As contradições sociais na tragédia do capitalismo
Em meio à terrível pandemia que assola o mundo, nas quais milhares de pessoas já perderam a vida, a dramaticidade das contradições sociais do sistema capitalista coloca ainda mais pessoas em risco de morte.
Por Giovanni Frizzo
As orientações de prevenção e contenção da disseminação do COVID-19 (Corona Vírus) são explícitas: confinamento em casa evitando contato com outras pessoas e lavar as mãos com água e álcool gel. Porém, as perguntas que devemos fazer são: quais as pessoas que podem escolher ficar em casa protegidas da pandemia? Quais as pessoas que têm acesso à água potável e recursos para comprar álcool gel com o aumento gigantesco do preço desta mercadoria?
Desde o aprofundamento da crise do capitalismo no Brasil, a partir de 2013, a retirada de direitos sociais tem sido a principal arma dos governos contra o povo trabalhador para manter os ricos cada vez mais ricos (até porque são estes que financiam os governos e que os mantêm ou os descartam no poder). Esses direitos retirados são exatamente aqueles que poderiam garantir condições dignas de vida da grande massa da população brasileira. Há muito tempo que estamos anunciando a precarização da vida de muitos para a lucratividade de poucos. E, neste momento, tal situação se torna questão de vida ou morte para trabalhadores e trabalhadoras.
Trabalhadores e trabalhadoras sem carteira assinada, vínculo formal de emprego, desassistido pela previdência social, enfim, sem direitos, não tem opção de ficar em casa confinado: ou trabalha ou morre de fome. Muitas vezes chamados de empreendedores, quem trabalha na informalidade, como pessoa jurídica, autônomos, prestadores de serviço mesmo que vinculados à empresas, não tem garantias nenhuma de direitos, inclusive se forem acometidos pelo adoecimento. Como estes ficam em confinamento ou quarentena sem ter fonte de renda para sobreviver? Imagina dizer a um Uber para ficar em casa?
E aquelas pessoas que passaram suas férias de verão na Europa, retornaram ao Brasil e foram diagnosticados com a doença. Não precisam sair de casa e continuam ganhando dinheiro porque outros trabalham para eles em suas empresas, estão em quarentena. Precisam ficar longe de tudo e de todos. Ótimo! Mas a empregada doméstica, a cozinheira, a babá dos cachorros, o entregador de comida e a personal trainner tem que estar à disposição deles. Pouco importa se estes adoecerão, afinal de contas, poderão ser substituídos por outros. Trabalhadores e trabalhadoras adoecem e morrem praticamente todos os dias por conta da desgraça do trabalho que estão submetidos.
E como será o confinamento das milhares de pessoas que vivem em situação de rua, não tem moradia para se isolar? Mais do que nunca, a contradição do capitalismo está posta: por que tanta gente sem casa e tanta casa sem gente?
O caos do capitalismo é que os governos subservientes aos interesses dos ricos, como é o caso do Brasil, minimizam os sérios problemas sociais que a pandemia já está causando pelo mundo. É gigantesca a irresponsabilidade do governo Bolsonaro em não adotar medidas de prevenção sérias e, ainda por cima, disseminar mentiras sobre a pandemia afirmando que é só histeria.
É também irresponsável e desumano o que alguns empresários estão fazendo neste momento: ao invés de dispensar o ponto no local de trabalho, estão dando férias, criando programas de demissão voluntária ou demitindo seus funcionários.
Talvez o maior grupo de risco de infecção e contágio do Corona Vírus são os trabalhadores e as trabalhadoras sem direitos, sem carteira assinada, os chamados empreendedores, estes que não tem escolha de ficarem em casa ou de serem atendidos resguardados pelos direitos de licença saúde.
É hora de solidariedade da classe trabalhadora para enfrentar a pandemia e lutar para que o povo trabalhador tenha direitos e condições dignas de vida, especialmente nestes dias em que suas vidas estão ameaçadas. O capitalismo quer nos matar e os governos capachos dos ricos é que atiram contra o povo!
*Giovanni Frizzo é Professor da UFPel e membro do PCB