plataformas digitais, de forma independente, sem vínculos empregatícios formais, em busca de seu sustento. São os que andam de bicicleta para entregar refeições, os que dirigem ou alugam seus carros para transportar passageiros usando plataformas como o Uber, são funcionários de manutenção, cuidadores, tradutores, trabalhadores pagos pagos por tarefa, em geral, mesmo que sejam microtarefas. A “uberização” é uma tendência geral, fruto do padrão atual do desenvolvimento do capitalismo, que tende a reduzir o número de empregos formais na indústria e no campo, e apoia-se nas políticas de governos liberais que desregulamentam as relações trabalhistas para favorecer os capitalistas.

Em 2018 esses trabalhadores eram cerca de 22 milhões, de acordo com a Confederação Europeia de Sindicatos (CES). Muitas vezes, esses profissionais têm, como único interlocutor, uma máquina ou uma tela e raramente encontram ou conhecem colegas. No entanto, a maioria dos sindicatos vem aceitando os autônomos e se adaptando às suas necessidades da melhor maneira possível.

Diante das plataformas digitais e do isolamento das novas formas de emprego, as centrais sindicais entendem que se trata de um fenômeno global. Elas estão vendo autônomos como os demais trabalhadores, que precisam ser protegidos, mas que também devem contribuir para a salvaguarda dos modelos de proteção social de seus países. Essas centrais enfrentam novos desafios, como o de iniciar o relacionamento com esses trabalhadores, responder às suas demandas e, especialmente, reuni-los para criar um equilíbrio de poder, sem o qual nenhum diálogo social, nenhuma luta coletiva é possível.

“A negociação coletiva é a melhor maneira de os trabalhadores obterem melhores condições, deve ser estendida aos autônomos”, afirma Thiébaut Weber, Secretário da Confederação.

No Brasil, onde os direitos trabalhistas sociais são ainda mais restritos do que na Europa, é preciso que, somando-se às entidades sindicais, outras organizações políticas e sociais trabalhem em conjunto para a melhor organização desse contingente de trabalhadores precarizados na luta por direitos trabalhistas, contra o desmonte da previdência e outros direitos sociais e em lutas gerais capazes de unificar o conjunto da classe trabalhadora no enfrentamento ao capital, aos seus donos e àqueles que, submissos aos capitalistas, promovem os ataques à legislação social voltada a promover a garantia de direitos e a proteção ao trabalho.

Fonte: https://www.humanite.fr/uberisation-des-syndicats-au-devant-des-travailleurs-des-plateformes-669624 Foto: Gérard Julien/AFP

Tradução: Secretaria de Relações Internacionais do PCB