A luta feminista classista no continente
34º Encuentro Plurinacional de Mujeres (Argentina): a histórica marcha que reuniu mais de 300 mil!
Que se escuche
en Nuestra América ese grito
Poder para el pueblo, poder feminista
Matria liberada, Matria socialista
Entre os dias 12 e 14 de outubro ocorreu o 34º Encontro Plurinacional de Mulheres da Argentina, em La Plata. O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e a União da Juventude Comunista marcaram presença com a intenção de fortalecer os laços de solidariedade internacional e fazer avançar a luta feminista de classe, popular e revolucionária em nosso continente!
Durante a programação do encontro, mais de uma centena de espaços de discussão (“talleres”) ocorriam simultaneamente, englobando diferentes temáticas que iam desde a descriminalização do aborto até as lutas territoriais dos povos originários. As camaradas Marianna Rodrigues* (Diretora da ANPG na região sul) e Maria Carol** (Diretora de Relações Internacionais da UNE) participaram dos espaços sobre “Luta Anti-imperialista” e “Mulheres e Universidade”, onde puderam demarcar a situação brasileira e expor as atuais medidas em curso da ultradireita entreguista e reacionária que parasita no governo federal. Nesses espaços, para além das argentinas, foi possível também ouvir companheiras da Colômbia, Equador e Venezuela sobre suas respectivas conjunturas e a urgência em consolidar uma agenda latino-americana de resistência em comum.
O primeiro dia se encerrou com uma emocionante marcha para denunciar os assassinatos contra a população travesti e transexual, tão elevados quanto em solo brasileiro. Estivemos ao lado da “Corriente Nacional Lohana Berkins”, ligada ao Partido Comunista da Argentina, que traz em seu nome a história de uma das protagonistas da luta pela Lei Nacional de Identidade de Gênero. Lohana tornou-se uma liderança travesti internacionalmente reconhecida e incansável até o ano de sua morte, em 2016. Sua trajetória foi homenageada pela delegação comunista através de cantos, discursos e faixas.
Ao final da tarde de domingo, realizou-se a grande marcha do encontro. Desde 2016, quando foi palco da primeira paralisação nacional de mulheres da Argentina por “Ni Una Menos”, essas marchas reúnem multidões. No entanto, o 34º Encontro atingiu a histórica marca de mais de 300 mil. Foram milhares de mulheres de todas as idades, sexualidades e expressões de gênero que marcharam lado a lado por toda a cidade de La Plata, durante mais de três horas e entoando as mais diversas canções em defesa da legalização do aborto, pelo Estado laico e pelo fim de todas as opressões. Sem dúvidas, um momento revigorante para a luta feminista na América Latina!
As atividades tiveram fim na segunda-feira, no Estádio Único de La Plata, após o ato de encerramento que definiu a cidade de San Luis como próxima sede. As camaradas presentes na tarefa voltam ao Brasil com uma bagagem extraordinária, tomadas da força da luta feminista e das identidades dissidentes, reforçando a convicção de que é possível e necessário fortalecer o internacionalismo revolucionário!
Construir as frentes democráticas, fortalecer o bloco revolucionário por uma América Latina feminista e socialista!
De fato, a diversidade e a quantidade de militantes presentes no 34º Encontro foi animadora. Ainda assim, é necessário que façamos uma avaliação mais profunda sobre as perspectivas estratégicas apresentadas pelos movimentos de mulheres e feminista na Argentina.
Já neste ano, em decorrência da votação que tramitou no Congresso argentino sobre a legalização do aborto, o país polarizou-se. No interior do bloco dos favoráveis ao aborto legal e seguro, houve uma coalizão entre os setores que variam desde moderados da direita até às organizações socialistas, anarquistas e social-democratas. Mesmo derrotadas, as mobilizações não tiveram fim, e o movimento de mulheres continuou tomando conta das ruas de todas as províncias do país. A indignação pela não aprovação, certamente, é uma das razões pela massiva participação no Encontro.
Não obstante, estamos às vésperas de se encerrar o primeiro turno das eleições presidenciais e gerais, marcadas pela ampla maioria de votos da chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner durante as prévias. O atual governo de Macri, responsável pela implementação acelerada da agenda neoliberal na Argentina e conseguinte aumento drástico da desigualdade no país, pode sofrer uma derrota contundente. A “Frente de Todos”, encabeçada por Fernández, é a única que detém possibilidades reais de vencê-lo. Durante o Encontro, havia uma presença muito ampla das organizações que a integram.
Desse modo, em meio à programação, os debates em torno de qual deve ser o projeto de país para as mulheres estavam muito intensos, afinal, as campanhas estavam a pleno vapor. As diferenças entre as organizações ficavam mais salientes nas discussões acerca da separação entre Estado e Igreja, descriminalização das drogas, plurinacionalismo e reconhecimento da diversidade sexual e de gênero. Em geral, contudo, a oposição ao governo de Macri era a grande palavra de ordem.
Por parte das e dos comunistas, cabe-nos saudar a iniciativa de construir uma grande frente de resistência à agenda neoliberal! Ao mesmo tempo, um alerta é necessário: o ciclo das medidas social-democráticas na América Latina vive um tremendo contrafluxo. Diante deste cenário, apesar da convicção que mantemos em construir uma grande frente democrática e anti-imperialista para o continente, a saída para uma transformação radical exige-nos com urgência a articulação de um bloco revolucionário do proletariado, do qual façam parte as mulheres que constroem um feminismo popular e classista! Para tanto, essa articulação perpassa uma análise profundamente crítica acerca das lutas que restringem o movimento à atuação por meio de políticas governamentais ou legais. Sabemos da necessidade de medidas urgentes para estancar os feminicídios e garantir a proteção de todas, mas precisamos ousar, ir além e, portanto, entendemos que a estratégia socialista é a única alternativa real para as mulheres da América Latina.
Alerta! Alerta! Alerta que camina
la lucha feminista por América Latina!
Lutar, criar,
poder popular!
*Marianna Rodrigues é integrante da Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, militante e secretária de juventude do PCB no Rio Grande do Sul.
**Maria Carol é integrante da Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista, militante do PCB no Rio de Janeiro.